Discussão de domingo: Os limites dos comentaristas

Por algum motivo autodestrutivo inexplicável, quando estou de bom humor eu tenho a tendência de ler notícias mais trágicas. Hoje, por exemplo, quis saber detalhes sobre uma dessas coisas que me envergonham como brasileiro – o caso do sociopata que tentou matar dezenas de ciclistas em Porto Alegre. Não satisfeito em me deprimir ao ver a […]

Por algum motivo autodestrutivo inexplicável, quando estou de bom humor eu tenho a tendência de ler notícias mais trágicas. Hoje, por exemplo, quis saber detalhes sobre uma dessas coisas que me envergonham como brasileiro – o caso do sociopata que tentou matar dezenas de ciclistas em Porto Alegre. Não satisfeito em me deprimir ao ver a notícia e os comentários infelizes das autoridades, eu pulo para os comentários. E, se há uma forma de acabar com a fé na humanidade é ler os comentários nos grandes portais, qualquer um deles. Qual a solução?

Se fossem apenas erros de português e festivais de CAPS LOCK, tudo bem. O problema é que as pessoas se sentem mais encorajadas a serem radicais e fazerem comentários idiotas, grosseiros ou difamadores, que nunca fariam ao vivo. Pode ser que isso seja o simples retrato do brasileiro médio (em outros países a coisa não é muito melhor, diga-se), que o mundo é feito de pessoas ruins, mas meu otimismo custa a crer nessa hipótese. Será que comentários abertos nos grandes portais são um problema real a ser atacado?

A questão está quente lá fora. Nos EUA, os grandes jornais (não há exatamente portais por lá), um por um, começam a exigir um registro prévio para quem quiser comentar. Isso parece diminuir o efeito troll. Arianna Huffington, dona do blog de maior audiência dos EUA que tem um sistema interessantíssimo de moderação de comentários, o Huffington Post, disse recentemente ao New York Times:

“O anonimato é simplesmente a forma como as coisas são feitas até agora. É uma parte bem aceita da internet, mas pode ser que as pessoas se escondam atrás do anonimato para fazer comentários vis ou controversos. Minha opinião é que isso é quase como um processo educacional. À medida que as regras da estrada vão mudando e a internet amadurece, a tendência é que o anonimato seja deixado de lado.”

Eu amo a possibilidade de fazer comentários, por princípio. É o espaço para vocês nos corrigirem, tirarem dúvidas, analisar a notícia, pesar e mostrar o outro lado, contarem piadas e até fazer amizades. Em um bom site como o Gizmodo, às vezes há coisas tão ou mais interessantes nos comentários, mesmo com ocasionais (e não tão raras) brigas entre fanboys.

(O clássico cartoon da New Yorker, de 1993: “Na Internet, ninguém sabe que você é um cachorro.”)

Mas no caso da notícia do animal ao volante em Porto Alegre, havia muita coisa para se falar nos comentários – e depois de procurar em várias páginas, não achei. Daria para discutir, por exemplo, a falta de educação e irritabilidade no trânsito; um advogado poderia comentar por que o monstro deveria (ou não poderia, não sei) ser acusado de tentativa de homicídio; ou mesmo quão arriscado era a manifestação – sabendo que era uma via importante, em horário de trânsito, ocupada por diversos tipos de animais. Não sei, me parece que havia muito mais a se falar do que os animais o fizeram na captura de tela lá em cima. Será que proibir é uma solução ou qualquer manifestação é boa?

Ainda que nossos comentaristas aqui estejam milhares de níveis acima do comentarista médio da internet nacional, sempre há alguns trolls que entram para tumultuar, para xingar outros, o autor da matéria ou fazer spam. Pensamos muitas vezes em fechar os comentários a pessoas registradas (como era no início), mas por outro lado acho bom que qualquer um possa falar o que quer. Em momentos como hoje, penso em reabrir a discussão. Nós aqui no Giz estamos estudando como melhorar o sistema de comentários – registro no Intense Debate/Twitter/Facebook poderiam ser obrigatórios, ou criaríamos outro processo. O que vocês acham? (Opiniões com educação, por favor).

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