Como a busca por um calendário perfeitamente racional criou um 13º mês

Um calendário com 13 meses e um dia solto já foi proposto, discutido e adotado por algumas empresas.

Um mês não é exatamente uma unidade de medida. Ele pode começar em qualquer dia da semana e durar de 28 a 31 dias. Às vezes, um mês tem quatro semanas de duração, às vezes cinco, às vezes seis. Você tem que comprar um novo calendário com novas datas a cada novo ano. É um esquema meio estranho.

O calendário que o mundo usa agora é principalmente uma combinação do calendário lunar romano e do calendário solar egípcio, um produto do caso de amor entre César e Cleópatra. Ela tinha 21 anos e ele tinha 52 anos, e quando ficaram juntos, eles fizeram o que os amantes fazem: discutir a verdadeira natureza da rotação da Terra.

Os egípcios já tinham descoberto que o ano é de aproximadamente 365 dias por causa do rio Nilo. Egípcios tinham “nilômetros”, estruturas que entravam no Nilo e que poderiam prever as estações do ano, graças à tendência do rio de inundar até a mesma altura em cada um dos dias do ano.

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[Um nilômetro na Ilha Rhoda, no Cairo Crédito: Baldiri]

Os egípcios também descobriram que o ano não tem sempre exatamente 365 dias. Por isso, eles adicionaram um dia extra a cada quatro anos, só para ter certeza de que o calendário estaria em sincronia com as estações do ano. Em outras palavras, eles inventaram o ano bissexto.

Isso tudo era fantasticamente novo para César, justo ele, que tinha a sensação de que o calendário romano não estava muito certo. Naquela época, o ano romano, baseado nas fases da Lua, era de apenas 354 dias de duração.

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[Um calendário romano antes da reforma juliana]

O calendário juliano, que acrescentou os onze dias que faltam e colocou um dia bissexto, em fevereiro, foi instituído em todo o Império Romano. Ainda assim, o calendário juliano perdia cerca de 11 minutos e 14 segundos a cada ano. Esses minutos somavam dias perdidos e, logo em seguida, uma semana inteira perdida.

Em 1582, o Papa Gregório finalmente percebeu que eles estavam adorando todos os dias santos nas datas erradas em relação aos dias em que as comemorações ocorriam originalmente. Ele fez alguns ajustes para realinhar o ano com as estações do ano (incluindo a perda de 10 dias), e criou o calendário gregoriano, que é o que está na folhinha aí na parede ou no seu smartphone.

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[Cortesia da George Eastman House]

Hoje, nós basicamente vivemos com o calendário gregoriano e não o questionamos. No entanto, ao longo da história houve uma série de tentativas de redesenhar o calendário.

Um desses redesigns veio depois da Revolução Francesa; os revolucionários decretaram o primeiro ano da revolução como o ano 1 a duração da semana como dez dias. Este calendário resistiu por mais de uma década, até Napoleão se coroar imperador.

Em 1849, outro francês, Auguste Comte, criou o chamado Calendário Positivista, que reorganizou os meses e deu a cada um deles nomes de grandes homens da história (Moisés, Homero, Aristóteles etc). O calendário positivista não decolou. Mas houve mais uma tentativa radical de reforma do calendário.

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[Cortesia da George Eastman House]

Moses B. Cotsworth trabalhava com os livros de registro da ferrovia britânica, e o vacilante e estranhamente dividido Calendário Gregoriano estava dificultando o seu trabalho. Em 1902, Cotsworth apresentou um projeto para um calendário de 13 meses, onde cada mês teria exatamente 28 dias. Nem mais, nem menos. Quatro semanas perfeitas.

Isso significava que as datas seriam todas padronizados também. Independentemente do mês, o quinto dia seria uma quinta-feira. O primeiro, sempre um domingo. O décimo, sempre uma terça-feira. Haveria uma sexta-feira 13 a cada mês — claramente, os racionais ferroviários não eram nem um pouco supersticiosos.

Todos os nomes dos meses permaneceriam os mesmos e o mês adicional de 28 dias cairia entre junho e julho. Este mês adicional seria chamado de “Sol”, pois coincidiria com a época em que ocorre o solstício de verão. O dia bissexto seria acrescentado ao final do Sol, e não em fevereiro. Portanto, a cada quatro anos, o Sol teria 29 dias.

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[Cortesia do Instituto Internacional de História Social]

13 meses de 28 dias dá 364 dias em um ano. Para chegar a 365, Cotsworth adicionou um novo feriado depois de 28 de dezembro — o “Dia do Ano”, um dia flutuante, que não faria parte de qualquer mês. Seria um sábado global.

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[Cortesia do International Institute of Social History]

Além do dia de ano novo, todas os outros feriados seriam movido para uma segunda-feira. Todos os feriados seriam finais de semana de três dias. Isso seria maravilhoso.

Cotsworth viajou pelos Estados Unidos dando palestras sobre inúmeros benefícios de seu calendário, mas não conseguiu encontrar muitos compradores. Entretanto, ele atraiu o interesse de um dos homens mais ricos e mais bem sucedidos da época: George Eastman, fundador da Kodak.

Eastman tomou para si a tarefa de promover o projeto de calendário de Cotsworth. Ele criou a sede da liga do calendário em Rochester, no escritório da Kodak. Lá, eles publicaram e imprimiram diferentes folhetos para distribuir para as empresas locais e realmente convenceram algumas delas a mudar para um calendário de 13 meses. Incluindo, é claro, a própria empresa do Sr. Eastman, a Kodak.

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[Cortesia da George Eastman House]

A empresa Eastman Kodak adotou o calendário de 13 meses, em 1924, e continuou a usá-lo até 1989. O calendário de 13 meses esteve em uso por 65 anos.

No entanto, dentro da Kodak, Eastman não poderia instituir plenamente o calendário de 13 meses em sua forma mais verdadeira. Os funcionários da Kodak não adotavam o “Sol” ou o “Dia do Ano” ou mudavam todos os feriados para uma segunda-feira. Eles usaram o calendário da mesma forma que alguns banqueiros trabalham em trimestres ou algumas escolas têm sua agenda interna em semestres — o calendário interno da Kodak foi organizado em 13 “períodos”, rotulados de período 1 a período 13. Eles usaram o calendário de 13 meses como uma ferramenta organizacional para o planejamento de finanças e a programação de produção, mas os funcionários ainda viviam suas vidas no calendário gregoriano.

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[Cortesia do Instituto Internacional de História Social]

George Eastman sabia que, se ele queria padronizar verdadeiramente o calendário, a Kodak não poderia fazer isto sozinha. Ele teria que convencer o resto do mundo a fazer a troca. Eastman e Cotsworth apresentaram o calendário a diversas comissões no Congresso dos EUA, e reforma do calendário se tornou uma questão real de debate para a Liga das Nações, precursora da ONU. Em determinado momento, a Liga das Nações estava considerando entre 185 diferentes projetos de calendário, e a proposta de Cotsworth e Eastman foi um dos poucos finalistas.

Mesmo depois de Eastman falecer, em 1932, a Liga das Nações continuou discutindo o novo calendário, mas eles não conseguiram chegar a um consenso. E, em seguida, Hitler e a Segunda Guerra Mundial fizeram o projeto de reimaginar o calendário se tornar uma coisa completamente sem importância. Depois a Liga das Nações foi encerrada.

Nós realmente não pensamos em reformar o calendário desde então. Mas não há nenhuma razão para não tirarmos férias em Sol ou não celebrar o Dia do Ano.

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[Cortesia do Instituto Internacional de História Social]

O produtor de Avery Trufelman falou com David Ewing Duncan, autor de Calendar; Mark Byrnes, que escreveu sobre o calendário de 13 meses para o CityLab; Kathy Connor da George Eastman House; e os antigos funcionários da Kodak John Cirocco e Robert Shanebrook (que também é o autor de Making Kodak Film).

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Este post foi reproduzido com permissão de Roman Mars. Ele foi originalmente publicado no blog do 99% Invisible, que acompanha cada podcast.

Imagem do topo: Dafne Cholet via Flickr

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