Editora acadêmica gigante quer acabar com a pirataria de ciência na internet

A Elsevier quer acabar com a distribuição ilegal de artigos acadêmicos na internet, mas talvez ela esteja combatendo isso da forma errada.

Uma das maiores editoras acadêmicas do mundo está lutando para restringir a ciência apenas a quem tiver acesso pago. Trata-se da Elsevier, que recentemente entrou com uma ação judicial contra a Library Genesis e o SciHub.org, dois centros enormes de artigos científicos.

Os sites, que são bastante populares em países em desenvolvimento como Índia e Indonésia, são um verdadeiro tesouro para quem busca cópias em PDF de artigos que normalmente custam o olho da cara, caso você não tenha acesso à assinatura de uma biblioteca universitária.

A maior parte do conteúdo desses sites foi provavelmente enviado a partir de credenciais emprestadas ou roubadas de estudantes universitários. A Elsevier espera fechar os dois sites e receber uma compensação pelas perdas, que pode chegar a milhões de dólares.

Tecnicamente, podemos dizer que a Elsevier está sendo prejudicada, mas é difícil se sensibilizar com a editora acadêmica. Se você for estudante de uma universidade, provavelmente pode se aproveitar da assinatura da biblioteca local para vasculhar uma infinidade de conhecimento científico. Caso contrário, a literatura acadêmica é – com a exceção de uma pequena quantidade de periódicos com acesso gratuito – barrada por trás de paywalls que são exorbitantes até mesmo para os padrões de países ricos.

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O combate à pirataria na ciência pode levar a consequências extremas. Aaron Swartz, criador do RSS 1.0 e um dos fundadores do Reddit, baixou 5 milhões de artigos do JSTOR – que oferece artigos acadêmicos mediante assinatura – porque acreditava que o acesso a eles deveria ser público.

O JSTOR processou Swartz em 2011, mas logo desistiu da ação judicial. No entanto, a Procuradoria dos EUA – que representa o governo – trouxe o caso de volta, e queria colocar o rapaz na prisão. Depois de uma batalha excruciante nos tribunais, Swartz cometeu suicídio aos 26 anos. Sua história é contada no documentário O Menino da Internet: a História de Aaron Swartz; você pode assisti-lo com legendas aqui.

Desde então, o JSTOR passou a oferecer acesso gratuito (porém limitado) a seus periódicos: através do Register & Read, você pode guardar três artigos para ler em até 14 dias; depois desse período, você pode acessar outros três artigos, e assim por diante – são no máximo 78 artigos por ano, no total. O acesso pago custa US$ 19,50 mensais.

Assim como em qualquer outro tipo de conteúdo escondido por trás de paywall, a pirataria tende a ser maior de acordo com o preço e a demanda. Parte do que faz o Netflix se manter tão popular – apesar de concorrentes como o Pirate Bay, que não cobram nada pelo mesmo conteúdo – é que seu preço também é acessível. O Netflix diz que define o preço de assinatura de acordo com a pirataria local, em uma tentativa de combater de frente a distribuição ilegal de conteúdo.

Talvez a Elsevier deva aprender um pouco com o Netflix. Em vez de punir quem distribui os artigos, eles deveriam oferecer uma alternativa melhor. O público quer acesso à ciência, mas a Elsevier não está oferecendo isso. [TorrentFreak]

Foto por Aleksi Aaltonen/Flickr

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