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Clãs de cachalotes falam dialetos diferentes, segundo estudo

Um estudo mostrou que cachalotes de diferentes clãs falam com algumas pequenas variações - eles se comunicam em diferentes dialetos.

Nós, seres humanos, nos orgulhamos da nossa diversidade cultural, mas não somos as únicas criaturas a formar sociedades. Acontece que dois clãs de cachalotes que vivem nas proximidades das Ilhas Galápagos falam dialetos diferentes – oferecendo ainda mais evidências de que animais também têm cultura.

Cachalotes – caçadores das profundezas do mar que vivem em redes sociais hierárquicas – se comunicam entre si através de uma série de estalos conhecidos como “codas”. Essas vocalizações, que desempenham papel importante na ligação social, não são um comportamento inato. Muito pelo contrário – os pequenos cachalotes aprendem a se comunicar com os mais velhos.

Em muitos aspectos, a comunicação entre os cachalotes carrega marcas da cultura humana. Mas se as codas são de fato um traço cultural, então podemos esperar que elas variem de clã para clã, certo?

É isso o que concluiu o candidato a PhD Mauricio Cantor da Universidade Dalhousie, no Canadá, ao examinar dois conhecidos clãs de cachalotes que compartilham as águas de Galápagos ao menos desde os anos 1980. Ao gravar as vocalizações com um microfone submarino, Cantor e seu orientador de pesquisa Hal Whitehead perceberam que os dois clãs dão seus cliques em batidas diferentes.

“Em um clã, que chamamos de ‘clã regular’, ouvimos cliques espaçados com regularidade, mas no outro clã, que chamamos de ‘outros’, os tipos de codas que eles faziam tinham uma pausa prolongada antes do último clique”, disse Cantor à BBC.

Simulações em computadores feitas em seguida revelaram que essas diferenças linguísticas não são causadas por distinções genéticas, e sim pela transmissão de conteúdo. As baleias de cada clã estão aprendendo e adaptando o comportamento a partir daqueles ao seu redor.

Essa não é a primeira vez que vemos um tipo de transmissão cultural no reino animal. Ecologistas adoram lembrar dos comportamentos de “lavar batata” e “jogar pedra” que os macacos japoneses desenvolvem quando eles não precisam procurar por comida. Golfinhos fashionistas na Austrália Ocidental se distinguem dos irmãos do Atlântico ao usar esponjas marinhas em seus bicos. E na floresta tropical africana, chimpanzés estão ocupados paquerando, aliciando e argumentando com uso de uma linguagem de sinais incrivelmente complexa.

Nossa bússola antropocêntrica pode estar nos impedindo de ver algumas das mais interessantes culturas do nosso planeta.

“Esse estudo nos dá evidências de que recursos chave da cultura humana – que nos faz pensar que somos diferentes de todo o resto da natureza – pode ter papel em populações de outros animais também”, disse Cantor. “Talvez não sejamos tão diferentes como pensamos”. [Leia o artigo completo na Nature Communications via BBC]

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