No futuro, os voos internacionais voltarão a ser divertidos

por Bryan Lufkin Viajar para fora do país é sempre empolgante — exceto pela jornada interminável e angustiante que nos separa de nosso destino. Mas no futuro, as coisas podem ser bem diferentes. Imagine um voo de oito horas que é realmente agradável, com assentos ergonômicos e um sistema de entretenimento sincronizado a seus dispositivos […]

por Bryan Lufkin

Viajar para fora do país é sempre empolgante — exceto pela jornada interminável e angustiante que nos separa de nosso destino. Mas no futuro, as coisas podem ser bem diferentes.

Imagine um voo de oito horas que é realmente agradável, com assentos ergonômicos e um sistema de entretenimento sincronizado a seus dispositivos pessoais. A verificação biométrica te ajudaria a passar mais rápido pela checagem de segurança. Você pousaria em um aeroporto internacional mais parecido com um museu, cheio de robôs e hologramas. Em seguida você entraria em um trem maglev de alta velocidade que te levaria a um hotel administrado por robôs, com seu tradutor de bolso sempre em mãos.

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Esse cenário pode até parecer utópico, mas ele está bem perto de se tornar realidade. Afinal, o número de viagens internacionais só aumenta. De acordo com um estudo de 2014 conduzido pela Oxford Economics, a indústria de viagens irá aumentar 5,4% anualmente durante os próximos dez anos, ultrapassando a taxa de crescimento do PIB global. A Organização de Turismo das Nações Unidas afirma que mais de um bilhão de pessoas viajaram internacionalmente em 2014, e a previsão é que esse número aumente quase 5% esse ano.

Com toda essa gente carimbando seus passaportes, existe um mercado — e uma demanda — por viagens mais confortáveis. Eis o que nos espera:

Aviões ecológicos

Viajar de avião é uma experiência cara e desconfortável, e as mudanças climáticas estão tornando os voos cada vez mais turbulentos. A boa notícia é que existem alguns modelos de aviões desenvolvidos especialmente para solucionar esses problemas.

Em primeiro lugar, as emissões de carbono: no começo de 2015, a Pricewaterhouse Coopers calculou que o tráfego aéreo irá duplicar nos próximos 20 anos, e que para reduzir todos os poluentes que destroem nossa atmosfera, os engenheiros aeronáuticos estão de olho em combustíveis alternativos — mais especificamente num combustível verde e grudento derivado de algas. As algas emitem quase 70% menos dióxido de carbono do que os combustíveis derivados de petróleo.

O combustível já está sendo testado: em 2011, a United Airlines entrou para a história com o primeiro voo de passageiros movido a algas do mundo, fazendo a escala entre Chicago e Houston. Enquanto isso, a startup japonesa Euglena — citada pelo Primeiro-Ministro japonês Shinzo Abe como sua startup “favorita”— planeja comercializar biocombustíveis derivados de algas nos próximo cinco anos.

A reestruturação da estrutura dos aviões pode ajudar a criar naves mais leves, aerodinâmicas e econômicas.

Veja o exemplo desse design criado pela NASA e o MIT em 2012, o “bolha dupla”. Num primeiro olhar, o avião parece um picolé com duas fuselagens. Asas mais curtas, um bico empinado e a redução da velocidade Mach de 0.80 para 0.72 podem reduzir o consumo de combustível em até 70% em comparação com um Boeing 737, de acordo com o MIT e a NASA. Os designers esperam que esse avião chegue aos céus em 2035.

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Outro design conceitual anunciado no começo desse ano possui asas móveis que mudam de posição para economizar combustível. O avião é fruto de uma parceria entre a NASA, o Laboratório de Pesquisas da Força Aérea Americana e a FlexSys Inc., empresa de engenharia de Michigan. O grupo planeja criar aviões que possam ajustar o ângulo de suas asas automaticamente durante o voo, prezando sempre pelo aerodinamismo.

Enquanto isso, nesse vídeo, a Airbus levou a ideia de um avião conceitual ao extremo, propondo assentos feitos de fibra vegetal reciclável que podem ser moldadas de diversas formas e halls de observação envidraçados.

Muitos engenheiros estão se inspirando na biomimética (o estudo das estruturas biológicas) para criar máquinas mais leves, ágeis e eficientes. No começo de 2015, a Airbus apresentou um avião biomimético conceitual cuja estrutura simula a ossada de um pássaro — até o ano 2050, a Airbus planeja lançar um avião cujo esqueleto será oco como os ossos de um pássaro, tornando-o mais leve e econômico.

Evitando a turbulência

No entanto, o futuro não é só um céu azul cheio de aviões-pássaro — não podemos esquecer que o aquecimento global promete acabar com muitos dos nossos planos. Para o terror dos viajantes transatlânticos, é provável que as viagens internacionais fiquem bem mais turbulentas nas próximas décadas. Os cientistas preveem um aumento da turbulência no Oceano Atlântico em decorrência de padrões climáticos anormais.

Em 2013, um estudo da Universidade de Reading, da Inglaterra, revelou que a incidência de turbulência poderá dobrar graças às mudanças climáticas. Um estudo lançado pela Agência de Segurança em Transportes da Austrália em 2014 descreveu um aumento “sem precedentes” na turbulência nos últimos dois anos; a possível causa, no entanto, não foi nomeada.

Embora a turbulência possa te assustar e derrubar seu suco de tomate, ela não é muita perigosa. Mas se você, assim como eu, entra em pânico a cada tremidinha, o futuro parece promissor. O Los Angeles Times noticiou há alguns meses a criação de um software que manda informações climáticas do avião para a central de controle, ajudando assim outros aviões a evitarem áreas de turbulência. Os pilotos costumam passar essas informações depois que o avião atravessa uma zona de turbulência, mas segundo o Times, essa nova tecnologia transmite informações em tempo real.

Essa é uma ótima notícia para passageiros e membros da tripulação que já se feriram durante casos de extrema turbulência, e também para os próprios aviões — um estudo financiado pela NASA anunciou que a turbulência causa mais de US$100 milhões em danos todos os anos. (Mesmo assim, ainda existe a “turbulência de tempo limpo”, que é quase impossível de prever — o melhor é estar sempre com o cinto de segurança afivelado, só por precaução.)

Voos personalizados

Ir de um ponto A para um ponto B se tornou mais desconfortável ao longo dos anos: são exemplos disso as taxas de bagagem, a comida nojenta e os voos mais lotados. Mas a tecnologia de entretenimento tornou as horas gastas dentro de um tubo de metal pressurizado mais suportáveis. Os especialistas em tecnologia de transportes afirmam que, com a evolução das tecnologias de entretenimento, a experiência de viajar de avião se tornará cada vez mais personalizada.

“No futuro, seu histórico de compras da Apple Pay irá definir que tipo de comida irão te oferecer durante um voo”, diz Mark Brierly, editor da revista Future Airport. “Assim como as músicas que você escutou na sua conta do Uber (conectada ao seu Spotify, é claro) no caminho para o aeroporto irão definir as músicas do sistema de entretenimento, e assim como sua conta do Netflix irá definir quais filmes estarão disponíveis durante o voo.”

Isso pode trazer alguns problemas, diz Brierly, porque as companhias aéreas podem começar a usar o big data para fidelizar seus clientes, do mesmo jeito que a Apple e o Google nos prendem a seus serviços. “Por exemplo, a Star Alliance poderia assinar um contrato com a Apple, enquanto a SkyTeam poderia fazer o mesmo com o Android, para garantir que seus clientes não escolhessem outras companhias aéreas”, diz Brierly.

Aeroportos incríveis

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Esse robô de transporte (em primeiro plano) pode carregar até 180 quilos. Ele é um dos três robôs que farão parte da equipe do Aeroporto Haneda, em Tóquio. Crédito: Reuters

Os aeroportos estão sendo repaginados. A BBC anunciou que aeroportos do mundo inteiro investiram mais de US$7 bilhões em tecnologia da informação, e em breve nós veremos esse dinheiro em coisas como check-in automático, belíssimos saguões de espera e funcionários-robôs.

“Os aeroportos estão virando cidades dentro de outras cidades”, diz Brierly. (Isso também gera alguns problemas, como encontrar terrenos grandes o suficiente para construir esses mega-aeroportos.)

No começo de 2015, o Aeroporto Haneda introduziu robôs que carregam bagagens, dão informações e muito mais. Alguns aeroportos já até adotaram hologramas-assistentes.

Estive em Miami há alguns meses, e fiquei chocado quando vi esse holograma. Sim, eu havia bebido três latas de Heineken a 30.000 pés de altura, mas eu lembro perfeitamente de entrar no saguão de desembarque às 21h e ver uma pequena multidão reunida ao redor de uma imagem 2D brilhante e tremeluzente. Isso é um holograma?, pensei. “Ela” não fazia muito mais do que sorrir, embora eu tenha que admitir que ela fez bastante sucesso no meu Instagram.

Welcome to Miami, here’s the hologram

A photo posted by Bryan Lufkin (@bryanlufkin) on

A tendência é que os hologramas se tornem cada vez mais comuns. O Aeroporto Dulles estreou seu próprio “holograma” em 2012, e Glasgow lançou um no começo de 2015. (Para ser sincero, esses hologramas são na verdade projeções em uma superfície 2D — mas se é possível criar um holograma como os de Tupac e de Redd Foxx, é perfeitamente possível instalar hologramas informativos e poliglotas nas grandes centros de transporte internacional.)

E embora os aeroportos não estejam no topo da lista de iniciativas ecológicas, isso também pode mudar nos próximos anos. O aeroporto Galapagos é movido à energia solar e possui uma política de controle de emissões. Segundo a CNN, 80% da infraestrutura do aeroporto, construído em 2012, é feita de materiais reciclados. Além disso, ele possui uma central de dessalinização, que transforma a água salgada do oceano em água potável.

Falando em água, o Aeroporto Changi, na Cingapura, cujo novo terminal será concluído em 2018, contará com a maior queda d’água coberta do mundo, além de um jardim de cinco andares chamado “Cidade Floresta”.

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Uma cascata de 40 metros, parquinhos, cinco andares de lojas e um hotel irão acabar com todos os estereótipos sobre aeroportos, desde os bancos desconfortáveis à comida insossa. Crédito: Changi Airport

Os aeroportos do futuro serão ambientes acolhedores, não vácuos de felicidade cheios de restaurantes caros. Alguns deles serão como mini-cidades. Outros serão expandidos, como o LaGuardia, de Nova Iorque (escolhido pelos leitores do Gizmodo como o pior aeroporto dos EUA, o que significa que pior ele não pode ficar). Além disso, mais aeroportos serão construídos — e eles serão enormes. O Aeroporto Internacional de Al Maktoum, também conhecido como o “Dubai World Center”, irá custar US$32 bilhões e será inaugurado em 2027, atendendo 160 milhões de passageiros por ano, o que o tornará o aeroporto mais movimentado do mundo.

abudabiO Terminal Abu Dhabi, projeto dos Emirados Árabes que poderá atender 40 milhões de passageiros anualmente, é um dos vários “mega-aeroportos” que serão construídos no Oriente Médio nos próximos anos.

Passaportes mais seguros

Atualmente, nossos passaportes e cartões de crédito possuem pequenos microchips que guardam todas nossas informações pessoais. Em outras palavras, um prato cheio para bandidos. Como nós iremos nos proteger durante nossas viagens?

A RFID— a identificação por radiofrequência — já é usada há décadas, mas só agora essa tecnologia está sendo utilizada em cartões de bancos e, é claro, em passaportes. A tecnologia se resume a um chip especial inserido no documento. Um dos problemas da RFID foi, durante vários anos, o medo de que hackers usassem leitores RFID para roubar nossas informações pessoais através das ondas de rádio que esses chips emitem.

Mas pesquisadores da Universidade Politécnica de Madri estão estudando uma nova tecnologia biométrica que irá ajudar na identificação de passaportes roubados, e que pretende também impedir que ladrões roubem suas informações pessoais: a tecnologia usa o odor para destravar as informações. O reconhecimento de odor é mais eficaz que o reconhecimento facial, mas os pesquisadores dizem que os sensores não são tão competentes quanto, digamos, cães farejadores.

Os passaportes ficarão mais bonitos, também, como aconteceu com o lindo passaporte norueguês lançado em 2014. O passaporte canadense possui algo em comum com o novo modelo norueguês — ilustrações lindas que só aparecem sob a luz negra.

Os desenhos não são apenas um agrado estético — eles são mais uma medida de segurança. As páginas estampadas com tintas que brilham na luz negra são um sinal de autenticidade.

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Os novos passaporte noruegueses, lançados em 2014, são mais seguros graças a seu lindo design: sob a luz negra, a intricada ilustração minimalista revela a aurora boreal, mostrando que aquele é um passaporte norueguês legítimo. Crédito: Neue

Dispositivos de tradução automática

Certo, você acaba de pousar. É hora de se divertir. Mas você se depara com um dos maiores obstáculos das viagens internacionais: a barreira linguística. Para quem viaja o mundo mesmo sem saber a diferença entre ni hao e n’est-ce pas, o futuro trará alguns dispositivos extremamente úteis.

A chave é criar algo que possa ser levado no bolso enquanto caminhamos pelas ruas desconhecidas com um guia de viagem e um smartphone. Nós já falamos sobre os planos do Japão de dar tradutores portáteis para 900.000 turistas durante as Olimpíadas de Verão de 2020, que ocorrerão em Tóquio. A Panasonic está projetando um tradutor automático que converte uma série de línguas para japonês num piscar de olhos.

Seguindo o embalo, no começo desse ano o Google lançou um app que traduz instantaneamente placas em outras línguas para o inglês; basta apontar a câmera do seu telefone para decifrar a misteriosa mensagem.

No entanto, é difícil criar um software de tradução rápido e confiável. A língua falada traz muitos desafios, desde estruturas sintáticas confusas, passando por gírias, referências culturais e sutilezas contextuais que, mesmo quando traduzidas, deixariam um falante não-nativo confuso. Muita coisa ainda se perde na tradução. Mas sabe quem pode nos ajudar? Os robôs!

Andróides poliglotas em hotéis, lojas e aeroportos podem esclarecer dúvidas que humanos e dispositivos de tradução não conseguem. No ano passado, a Lowe’s, gigante do setor de melhorias domésticas, começou a testar algo chamado OshBot, um vendedor robótico que usa um visor que identifica os itens para os quais você está olhando e te leva ao corredor certo. O uso desses robôs não se limita à comunicação com clientes estrangeiros: o robô pode te conectar, via smartphone, com um vendedor que fala sua língua.

Os hotéis serão equipados com estações de tradução, ou robôs que falam várias línguas. Esse hotel, que funciona dentro de um parque temático do Japão, é um dos exemplos mais curiosos: os recepcionistas são dinossauros animatrônicos. Dinossauros à parte, o Japão planeja aumentar o número de andróides empregados em hotéis e shoppings nos próximos cinco anos.

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Esse é o ChihiraJunco, um robô criado pela Toshiba que sabe falar inglês, japonês e chinês, e que dá informações num shopping em Tóquio. O Japão vêm introduzindo robôs poliglotas em hotéis e lojas. Crédito: Japan Times YouTube

Mais países com trens de alta velocidade

Se tudo der certo, o futuro terá trens incríveis — incluindo alguns trens muito velozes. A Associação de Trens de Alta Velocidade dos EUA afirma que 24 países estão construindo ferrovias para trens de alta velocidade, entre eles a Turquia, a Arábia Saudita, Portugal e a Argentina. Então quando você sair do aeroporto rumo à cidade, a probabilidade de você pegar um trem-bala é bem alta.

Para aqueles que costumam visitar os EUA, é provável que você possa andar em breve em um dos trens de alta velocidade já em operação na Europa e no Leste Asiático. O estado da Califórnia está atualmente construindo uma linha que liga Los Angeles a São Francisco, enquanto o Texas está trabalhando em parceira com os engenheiros que projetaram o trem-bala japonês para construir uma réplica que ligará Houston a Dallas. Em março de 2015, um consórcio de empresas chinesas anunciou o plano de criar um trem de alta velocidade que ligaria Las Vegas à Los Angeles; além disso, o governo japonês já anunciou sua intenção de financiar um trem maglev entre Baltimore e Washington, DC.

Governos e empresas com trens de alta velocidade querem exportar seus produtos para outros países; é o caso do Japão (que tem os trens de alta velocidade mais velhos, pontuais e seguros do mundo) e da China (que tem um incrível trem maglev, ainda considerado um devaneio futurista por grande parte do mundo, funcionando em Xangai há incríveis 11 anos). Os trens japoneses serão vendidos para a Tailândia, e a China está levando sua tecnologia para a Turquia.

É claro que muito disso não irá acontecer tão cedo — como em qualquer tecnologia emergente, é preciso esperar até que ela se popularize e se torne acessível. Mas muitos desses avanços tecnológicos e infraestruturais — como combustíveis feitos de algas, aeroportos gigantescos e recepcionistas robóticos — já estão se popularizando. O teletransporte pode não surgir tão cedo, mas essas inovações até que são bem interessantes.

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