Halo 5: Guardians é um bom jogo, mas desperdiça potencial de ser o mais memorável da série

Por Bruno Izidro Sentados em um desfiladeiro em algum planeta alienígena, um Unggoy e um Sangheili conversam. Enquanto um aprecia a bela vista do local, o outro conta suas desventuras como um dos mais icônicos e comuns inimigos da série Halo. A cena acontece de forma discreta, quase que escondida, em um dos raros momentos […]

Por Bruno Izidro

Sentados em um desfiladeiro em algum planeta alienígena, um Unggoy e um Sangheili conversam. Enquanto um aprecia a bela vista do local, o outro conta suas desventuras como um dos mais icônicos e comuns inimigos da série Halo. A cena acontece de forma discreta, quase que escondida, em um dos raros momentos de calmaria de Halo 5: Guardians, que chega nesta terça-feira (27) ao Xbox One.

Essa cena em questão era o momento que mais me vinha a cabeça enquanto pensava no que escrever sobre o jogo. Por mais que ela sirva quase como uma piada, a cena consegue sintetizar de forma simples a trajetória da série. Em seu diálogo solitário, o Unggoy cita o Gravemind dos jogos anteriores; em como ele serviu ao Didact (de Halo 4) e a Jul M’dama (do próprio Halo 5); fala com medo e admiração de um tal “Demônio Verde” que nunca morria, por mais que atirassem nele; e até mesmo faz umas observações que brinca com a evolução dos jogos:

– Você lembra de ser mais roxo? Eu sim! Talvez sejam só os meus olhos ficando mais espertos, mas juro que às vezes tem uma nave inteira diferente e ninguém fala nada!

Porém é mais provável que a cena tenha me marcado pelo fato do resto de jogo não ter oferecido nada tão memorável ou que fugisse do padrão que estamos acostumados com Halo, com uma experiência resumida a tiros, pilotar alguns veículos ou naves de vez em quando e, claro, mais tiros. Verdade seja dita, há poucos meses eu havia revisitado todos os jogos anteriores na coletânea The Master Chief Collection, justamente para me preparar para Halo 5, e, após quatro jogos, talvez a fórmula da série estivesse começando a me enjoar um pouco.

Não que isso seja realmente um problema, afinal o elemento de shooter continua sendo bem feito aqui e claro que o jogo traz sim algumas novidades, mas é difícil não esconder o gostinho de decepção pelo o que Halo 5 poderia trazer sendo o primeiro jogo da série na atual geração, ainda mais por ele possuir aspectos que poderiam deixar a experiência bem mais proveitosa.

Em Halo 5 controlamos não só Master Chief, mas também Spartan Locke (que estrelou a webserie Halo: Nightfall, lançado em 2014). Dois protagonistas com um ponto de vista da história, assim como acontece em Halo 2. Cada um traz consigo um grupo de leais companheiros, também Spartans, uma ideia que já tínhamos visto antes em Halo: Reach. Esses dois elementos separados foram as novidades que deixaram os respectivos jogos mais atraentes e, não à toa, fazem deles os meus preferidos na série, mas quando combinados em Halo 5, não surtiram o mesmo efeito.

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Seja com Spartan Locke e sua Esquadra Osiris ou com Master Chief e a Equipe Azul, a sensação enquanto se joga é que só trocamos de skin. As diferenças entre um grupo e outro até existem, mas são mínimas e não chegam a influenciar tanto a experiência de jogo, o que já deixa tudo um tanto quanto desestimulante.

Fora isso, só há alguma tentativa de desenvolvimento de personagens no lado de Osiris e, mesmo assim, terminamos o jogo sem importar muito com outros integrantes do time. Pelo grupo do Master Chief, então, nem consigo lembrar o nome de todos os membros da Equipe Azul. A exceção fica para Buck, interpretado pelo ator Nathan Fillion, que apareceu antes na expansão Halo 3: ODST.

Isso tira completamente o impacto emocional que poderíamos ter ao realmente nos importarmos com outros membros do grupo, como acontece com o Noble Team de Halo: Reach. O que temos, no entanto, é somente bonecos que atiram de vez em quando nos inimigos.

Ainda nesse aspecto, um detalhe importante a ressaltar é como a dublagem em português contribui para a falta de personalidade dos personagens, principalmente com Locke e Master Chief, que não transmitem nenhuma emoção e parecem estar somente lendo palavras em um papel (o que acredito que tenha sido o caso dos dubladores). Halo 5 é mais um exemplo de dublagem que ficou aquém do esperado na versão brasileira.

Já em termos de jogabilidade, dois times de Spartans como atrações principais tinham um potencial enorme para que Halo 5 trouxesse inovações ao gameplay do jogo. De certa forma isso acontece, e termos outros três personagens muda um pouco o jeito de encararmos os inimigos, mas não chega a impactar tanto. Na prática, temos agora comandos simples para dar ordens limitadas a eles, como focarem os tiros em um inimigo ou irem para um lugar específico do mapa. Além disso, há o recurso de pedir ajuda médica quando se está caído, o faz com que morrer seja mais difícil no jogo.

Isso tudo, claro, falando no modo single player, quando os outros três integrantes do time são controlados por inteligência artificial. A verdadeira experiência parece estar mesmo reservada para o modo co-op, quando os demais membros são controlados por outros jogadores online. Eu digo “parece” porque, infelizmente, não consegui achar outras pessoas para jogar junto, já que só é possível chamar para a partida quem está na sua lista de amigos. Por isso é bom deixar claro que esse meu relato é baseado somente na experiência single player que tive com a campanha de Halo 5.

O traidor não é quem você pensa

Quem acompanhou o marketing em torno de Halo 5 nos últimos meses viu como o jogo parecia ir em uma direção bem mais… digamos, sombria. Master Chief agora era visto como um traidor e era procurado por Spantan Locke pelo universo. Um embate entre Spartans – mesmo que de classes diferente – despertava também um interesse a mais. “Hunt The Truth” (procure a verdade, da tradução livre do inglês) era o slogan do jogo.

Bem, quando essa “verdade” finalmente aparece, ela só deixa a desejar. Não vou entrar aqui em spoilers, mas o motivo pelo qual John 117 é chamado de traidor é bem besta e todo o enredo do jogo fica vez mais desnecessário com outros Covernant, Prometheans, os próprios Guardians que dão título ao game e personagens que não deveriam ter voltado.

master chief traitor

O pior é pensar que toda a mitologia criada para Halo é bastante interessante desde o primeiro jogo, mas enquanto esse universo é mais explorado (literalmente) em livros, séries, animações e quadrinhos, ela é mal desenvolvida nos jogos e com Halo 5, infelizmente, isso não é exceção. Para quem vai entrar na série agora, essa barreira vai prejudicar muitos o impacto das revelações na trama do jogo. Mesmo para quem jogou Halo 4, vir para o novo jogo assim pode se sentir meio perdido.

Por que parece que Master Chief tem uma ligação forte com os integrantes da Equipe Azul sendo que eles nunca foram mencionados antes, por exemplo? Pelo menos a Microsoft promete fazer essas ligações na animação Halo: The Fall of Reach, que vem junto com a versão Digital Deluxe do jogo.

Uma zona divertida de jogar

Desde quando comecei a jogar Halo, o meu interesse sempre foi na campanha solo. Assim como todo FPS, somente dou uma rápida olhada no multiplayer e logo largo de mão. Com Halo 5 pensei que seria a mesma coisa, mas foi justamente onde o jogo mais me prendeu.

Como para essa análise joguei antes do lançamento, os dois modos multiplayer principais, Arena e Zona de Guerra, ainda eram limitados, mas já deu para sentir onde o game pode render muitas horas. Após os problemas que aconteceram com The Master Chief Collection, ainda não é possível ter certeza se os servidores vão estar estáveis e sem lag, mas pelos menos os modos parecem ser bem divertidos.

Enquanto a Zona de Guerra não me atraiu tanto por ter mapas enormes (podendo usar veículos), durarem bem mais tempo e com mais de um objetivo, a Arena e suas partidas mais rápidas, de objetivos simples e mapas menores se encaixou perfeitamente com meu estilo de jogar. Isso não quer dizer que eu saí destruindo todo mundo no multiplayer, mas até me rendeu momentos de conquista como esse:

Daqui a alguns anos, quando eu pensar em Halo 5, é bem provável que a cena do desfiladeiro ainda seja a única lembrança marcante no jogo, mas não significa que o game seja, de maneira alguma, ruim. Principalmente depois do ensosso Halo 4, os elementos que ele traz mostram a tentativa de evolução da série, ainda que não tenham funcionado da melhor maneira. Tecnicamente, ele também justifica ser um dos grandes lançamentos do ano, com um visual digno da atual geração. No final, Halo 5: Guardians ainda consegue ser um título que deve ser jogado no Xbox One.


Halo 5: Guardians chega exclusivamente ao Xbox One nesta terça-feira (27). A cópia do jogo para análise foi cedida pela Microsoft.

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