_Ciência

Cientistas estão criando abelhas-drones para combater nossa crise de polinização

Equipe japonesa conseguir fazer com que os robôs polinizassem algumas flores, mas precisarão diminuir custos se quiserem tornar alternativa factível

As abelhas estão morrendo no mundo todo a uma taxa alarmante. Conforme continuamos a lidar com os problemas de nosso futuro distópico, provavelmente é uma boa hora para sonharmos com algumas soluções tiradas de ideias da série Black Mirror: drones polinizadores.

• Até o criador de Black Mirror achou essa notícia muito Black Mirror
• Supercomputadores da NASA mostram o tanto de turbulência que um drone causa

Dependemos bastante das abelhas e de outras espécies para polinizar nossas plantas, e, embora não haja dados globais, houve mortes locais suficientes para espalhar uma preocupação generalizada, de acordo com um relatório da Plataforma de Ciência e Política Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços de Ecossistema. Agora, uma equipe de cientistas do Instituto Nacional de Ciência Industrial e Tecnologia Avançadas (AIST, na sigla em inglês), no Japão, criou drones com um adesivo especialmente projetado para pegar e depositar pólen.

A equipe não quer substituir os polinizadores naturais, mas, sim, lhes dar assistência nos seus esforços de polinização. Eles acham que, no futuro, quando as populações de abelhas estiverem menores, drones como esses podem conseguir aliviar o estresse de ter que fazer toda a polinização.

“Programas de TV sobre a crise de polinização, o declínio nas abelhas-de-mel e os últimos lançamentos robóticos” – parece que o Black Mirror não estava na lista – “me motivaram emocionalmente”, disse Eijiro Miyako, químico do AIST, ao Gizmodo. “Achei que precisávamos urgentemente criar algo para esses problemas.”

O drone de Miyako começou com uma garrafa de gel pegajoso de dez anos de idade, de um antigo experimento, que ele encontrou enquanto limpava seu laboratório. O tal gel líquido iônico é composto por uma coleção de moléculas complexas unidas em longas cadeias e tem viscosidade ótima para pegar grãos de pólen. O grupo executou uma série de testes com o gel, esfregando-o em formigas e moscas e fazendo os insetos passearem entre as flores. Cada inseto acabou coberto de grãos de pólen.

Então, o grupo preparou um drone G-Force PXY Cam, de 5 centímetros, controlado à distância, colando pelo animal na parte de baixo do objeto e cobrindo os pelos com sua “gosma”. O drone conseguiu, efetivamente, pegar e depositar grãos de pólen ao “bater” nas flores, disse Miyako. A equipe publicou seus resultados nesta quinta-feira (9), no periódico Chem.

Os polinizadores não estão exatamente preparados para nosso futuro distópico — eles ainda são muito difíceis de se controlar, afirmou Miyako. Além disso, a equipe usou controles remotos e apenas testaram o drone em um tipo de flor — não é como se o drone tivesse entrado nela, como seria necessária para polinizar certas plantações. Perguntei a Miyako se ele estava preocupado se os drones poderiam machucar outros animais ou abelhas. Ele não estava. “Acho que eles estarão familiarizados com nossos drones robóticos em breve”, disse.

Um pesquisador de abelhas com quem conversei estava animado com o trabalho de Miyako. “É um ótimo estudo”, disse Noah Wilson-Rich, fundador e chefe do departamento de ciência da Best Bees Company, ao Gizmodo. Sua firma, que oferece a empresas colmeias e dados sobre os melhores habitats para abelhas, gosta de abordagens interdisciplinares. Biólogos estudam as abelhas e seu comportamento, físicos e engenheiros, os drones, e “agora você tem químicos para tornar tudo ainda melhor”, disse. “É um problema global. Todos comem comida, e abelha são como comida neste momento.”

Wilson destacou que o estudo especificamente se refere à popular abelha-de-mel, mas essa é apenas uma de 200 mil espécies de polinizadores. Entretanto, ele gostou que Miyako tenha trabalhado com espécies que não são abelhas também, como formigas e moscas, para enfatizar que as abelhas não são as únicas dando suporte a nosso sistema de alimentos.

Mas outros não veem os drones robôs como uma solução realista para o problema de polinização da humanidade. O biólogo David Goulson, da Universidade de Sussex, no Reino Unido, me direcionou a seu blog, em que escreveu, na terça-feira, que deveríamos “cuidar das abelhas, não planejar para sua morte”.

Eu argumentaria que é extremamente improvável que possamos algum dia produzir algo barato e eficaz como as abelhas em si. As abelhas estão por aí, polinizando flores, há mais de 120 milhões de anos; evoluíram e se tornaram muito boas nisso. É um excesso de confiança notável que pensemos poder melhorar isso. Considere os números: há aproximadamente 80 milhões de colmeias de abelhas-de-mel no mundo, cada uma contendo talvez 40 mil abelhas durante a primavera e o verão. Isso dá mais de 3,2 trilhões de abelhas. Elas se alimentm de graça, procriam de graça e até nos dão o mel de bônus. Qual seria o custo de substitui-las por robôs?

Se os conservacionistas usassem os mesmos drones que Miyako, o custo seria de US$ 100 por abelha, o que significaria um monte de dinheiro para substituir apenas uma colmeia. Miyako afirmou que a diminuição do custo é algo muito importante para ele.

Independentemente disso, sabemos que temos um problema de polinização, e, de acordo com um relatório preparado pela União Internacional para a Conservação da Natureza, dependemos desses pequenos insetos para polinizar 70% de nossas plantações. Os drones sendo parte ou não da solução, sabemos que a humanidade precisa fazer algo, afinal de contas, as abelhas estão morrendo a taxas alarmantes no mundo todo.

[Chem]

Sair da versão mobile