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Coreia do Norte quer ajudar a investigar o hack da Sony, mas EUA solicitam colaboração da China

A Coreia do Norte fez uma proposta de investigação conjunta com os EUA sobre a invasão da Sony, mas os Estados Unidos querem ajuda da China.

Num movimento previsível, mas ainda assim bizarro, oficiais de Pyongyang propuseram que a Coreia do Norte e os Estados Unidos trabalhassem numa investigação conjunta para esclarecer o vazamento de material da Sony Pictures. A Coreia afirma que essa proposta é a prova de que eles não têm nada a ver com o ocorrido. Os oficiais também alertaram para consequências graves caso os Estados Unidos não aceitem a proposta.

Peraí, o quê? A Coreia do Norte quer trabalhar junto com os Estados Unidos? Eles vão virar amiguinhos, é isso?

Não, não é isso. Mas a proposta da Coreia do Norte não é tão maluca quanto pode parecer. Embora o FBI tenha afirmado que o país é culpado pelo vazamento, a Coreia do Norte se mantém firme dizendo que eles não estavam por trás dos ataques, embora não possam provar isso a não ser que os EUA ajudem. Em outras palavras: a Coreia do Norte quer que os Estados Unidos ajudem o governo norte-coreano a provar que a Coreia não foi culpada pelo vazamento da Sony.

“Enquanto os Estados Unidos estão espalhando alegações infundadas e caluniosas, nós estamos propondo uma investigação conjunta acerca do incidente”, disse o Ministério das Relações Exteriores da Coreia do Norte, de acordo com a rede de TV estatal KCNA. “Sem recorrer a métodos de tortura como os utilizados pela CIA, nós temos meios de provar que esse incidente não teve nada a ver conosco”.

E como saber se isso é verdade? Vários especialistas em cibersegurança afirmam que não há grandes indícios de que o ataque tenha sido cometido pela Coreia do Norte. No entanto, a Coreia não está nada chateada com o fato de a Sony ter cancelado o lançamento d’A Entrevista, um filme sobre o assassinato de Kim Jong-Un, estrelando Seth Rogen e James Franco.

Só que os EUA não compraram essa conversa. O porta-voz da Segurança Nacional Americana, Mark Stroh, deu a seguinte declaração depois da proposta da Coreia do Norte:

Estamos certos de que o Governo da Coreia do Norte é responsável por este ataque destrutivo… Se o governo norte-coreano quer ajudar, eles podem admitir sua culpa e compensar a Sony pelos danos causados pelo ataque.

Algumas horas depois de a Coreia ter feito a proposta de trabalho conjunto, o New York Times reportou que os Estados Unidos querem a ajuda da China para parar os hackers norte-coreanos. Aparentemente, os oficiais americanos querem usar o grande firewall da China na Coreia do Norte.

Pelo menos é isso que parece. “O que queremos é uma ação de bloqueio, algo que prejudique os ataques dos hackers”, afirmou um oficial anônimo ao NYT. A China ainda não deu uma resposta oficial. De qualquer forma, o jornal diz que “A cooperação [da China] seria extremamente necessária, uma vez que praticamente todas as telecomunicações da Coreia do Norte são feitas através de redes chinesas”. As invasões foram feitas usando as redes chinesas, e depois foram roteadas para Cingapura, Tailândia e Bolívia.

E isso coloca todo mundo numa baita saia justa: não é como se os Estados Unidos e a China tivessem o melhor relacionamento diplomático do mundo, especialmente naquilo que tange à cibersegurança. Há menos de um ano o FBI acusou hackers chineses de serem suspeitos de invadir redes americanas. Embora os EUA possam pressionar a China, as opções que eles têm não são um mar de rosas: sanções econômicas podem ser uma saída. Uma ofensiva mais agressiva sobre os alvos norte-coreanos feita pelo Ciber Comando Militar dos EUA pode ser outra.

Mas é necessário considerar que se os hackers norte-coreanos conseguiram invadir a Sony Pictures, eles podem simplesmente se empolgar e tentar ir atrás de um alvo maior cuja invasão poderia ter efeitos realmente devastadores, como os sistemas de infraestrutura dos Estados Unidos. Como um oficial afirmou “Temos que pensar numa série de restrições, porque vivemos numa casa de vidro gigante”. Então uma “ação de bloqueio” pode ser a única solução.

[Guardian / NYT / Imagem via Getty]

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