Entrevista: como a Nokia pretende abraçar o inimigo para ser líder mundial em mapas

Parece óbvio, e até que é mesmo: o mercado de mapas ganhou tanta importância para a Nokia nos últimos anos que restringir o sistema de navegação aos seus aparelhos de repente começou a soar como ingenuidade. Daí que ontem, aqui em Barcelona, os finlandeses tornaram pública a tendência lógica: vão colocar o recém-renomeado Here Maps nos […]

Parece óbvio, e até que é mesmo: o mercado de mapas ganhou tanta importância para a Nokia nos últimos anos que restringir o sistema de navegação aos seus aparelhos de repente começou a soar como ingenuidade.

Daí que ontem, aqui em Barcelona, os finlandeses tornaram pública a tendência lógica: vão colocar o recém-renomeado Here Maps nos smartphones com Firefox OS – e em qualquer modelo, não importando mais o sistema ou fabricante. O mesmo acontecerá dentro do Windows Phone (menos no Brasil, por enquanto). É seu maior passo nesse negócio desde a compra da Navteq, em 2008, por US$ 8 bilhões.

Dois números explicam tudo. Ano passado o mercado de mapas da empresa ficou empacado em venda de software (foi de US$ 1,41 bilhão para US$ 1,43 bi). Aumentou mesmo foi nas parcerias, como aquelas com montadoras – suas aplicações integradas renderam US$ 154 milhões ante os US$ 48 mi de 2011.

Em entrevista ao Gizmodo Brasil, o vice-presidente global de Aplicações, Localização e Comércio da Nokia, Thom Brenner, explicou para onde a empresa deseja ir. De leve, ou nem tanto assim, aproveitou para bater no Google (“nós fazemos nosso dinheiro com localização, e não coletando informações dos clientes para lucrar com qualquer outra coisa”) e também na Apple (“navegação de qualidade não é um serviço que se desenvolve em alguns meses, como ela tentou fazer”). Veja o que mais ele nos disse.

Gizmodo Brasil: Por que a Nokia resolveu oferecer seu sistema de mapas a outros fabricantes?

Thom Brenner: É muito simples: a decisão segue a estratégia, e a estratégia é sermos líderes mundiais de localização. Como seremos? Devemos estar em todo aparelho que precise de nosso serviço. E não estou falando apenas de celulares, mas de carros e quaisquer outras plataformas. Nosso primeiro passo foi desenvolver um bom programa, com base de dados confiável. O segundo será espalhar pelo mundo a experiência já existente no Windows Phone.

A navegação curva-a-curva dos aparelhos de GPS tradicionais ainda é o recurso mais importante que vocês podem oferecer? Ou serviços de geolocalização, envolvendo redes sociais, buscas de lugar e, consequentemente, propaganda dirigida são a bola da vez?

Para termos a liderança, precisamos de escala. Hoje distribuímos navegação precisa para 94 países e mapas do transporte público para mais de 700 cidades. Mas, para mantermos nosso tamanho, a qualidade do serviço precisa aumentar. E aí toda sorte de recursos online passa a ser fundamental. Respondendo à sua pergunta: uma coisa não é mais importante que a outra. Temos que fazer tudo junto, e fazer direito.

Na última semana, a Nokia publicou um vídeo comparando seu serviço de mapa offline com o do Google. No que mais vocês acham que são melhores do que eles, e em qual aspecto ainda perdem?

Navegação offline é um termo restrito demais para definir nossa tecnologia. Temos mapas detalhados e buscas de locais que podem ser feitas sem usar a internet, após o download das informações sobre regiões específicas. E, além da tecnologia, posso citar que somos superiores também na escala: estamos em mais países, oferecemos o serviço em mais linguagens e quatro de cada cinco carros no mundo com programas de localização embutidos usam o sistema da Nokia.

Você diria que a expertise do Google em propaganda, baseada principalmente no uso de dados que consegue recolher dos clientes, é algo em que a Nokia possa evoluir para aproveitar outro filão de mercado?

Nós fazemos nosso dinheiro com localização, e não coletando informações dos clientes para lucrar com qualquer outra coisa. Até porque somos muito severos quanto à privacidade dos dados. Ganhamos vendendo e licenciando nosso produto aos fabricantes, com quem mantemos uma relação de codependência.

Qual será o próximo grande avanço do mercado de localização? Realidade aumentada é algo que a Nokia leva a sério?

Há vários pilares que podem crescer, e realidade aumentada é um deles, com certeza. As pessoas não precisam ver um desenho 3D de prédio na tela do celular. Precisam mesmo é ter mais informações sobre aquele lugar diretamente nos mapas, com links e conectadas a redes sociais. No carro, o motorista tropeçaria na dica de um amigo sobre um bom restaurante, por exemplo, mesmo que não estivesse procurando. Mais importantes, no entanto, deverão ser os programas baseados no comportamento do usuário. Assim, o celular vai avisar se naquele dia é melhor pegar o ônibus ou o trem. Ou ainda sugerir que é melhor sair de casa 30 minutos antes do habitual para aproveitar o bom trânsito.

A Apple deixou o Google Maps de lado para desenvolver seu próprio sistema. Você acredita que outras empresas podem fazer o mesmo? No atual estágio da tecnologia, há espaço para alguém começar um sistema do zero?

Ficou claro no último ano, com a experiência da Apple, que essa não é uma tarefa simples, dada a quantidade de reclamações que ela recebeu. Não é um serviço que se desenvolve em alguns meses. Estamos nessa, digamos, há 25 anos. Por isso hoje podemos controlar tudo: a qualidade dos dados de mapas que capturamos, a plataforma usada pelos carros, a construção das imagens tridimensionais. Pouquíssimas companhias poderiam fazer tudo isso com a nossa escala.

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