A matéria escura não morreu

Pode ser muito fácil tomar estudos científicos promovidos com exagero como fatos, especialmente quando eles envolvem as ideias mais esotéricas imagináveis. Mas cientistas estão particularmente discordando de um novo estudo com bastante hype que afirma conseguir eliminar a necessidade de matéria escura ou energia escura em nosso universo. Observações feitas de nosso universo indicam que […]

Pode ser muito fácil tomar estudos científicos promovidos com exagero como fatos, especialmente quando eles envolvem as ideias mais esotéricas imagináveis. Mas cientistas estão particularmente discordando de um novo estudo com bastante hype que afirma conseguir eliminar a necessidade de matéria escura ou energia escura em nosso universo.

Observações feitas de nosso universo indicam que algo em torno de 95% dele é composto de coisas misteriosas. A matemática diz que isso poderia ser explicado por uma massa invisível chamada matéria escura e por uma energia fazendo com que a expansão do universo se acelere chamada de energia escura. Aqui na Terra, ninguém detectou diretamente do que seriam feitas a matéria escura e a energia escura, o que causa alguma preocupação. Isso inclui um novo e amplamente compartilhado estudo que propõe uma ideia alternativa. O estudo diz que um dos problemas resolvidos pela presença de matéria escura e energia escura — a diferença entre como uma galáxia deveria rotacionar de acordo com as leis da física e como as galáxias de fato rotacionam de acordo com nossas observações — poderia, em vez disso, ser resolvido ao se ajustar as contas matemáticas que os cientistas desenvolveram para explicar o comportamento do espaço e do tempo. Muitos cientistas acreditam que essa ideia falha não merecia a atenção.

hype do estudo provavelmente vem de como a internet dissemina notícias científicas. O burburinho começou com um comunicado de imprensa acrítico da Universidade de Genebra sobre uma pesquisa de seu cientistas André Maeder. Talvez, propõe Maeder, um dos grandes princípios da teoria da relatividade geral de Albert Einstein esteja errado sob certas condições — em grandes vazios, onde não existe nenhuma massa. Talvez, propõe o cientista, reconsiderar a matemática que governa o próprio tecido do formato do espaço vá eliminar a necessidade de matéria escura e energia escura.

Eliminar os tópicos mais importantes da física com algumas contas matemáticas parece incrível, então alguns meios de comunicação, mais notavelmente o Newsweek, além dos suspeitos de sempre Daily Mail IFLScience publicaram a história sem procurar fontes externas.

Se tivessem feito isso, provavelmente teriam descoberto que muitos físicos não veem consistência na ideia de Maeder. Vários, incluindo o físico de energia escura Andrei Linde, da Universidade Stanford, e Priyamvada Natarajan, física de matéria escura da Yale, contaram ao Gizmodo que não valia a pena nem mesmo escrever sobre (apesar do fato de que tenha ido parar no relativamente prestigiado Astrophysical Journal).

Mais notavelmente, a blogueira de ciência e física teórica Sabiene Hossenfelder esmiuçou o estudo em seu blog, o Backreactions. “Para aqueles de vocês que simplesmente querem saber se deveriam ou não prestar atenção a essa nova variante de gravidade modificada, a resposta é não”, escreveu. “O autor não tem uma teoria consistente. As contas estão erradas.”

Anže Slosar, do Brookhaven National Lab, confirmou o post de Hossenfelder. Em sua forma mais simples, ele contou ao Gizmodo, “o principal fator que entrega é que o estudo não contém uma ‘Função de Lagrange’. Isso é como um objeto matemático básico que define uma teoria. Nós simplesmente não sabemos como fazer física teórica sem uma Função de Lagrange”. Ele também disse que a ideia não faz previsões testáveis, algo que muitos físicos tratam como exigência. Saiba mais aqui.

Natarajan e o físico Jonathan McDowell, do Centro de Astrofísica de Harvard-Smithsonian, apontam que Maeder não explica completamente algumas das outras observações astronômicas feitas reforçando a matéria escura, como a matéria escura em cúmulos de galáxias curvando o caminho de raios de luz:

Vale mencionar que Maeder concordou que suas “equações são subdeterminadas” em um email ao Gizmodo em resposta ao post de Hossenfelder. Ele apontou que sentiu que sua interpretação de parte dos princípios básicos da cosmologia revelou novos resultados interessantes.

Reformular a matemática da teoria da relatividade geral de Einstein não é algo muito novo. Vários cientistas já consideraram que, talvez, observamos matéria escura e/ou energia escura porque algo está faltando, em algum lugar. Exceto que, independentemente do que aconteça, provas experimentais continuam confirmando que a teoria da relatividade geral de Einstein é consistente, com os cientistas a questionando ou não.

E por que essa teoria mal desenvolvida ganhou tanto ibope? O estudo, junto com sua manchete chamativa, foi promovido para um público grande por meio do agregador de comunicados de imprensa Phys.org (que, às vezes, escreve posts originais). Moinhos de conteúdo pegaram a história sem checar se ela valia a pena ser escrita ou não e escreveram de qualquer forma.

É importante desafiar o status quo científico, é claro. Entretanto, avanço científico exige evidência, teorias matemáticas robustas e uma coesividade que cientistas acreditam faltar à teoria de Maeder.

Então, por enquanto, matéria escura e energia escura seguem vivas e bem. O que significa dizer que ainda não sabemos o que são, mas são mistérios que físicos estão trabalhando para resolver.

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