O projeto do mosquito “Aedes do Bem” transgênico está se expandindo

Ativistas ambientais entraram com representação no Ministério Público Estadual de São Paulo questionando o projeto, mas ele será expandido em breve.

No ano passado, um bairro de Piracicaba (SP) começou a testar uma nova arma contra a dengue: mosquitos Aedes aegypti geneticamente modificados. Ativistas ambientais entraram com representação no Ministério Público Estadual de São Paulo questionando o projeto – mas ele será expandido em breve.

De acordo com o Estadão, o MPE não vai se opor à expansão do projeto para a região central de Piracicaba. A promotoria acredita que a ameaça do vírus zika – especialmente para as mulheres grávidas – é mais um motivo para validar a eliminação do mosquito.

O “Aedes do Bem” ainda aguarda parecer da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), mas já foi liberado pela CNTBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança). A OMS (Organização Mundial da Saúde) defende o uso de métodos inovadores no combate ao vírus zika, como a liberação controlada de Aedes aegypti transgênicos.

E a prefeitura de Piracicaba já assinou um protocolo de intenções com a britânica Oxitec, obrigando a empresa a instalar uma biofábrica do mosquito na cidade – por enquanto, eles vêm de Campinas.

Como funciona

A Oxitec cria pupas do Aedes aegypti em laboratório, e separa machos e fêmeas em função de seu tamanho. As fêmeas são descartadas, e os machos são criados até a fase adulta.

A cada semana, são espalhados 800 mil machos do “Aedes do Bem” no bairro Cecap-Eldorado, onde se concentravam os casos de dengue em Piracicaba.

Uma fêmea cruza com um dos mosquitos transgênicos, e os genes do macho impedem que as larvas geradas se desenvolvam até a fase adulta. Os machos não transmitem doenças porque só a fêmea do Aedes aegypti pica.

Em dezembro, a taxa média de larvas não-viáveis – que não viram adultos – chegou a 70% em Piracicaba. Ou seja, de cada cem larvas, setenta morriam antes de poder transmitir doenças. É possível saber quais larvas têm os genes do macho transgênico porque elas ficam vermelhas quando expostas à luz ultravioleta.

E isso trouxe resultados perceptíveis: o bairro Cecap/Eldorado teve 133 casos de dengue na temporada 2014/15; e houve apenas um caso na temporada 2015/16. Agora é a vez do centro de Piracicaba.

A primeira cidade brasileira a testar o Aedes transgênico foi Juazeiro (BA). Após seis meses, a população dos insetos foi reduzida em mais de 90%, tornando impossível surgir novas epidemias da dengue.

Alternativas e cuidados

Existem métodos para tentar combater o Aedes aegypti sem transgenia. Por exemplo, a Fundação Oswaldo Cruz está inoculando mosquitos com a bactéria Wolbachia, cuja presença no organismo previne a replicação do vírus, bloqueando a transmissão de doenças tropicais. O impacto desse método levará de 3 a 5 anos para ser avaliado.

Essas alternativas são importantes, pois é preciso tomar muito cuidado na hora de liberar insetos transgênicos. Os mosquitos podem se multiplicar em locais distantes, sem serem afetados pela modificação genética; e existe o risco de futuras gerações sobreviverem, causando epidemias ainda mais graves.

No entanto, o FDA (órgão americano semelhante à Anvisa) liberou este mês o mosquito transgênico da Oxitec na Flórida, dizendo que isso não trará impacto significativo ao meio ambiente.

[Estadão]

Foto por Felipe Dana/AP

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