Crianças que usam dispositivos de touchscreen dormem menos à noite, dizem pesquisadores

Smartphones e tablets tornaram-se um padrão nos lares, e essa pesquisa aponta seus efeitos no sono das crianças

Dispositivos com touchscreen como smartphones e tablets agora são padrão em muitas casas, então não é surpresa descobrir que as crianças pequenas que não trabalham ou vão à escola estão entre seus usuários mais ativos. No primeiro estudo desse tipo, pesquisadores descobriram que crianças que passam mais tempo nesses dispositivos dormem menos à noite. É uma descoberta perturbadora, mas as razões para essa interrupção do sono não são claras ainda.

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O tempo de exposição a telas tradicionais, como televisão e videogames, tem sido relacionado a problemas de sono em crianças há algum tempo, mas conhecemos menos sobre touchscreens portáteis, como smartphones e tablets. No primeiro estudo para investigar as conexões possíveis entre touchscreens, sono e crianças jovens, um time de pesquisa liderado por Tim Smith, da Birkbeck University of London, descobriu que o mesmo efeito de interrupção do sono acontece com esses dispositivos. Ao perguntar aos pais sobre o uso de touchscreen de suas crianças e seus padrões de sono, esses pesquisadores descobriram que cada hora adicional de tablet ou smartphone em crianças entre seis meses e três anos resulta em cerca de 15 minutos a menos de sono total. Essas descobertas foram publicadas na Scientific Advances.

De junho de 2015 a março de 2016, os pais de 715 crianças de seis a 36 meses (três anos) participaram da pesquisa online. Cerca de 70% desses pais possuíam um dispositivo de touchscreen de algum tipo. Nessas casas, 75% das crianças usavam um touchscreen diariamente. Na amostra analisada, os pesquisadores descobriram que o uso diário crescia substancialmente com a idade, indo de 51% em crianças de seis a 11 meses para 92,05% entre aquelas de 25 a 36 meses. Mesmo entre os 25% das crianças que não usavam touchscreen todos os dias, apenas 42% relataram nunca terem usado.

 

Foi pedido aos pais que relatassem a duração média do sono diurno e noturno das crianças, o tempo que levava tipicamente para as crianças pegarem no sono e a frequência com que acordavam durante a noite. Quando analisando os resultados, os pesquisadores observaram idade, sexo, exposição à TV e educação maternal dessas crianças.

De acordo com suas descobertas, os bebês e crianças pequenas que passaram mais tempo com um dispositivo de touchscreen dormiram menos à noite. Algumas dessas crianças conseguiam tirar cochilos mais longos durante o dia, mas ainda dormiam menos tempo no total. Em média, cada hora que uma criança passava no smartphone ou tablet resultava em 26 minutos a menos de sono noturno e dez minutos a menos de sono diurno, resultando em 15,6 minutos a menos de sono total. O uso de touchscreen também foi relacionado a um aumento no tempo que essas crianças levavam para pegar no sono, mas aparentemente não teve relação com o tanto de vezes que essas crianças acordaram à noite.

“Esses resultados indicam que a popularidade e a acessibilidade de dispositivos de touchscreen levaram a altos níveis de uso por bebês e crianças pequenas, e isso está associado com a redução do sono”, disse Smith em um comunicado. “Pesquisas futuras agora são necessárias para construir sobre esse estudo inicial, para tentar entender se o uso de touchscreens está causando os problemas de sono e que tipo de uso pode mitigar esses riscos.” Olhando à frente, os pesquisadores gostariam de entender as mecânicas por trás dessa relação e desenvolver uma forma mais objetiva de medição de sono. Pesquisas online são só um começo, o que é necessário agora são análises empíricas para confirmar as descobertas relatadas pelos pais.

Michael Gradisar, psicólogo da Flinders University que não esteve envolvido no estudo, diz que essa pesquisa levanta a preocupação com o fato de que bebês estão usando dispositivos tecnológicos, mas explica pouco sobre as razões por trás das supostas relações.

“Essa foi uma pesquisa do uso de touchscreens por crianças pequenas e seu sono, então o tipo de protocolo usado não nos diz se o uso de touchscreen causa a falta de sono, ou se as crianças com problemas de sono têm mais chances de receberem um touchscreen de seus pais, por exemplo, para as distraírem e as acalmar”, Gradisar disse ao Gizmodo. “Também existem outros fatores que podem afetar o sono de uma criança pequena, como os cochilos, estímulos noturnos (barulho, luz artificial), que não foram considerados na predição do tempo de sono noturno das crianças. Se esses fatores estiverem presentes, a contribuição do uso de touchscreen em relação ao sono noturno pode ser menor do que o antecipado.”

Gradisar levanta vários bons pontos, incluindo a questão da luz artificial. Estudos anteriores indicam que a luz de dispositivos eletrônicos pode interromper o ritmo circadiano natural do corpo, tornando mais difícil pegar no sono. Isso pode explicar por que crianças que usam touchscreens estão tendo mais dificuldade em pegar no sono e por que estão dormindo menos em geral, mas mais pesquisa é necessária para entender esse processo.

Gradisar tem um conselho para os próximos passos da pesquisa da Birkbeck University. “A partir daí, os pesquisadores podem examinar o uso de touchscreens por bebês e seu sono durante um período maior de tempo”, ele disse. “Isso deve produzir mais resultados que vão deixar mais claro se o maior uso de touchscreens por parte de crianças pequenas ocorre antes desses problemas aparecerem ou o contrário. Isso já foi testado em adultos, e as descobertas mostraram que os problemas de sono ocorreram antes, então seguiu-se um aumento no uso da tecnologia. Isso pode acontecer porque as pessoas acreditam que podem fazer alguma coisa, ao invés de deitar e ficarem preocupadas no escuro.”

Negar o acesso de nossas crianças a esses dispositivos como um todo não é desejável nem possível. Os touchscreens agora são uma realidade da vida moderna, então nós precisamos descobrir como e por que esses dispositivos podem afetar as nossas crianças e desenvolver formas sensatas para controlar seu uso.

[Scientific Reports]

Imagem do topo: Wikimedia/VanessaQ

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