Garota com doença terminal ganha batalha para ter o corpo preservado criogenicamente

Uma adolescente de 14 anos ganhou na justiça o direito de ter seu desejo final atendido, e ela vai ser criopreservada com a esperança de voltar a viver no futuro.

Uma garota de 14 anos com uma doença terminal conseguiu fazer seu desejo final se tornar realidade após a suprema corte do Reino Unido aprovar um pedido de preservação em instalações criogênicas nos EUA. É o primeiro caso do tipo, abrindo um precedente importante para o futuro.

A corte determinou que a mãe da criança, que apoia os desejos da filha, deve ser a pessoa a tomar a decisão sobre o destino final do corpo da adolescente. Os pais divorciados da criança disputaram para ver se os restos dela deveriam ser criopreservados no Cryonics Institute perto de Detroit, nos EUA. O pai da garota inicialmente se opôs aos desejos dela, mas acabou cedendo, dizendo à corte: “Eu respeito as decisões que minha filha está tomando. Essa é a última e única coisa que ela pediu para mim.”

A garota, conhecida apenas como JS, morreu no dia 17 de outubro, e agora é a 143ª paciente do Cryonics Institute. Detalhes do caso só foram liberados após a morte dela para protegê-la enquanto ainda lutava contra a doença.

JS viveu com a mãe durante a maior parte da vida, e não viu seu pai durante os oito anos finais de vida. Ela até resistiu às tentativas do pai de se aproximar depois de descobrir a doença no ano passado. Como menor de idade, JS não podia criar um testamento legal expressando seu desejo de ser congelada criogenicamente. Considerando a recusa inicial do pai dela de concordar com isso, o único caminho possível para a garota foi uma ação legal. A adolescente, que estava doente demais para comparecer aos procedimentos, enviou essa apelo apaixonado ao tribunal:

Me pediram para explicar porque quero que essa coisa incomum seja feita. Tenho apenas 14 anos de idade e não quero morrer, mas sei que vou. Acredito que ser criopreservada me dá a chance de ser curada e acordar, mesmo dentro de centenas de anos. Não quero ser enterrada. Quero viver e viver bastante, e acho que no futuro pode ser que encontrem uma cura para o meu câncer e me acordem. Quero ter essa chance. Esse é o meu desejo.

A ciência avançou mais do que as leis

O juiz do caso, Peter Jackson, visitou JS no hospital, dizendo depois que ele “se comoveu com o modo valente com o qual ela estava enfrentando sua situação.” Descrevendo o caso como “excepcional”, o juiz disse que foi o primeiro caso do tipo a ser levado às cortes do Reino Unido, e, como seria em qualquer parte do mundo, é “um exemplo de novas questões que a ciência levanta para a lei, talvez para as leis familiares, acima de tudo.” Ele também disse que “nenhum outro pai já foi colocado na mesma posição” do pai de JS.

A criônica é uma prática controversa de preservação de uma pessoa recém-morta em um tanque de nitrogênio líquido na esperança de que ela seja “reanimada” no futuro. Não há prova alguma de que isso funciona, mas defensores dizem que a criônica oferece uma chance “que não é zero” do retorno da morte, mesmo que as possibilidades de funcionar sejam mínimas. Ao explicar a sua decisão, Jackson destacou a forma como a criopreservação está se tornando um processo estabelecido em certas áreas da medicina, incluindo a preservação de sêmen e embriões. “Criônica,” disse Jackson, “é a criopreservação levada ao extremo.”

A família da garota não está muito bem financeiramente, mas os avós dela ajudaram a juntar os US$ 45.000 necessários para pagar a preservação. Um grupo de entusiastas de criônicas local ajudou a preparar o corpo dela para o transporte até os EUA, enquanto uma equipe hesitante de um hospital também deu sua ajuda. “Essa situação levanta questões sérias legais e éticas para o hospital,” disse o juiz, “que precisa agir dentro da lei e tem obrigações com os outros pacientes e funcionários.” O hospital deixou claro que as ações não são um endosso à criônica, e que sua equipe sentiu um profundo desconforto com o processo.

Como o juiz destacou corretamente, esse é um caso em que a ciência e a tecnologia, junto com mudanças sócio-culturais relacionadas à morte, estão à frente da lei e do sistema de saúde. Mas é a partir desses casos, e dos precedentes abertos por ele, que a prática de criônica, ou qualquer prática futurista que vier, se torna normal.

Dito isso, é importante ressaltar que esse caso não concedeu à garota o “direito” de ser criopreservada. O caso também não é sobre a ciência, ética ou eficácia da prática. O que a corte fez foi determinar que a mãe era a melhor pessoa para agir de acordo com os interesses da menina, que neste caso era ser criopreservada. O importante é que esse caso mostra que o desejo de ser preservada criogenicamente não é tão radical a ponto de mudar a decisão de um juiz sobre a guarda de uma criança.

Como consideração final, o juiz disse que a garota morreu em paz sabendo que seu corpo seria criopreservado.

[Guardian]

Foto: Cryonics Institute

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