Pesquisadores previram na década de 70 que cartões seriam ótimas ferramentas para vigilância

Durante um desafio na década de 70, pesquisadores vislumbraram uma ferramenta de vigilância que parece bastante nosso atual sistema de cartão de débito.

Em outubro de 1971, um grupo de acadêmicos e especialistas em tecnologia se juntou em uma conferência em Georgetown. Foi dada a eles a tarefa de elaborar a forma mais abrangente (e invisível) possível de um programa de vigilância. E a ideia sugerida parece bastante com nosso atual sistema de cartão de débito.

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Essa foi a questão proposta aos pesquisadores em 1971:

Suponha que você é um conselheiro do chefe da KGB, a polícia secreta soviética. Imagine que você tenha recebido a tarefa de desenvolver um sistema de vigilância que abrange cidadãos e visitantes que estejam dentro da fronteira da União Soviética. O sistema não pode ser intrusivo ou óbvio. Qual seria sua decisão?

E qual foi o sistema de vigilância incrível que eles idealizaram? Não era uma rede de interceptação telefônica ou um sistema de câmeras instalado em cada esquina. Eles imaginaram um sistema de transferência eletrônica de fundos, ou EFTS — um sistema que parece bastante com o de cartão de débito que usamos atualmente.

Em uma edição de setembro de 1975, a revista “Computers and People” deu uma prévia do sistema imaginado pelos pesquisadores:

Veja só como o sistema deve funcionar. Você está prestes a comprar um livro. Você dá seu cartão para um balconista que o colocará em um terminal. Na sequência, ele será lido no terminal, que fará uma conexão com seu banco. Se você tiver dinheiro o suficiente em sua conta, ou se seu banco te oferece crédito o suficiente, a transação é realizada. É, então, creditada a quantia de seu banco que vai direto para a conta da loja de livros.

“Não só o sistema lidaria com toda contabilidade financeira, como também forneceria estatísticas cruciais para uma economia centralmente planificada”, escreveu Paul Armer em 1975, ao relembrar do desafio. “Foi o melhor sistema de monitoramento que nós podíamos imaginar dentro da limitação imposta de que não deveria ser intrusivo.”

Armer trabalhava como cientista da computação na RAND e foi um dos pioneiros da defesa da privacidade digital, muito antes de as pessoas terem cartões de débito ou de terem acesso à internet. Os computadores na época de Armer eram gigantes e suas ferramentas, muito primitivas. No entanto, ele já conseguia ver o que o esperava no futuro. Na época, ele achava que uma sociedade apenas com “dinheiro de plástico” representava um grande risco à privacidade dos americanos.

Pare para pensar nas informações que os bancos coletam de você todas as vezes que você passa o cartão. Eles sabem exatamente onde, quando e como você gasta seu dinheiro. Após algumas transações, qualquer pessoa com acesso a essas informações pode começar a fazer um perfil da forma como você vive. E, talvez, mais importante, esse perfil está sendo feito sem você pensar muito sobre.

Mais sobre o que Armer disse em 1975:

As dimensões da forma final de um sistema de transferência eletrônica são importantes pelo seu potencial de capacidade de vigilância, como a porcentagem de transações realizadas; o grau de centralização de dados e pelo rápido fluxo de informação no sistema.

Suponha que todas as transações acima de US$ 10 devam ir para o sistema, e que elas são imediatamente debitadas de sua conta no computador do banco. Portanto, o sistema coletaria dados importantes de suas transações bancárias — o que significa um monte de informações importantes sobre sua vida — e até informações de localização, pois ele saberia onde você está baseado apenas nas transações.

Atualmente, nós ouvimos um monte de histórias terríveis sobre monitoramento de e-mails e chamadas telefônicas — os vazamentos do Snowden são a maior prova disso.

Eu não acho que o debate vá mudar de forma significativa o meu modo de vida. Nós todos já estamos dentro desse sistema. É muito conveniente. Porém, talvez seja um aspecto importante para levarmos em conta — mesmo como um exercício fútil.

Está claro que o Google sabe um monte de coisas sobre a gente. Porém, os bancos também sabem bastante sobre nós. E não podemos dizer que os futuristas da década de 70 não nos avisaram sobre o que está ocorrendo.

Foto do topo via AP

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