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WWDC: Apple se mostra mais aberta, inclusive para pegar recursos da concorrência

Durante a WWDC, a Apple se mostrou mais humilde ao abrir APIs para desenvolvedores, e pegou emprestado vários recursos de concorrentes.

A conferência WWDC (Worldwide Developers Conference), da Apple, mostra o que a empresa vislumbra para o futuro de suas plataformas. Na edição deste ano, ela sinalizou que está mais aberta aos desenvolvedores – e que continua acompanhando bem de perto o que concorrentes fazem.

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Vamos começar pela abertura da API de pelo menos quatro grandes ferramentas da empresa: Siri, iMessage, Mapas e Telefone. Isso mostra que a empresa parece ter enfim sentido a importância de permitir que desenvolvedores conectem seus apps com esses serviços; e que, sozinha, ela não é suficiente para atender às necessidades dos usuários.

O hardware e software da Apple são bons, mas sem integração com outros apps, a empresa não tem chance no futuro. Um dos exemplos é a integração com o Uber: na atualização para o iOS 10, o usuário conseguirá pedir um carro pelo iPhone via Siri, ou solicitar um veículo ao consultar o app Mapas. Outros apps – como WhatsApp, Slack, Skype, Pinterest e RunKeeper – já estão prontos para aproveitar as novas APIs.

Na keynote, Craig Federighi, vice-presidente de engenharia de software da Apple, mostrou o que acontecerá no iPhone quando alguém fizer uma chamada de voz via WhatsApp: com a liberação da API, ela aparecerá como uma ligação VoiP, inclusive com a interface de telefone da Apple.

A Apple sempre valorizou seus desenvolvedores – a conferência WWDC já existe há quase 30 anos – mas agora, a empresa está oferecendo mais condições para que eles integrem seus aplicativos ao ecossistema da empresa.

Muitos recursos que você já viu em algum lugar

Analisando algumas das novidades apresentadas pela Apple durante a WWDC, a empresa também deixou claro que está olhando de perto para o que os concorrentes estão fazendo. As inspirações? Bem, dentre as principais funcionalidades, tem coisas do Google, da Microsoft e do Spotify.

O serviço de streaming da empresa, o Apple Music, por exemplo, ganhou pelo menos uma lógica que parece ter sido claramente inspirada no Spotify, seu maior competidor (pelo menos pelo número de assinantes pagos). No item biblioteca, você vê os itens playlists, artistas, álbuns, músicas e músicas baixadas; logo abaixo, recentemente adicionados. No Spotify, é quase a mesma coisa:

A Siri no Mac era um movimento natural de a empresa fazer; a Microsoft integrou antes sua assistente ao Windows 10. Pesa em favor da Apple os recursos de continuidade. Algo na área de transferência em um iPhone pode ser facilmente colado em um computador Mac ou mesmo no iPad. Isso é bacana, e é algo que vimos no Scribe, Pastebot e no Pushbullet (entre Android e Windows).

É impossível ver a ferramenta de Mapas e não se lembrar do Google Maps. Ao buscar por um destino, ele, por exemplo, já dará o preço da carona no Uber; no caso de restaurantes, ele dará a opção de fazer reserva pelo OpenTable — essas duas funcionalidades estão disponíveis na plataforma do Google desde 2014 nos EUA. Ao seguir um itinerário de carro, você terá acesso a busca com estabelecimentos no caminho, como postos de gasolina ou mercados; esse recurso foi liberado recentemente no Brasil pelo Google.

O aplicativo de Fotos no iOS 10 ficou bem mais esperto com elementos de deep learning. Ele consegue organizar as imagens pelos locais onde foram captadas (ele organiza em um mapa as coleções), detecta rostos e consegue reunir fotos pelo contexto. Por exemplo, os arquivos de uma viagem ao exterior serão reunidos automaticamente e poderão compor um vídeo animado, com direito até a trilha sonora. Com exceção da música, é um conceito muito parecido com o Google Fotos, lançado durante conferência do Google em 2015. A Apple, no entanto, diz que as informações são processadas localmente, não em servidores.

Para facilitar a visualização de notificações, ao pegar o smartphone, o novo sistema dará uma geral nas notificações e atualizações — como ocorre com alguns smartphones Moto, que já exibem informações simples apenas ao tocar na tela. A diferença da Apple é em usar o 3D Touch.

Outro ponto ressaltado pela Apple foi a reformulação do aplicativo Mensagens. Muitas das características lembram bastante as presentes no app de mensagem Google Allo, durante o Google I/O. Em comum, eles têm respostas inteligentes baseadas no contexto, sugestão de emojis (ao escrever amor, o corretor mostrará o ícone de coração) e a possibilidade de fazer operações com apps de terceiros dentro do app — ao citar um restaurante, será possível ter acesso a um link que o permitirá fazer uma reserva.

Aliás, o acesso a API tornará a tarefa de enviar mensagens no iOS algo parecido com o que já acontece no Facebook Messenger: desenvolvedores poderão fazer stickers para enviar aos amigos.

Esses recursos parecidos fazem diferença?

Não é a primeira vez que a empresa apresenta incrementos em recursos já lançados por concorrentes. Na WWDC do ano passado, a lista de “inspirações” era ainda maior – como o modo de tela dividida no iPad, por exemplo, já bem conhecido no Windows e Android. No fim, o usuário acaba ganhando com mais recursos e serviços integrados ao sistema, ainda que algumas “novidades” já estejam nas mãos de usuários da concorrência há mais tempo.

* O jornalista viajou para San Francisco, Califórnia (EUA), a convite da Apple.

Foto por AP Photo/Tony Avelar.

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