[Entrevista] Phil Spencer, da Microsoft, fala sobre retrocompatibilidade, Kinect e o futuro do Xbox

Em entrevista ao Gizmodo Brasil durante a BGS 2015, o executivo da Microsoft comentou planos futuros da empresa, falou sobre o Kinect, a retrocompatibilidade e mais.

Por Daniel Junqueira e Bruno Izidro

Há 25 anos na Microsoft, Phil Spencer está desde o lançamento do primeiro console – o Xbox, em 2001 – na divisão de jogos da empresa. Desde março de 2014, ele lidera a divisão de Xbox e a Microsoft Studios – ou seja, ele é o grande nome da Microsoft quando o assunto são jogos.

O Gizmodo Brasil conversou um pouco com Spencer durante a BGS 2015. O carismático e bastante simpático executivo da Microsoft falou sobre seus anos na indústria e sobre como se surpreendeu com a recepção bastante positiva dos jogadores ao anúncio da retrocompatibilidade do Xbox 360 no Xbox One.

O Kinect, que era parte fundamental da estratégia inicial do Xbox One, foi sendo deixado de lado com o tempo. Spencer disse que a Microsoft continua bastante comprometida com o acessório, mas, no momento, a empresa não está desenvolvendo jogos exclusivos para ele.

Ele também elegeu uma franquia da concorrência que gostaria de ter no Xbox, além de falar de planos futuros de hardware da divisão Xbox: não teremos um Xbox portátil tão cedo, não teremos um Xbox One Slim por enquanto, e a Microsoft não trabalha em nenhum dispositivo de realidade virtual no momento – o HoloLens é diferente.

Confira a entrevista completa abaixo:

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Gizmodo: Você está na Microsoft há mais de 25 anos e na indústria de jogos desde o primeiro Xbox, já faz aí 14 anos. Em todo esse tempo, qual foi a maior lição que você aprendeu da indústria?

Phil Spencer: Eu amo o fato de a indústria de jogos ser tão verdadeira. Os fãs, os jogadores, eles têm voz no que estamos criando, mais do que acontece no cinema, na TV ou música. A ligação entre jogadores e criadores de games parece incrivelmente próxima para mim.

Meu grande aprendizado foi respeitar isso. Quando se constrói uma plataforma como o Xbox, você tem que respeitar o fato que os jogadores… você tem que dar apoio a eles primeiro, ter a certeza que eles são o consumidor número 1 para você e tudo o que você faz, em cada jogo ou plataforma que cria. Francamente, é uma das coisas que eu amo sobre essa indústria.

Gizmodo: O Xbox One está com uma lista de exclusivos bem fortes esse ano, de Tomb Raider, passando por Halo 5, Forza 6 etc. Eles são a grande força do console no momento. Mas se você tivesse que escolher uma franquia exclusiva da Sony ou da Nintendo para ter no Xbox One, qual seria?

Phil Spencer: Acho que, em uma situação dessas, você tem que escolher Mario. Especialmente se você pensar em Mario Kart e tudo que eles (Nintendo) têm feito. A Nintendo é uma empresa tão especial, que tudo que eles fazem é muito… eu conheço muitas pessoas que trabalham na Nintendo e o trabalho que eles fazem é muito, muito bom.

Então… Mario tem um papel muito importante para nossa indústria e para nós que crescemos com esses jogos.

Gizmodo: E dentro das várias séries que Mario possui, qual você escolheria?

Phil Spencer: Acho que, para nós, eu pegaria Mario Kart. Você pode jogar online, nós temos a Xbox Live, eu acho que poderia ter uma boa ligação entre Mario Kart e o que fazemos.

Quando eu penso no que a Nintendo pode fazer, sabe, eles têm um portátil e são os únicos que criaram um portátil dedicado a jogos e tiveram sucesso com isso. Foram milhões de Game Boys vendidos durante esses anos e suas franquias são tão poderosas que eles conseguem fazer coisas desse tipo [manter um portátil dedicado a jogos com sucesso no mercado], e eu estou curioso e animado para ver o que eles vão fazer no futuro.

Gizmodo: A Microsoft pretende, quem sabe, no futuro, tentar fazer algum portátil para games como a Nintendo?

Phil Spencer: Para nós, acho que seguimos em frente ao olhar os mobiles e uma das coisas que fizemos nesse sentido no ano passado foi adquirir Minecraft [em setembro de 2014, a Microsoft comprou a Mojang, produtora de Minecraft, por US$ 2,5 bilhões]. Uma das coisas que nos anima em Minecraft é como ele é forte nos dispositivos moveis. Acho que, para nós, é mais vantajoso focar em dispositivos móveis que as pessoas já têm e levar a experiência do Xbox para esses aparelhos, seja no trabalho que estamos fazendo com o Windows 10 ou outros lugares que podemos colocar nossos jogos.

Nós não faremos um portátil dedicado a games, pensamos em algo que funcione em um aparelho móvel e que rode jogos.

Gizmodo: Vamos falar do Kinect. O Kinect era um acessório importante no projeto inicial do Xbox One, mas agora não vemos muitos jogos para ele. O que aconteceu? Vocês pretendem continuar criando games para ele?

Phil Spencer: Eu já disso isso muitas vezes, os nossos consumidores que têm um Kinect são consumidores felizes, porque o usam o tempo todo para coisas como [comandos de] voz, para controlar sua TV, usam para Skype e outras coisas em que a câmera é usada, e também jogos como Dance Central e Kinect Sports Rivals.

Pelo lado da plataforma nós damos apoio ao Kinect, fazemos trabalho de desenvolvimento para ter certeza que os desenvolvedores possam fazer uso do Kinect. Mas não vou forçar ninguém a usá-lo. Alguns desenvolvedores acham boas maneiras de incorporar o Kinect a seus jogos e queremos dar suporte total a isso, outros decidem focar em algo mais baseado no controle tradicional. Então, eu quero dar escolhas a eles. Eu quero dar escolha aos jogadores sobre qual console comprar, seja com ou sem Kinect, e aos desenvolvedores que querem usar ou não o Kinect e estamos vendo sucesso nessa estratégia.

Gizmodo: Mas a Microsoft Game Studios está desenvolvendo algum jogo para Kinect?

Phil Spencer: Não temos nenhum anúncio para o momento sobre jogos exclusivos para Kinect.

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Phil Spencer durante a Xbox BGS Premiere, na quarta-feira (7), em São Paulo

Gizmodo: Um dos principais pedidos feitos pelos fãs de Xbox One é um novo modelo do console, um “slim”, como aconteceu com o Xbox 360. Há planos para o lançamento de um novo modelo?

Phil Spencer: Nós não temos nada por enquanto, esse é o console que estamos vendendo. Mas você vai ver isso na vida de qualquer console de longa duração e bem-sucedido, como fizemos com o Xbox 360. Eu acho que o Xbox One vai seguir isso também, só que não temos nada para anunciar agora, estamos concentrados nesse console. É um console confiável, que funciona bem, temos diversas edições limitadas que também funcionam bem.

Estamos vendendo mais consoles agora do que vendíamos o 360 na mesma época naquela geração, então o nosso esforço atual está no serviço Xbox Live, na plataforma, em levar uma nova experiência de usuário com o Windows 10 para Xbox One, e nos jogos, e é nisso que estamos gastando nossas energias. Estamos fazendo algumas coisas com hardware como o novo controle Elite, o aumento do armazenamento interno, e é basicamente isso o que estamos fazendo no momento.

Gizmodo: E em relação à realidade virtual? A Microsoft tem uma parceria com a Oculus, mas vocês planejam ter um dispositivo próprio de realidade virtual?

Phil Spencer: Não vamos dizer que não faremos, mas no momento, eu vejo o Windows como uma ótima plataforma para realidade virtual através da parceria com a Oculus que você citou. Também temos uma boa relação com a Valve, que está levando a sua realidade virtual para o Windows.

Eu vejo a plataforma aberta que é o Windows e vejo ele como um lugar saudável para a realidade virtual crescer e ter sucesso. E esse é o nosso principal esforço, além do que estamos fazendo com o HoloLens, que é mais uma mistura de realidade com holografia, e o dispositivo inteiro é aquele capacete. De algumas formas é mais difícil [o desenvolvimento do HoloLens], é um problema científico, de fazer uma realidade mista, e anunciamos a data de lançamento do HoloLens na semana passada. Mas esse espaço de realidade virtual, de holograma, é muito empolgante. Estamos sentindo uma grande energia na nossa parceria com a Oculus.

Gizmodo: Sobre a retrocompatibilidade, anunciada durante a E3, me corrija se eu estiver errado, mas vocês foram meio que pegos de surpresa com a reação do público para esse recurso. Vocês imaginavam que isso seria tão bem recebido?

Phil Spencer: Eu fiquei… mais do que surpreso. A equipe que fez o trabalho de retrocompatibilidade estava no auditório, e foi muito legal vê-los sentindo a reação dos fãs ao trabalho que eles estavam fazendo.

O Xbox hoje tem uma longa história, passando pelo Xbox original, pelo 360 e pelo One. Foi um grande momento para as pessoas entenderem que, como equipe de desenvolvimento de uma plataforma, queremos criar recursos que agradem também aos gamers antigos de Xbox. Não vamos cobrar dinheiro por retrocompatibilidade nem cobrar assinatura, você tem o jogo e pode jogá-lo no Xbox One. E a reação foi fantástica. Os fãs de Xbox são muito comprometidos com a marca e com as franquias. Foi surpreendente, mas, mais do que surpreendente, foi inspirador.

Gizmodo: Há quanto tempo vocês vêm trabalhando na retrocompatibilidade?

Phil Spencer: Um ano. Começamos perguntando o que os consumidores queriam através do Xbox.com, e a retrocompatibilidade estava no topo da lista dos pedidos. Acho que todo mundo pensava “ah, eles nunca vão fazer isso”. Mas sabíamos, como equipe, que essa era uma coisa que queríamos fazer.

Nossa visão é de que você consiga jogar jogos de Xbox em diversos dispositivos. E se quisermos fazer isso, nós sabemos que jogar no Xbox One na TV é ótimo, mas também temos o streaming do Windows 10. Então a nossa visão é de permitir que as pessoas joguem Xbox onde estiverem, com quem quiserem jogar. Levar um ótimo catálogo como o do Xbox 360 ao Xbox One foi um passo natural nessa direção. Quando recebemos o feedback dos nossos fãs, já tínhamos uma direção estratégica de para onde estamos indo, e sabíamos onde a retrocompatibilidade se encaixava nessa estratégia.

Mas não sabíamos como trabalhar. O Xbox 360 tem arquitetura PowerPC enquanto o Xbox One é um x86, e para fazer uma tradução para isso… os jogos são muito dependentes de timing e precisão. Como faríamos aquilo funcionar? Não sabíamos. Depois de começarmos, levamos uns oito meses até encontrar uma luz, algo que talvez pudesse funcionar. Foi lá para janeiro ou fevereiro que pensamos “isso vai funcionar, e devemos pensar no anúncio para a E3 e o lançamento para novembro, e todo mundo vai poder jogar”. Vamos começar com uns 100 jogos e temos planos para mais títulos no futuro.

Gizmodo: Tem um título específico que ainda não foi anunciado e que pode estar na retrocompatibilidade? Seja do Xbox 360 ou até mesmo do primeiro Xbox?

Phil Spencer: Ainda não trabalhamos com o Xbox original. Tudo será Xbox 360.

Gizmodo: Mas vocês planejam, para o futuro, incluir jogos do Xbox original?

Phil Spencer: É uma coisa que eu quero fazer. É uma questão de prioridade. Eu adoraria ter a capacidade de jogar Xbox 360 no PC em algum momento também, então tem coisas diferentes que temos que pensar quando planejamos essas coisas. Mas seria ótimo ter suporte aos jogos do Xbox original. Então sim, eu quero fazer, mas tem muitas outras coisas que queremos fazer também. As pessoas brigam comigo por não termos música de fundo (risos), então temos muito trabalho a fazer. O que é ótimo! É ótimo ter esse feedback.

Sobre os jogos que vocês ainda não sabem que serão retrocompatíveis, sim, terão. Mas eu não posso falar.

Gizmodo: Nem um jogo? Só um jogo! Halo Wars?

Phil Spencer: Não, não, [o lançamento] está bem perto, não vou revelar os segredos. Falta um mês! Vocês vão ter que esperar um mês, senão não teremos grandes surpresas. Acho que as pessoas se surpreenderão com alguns dos jogos que disponibilizaremos.

Fotos: Daniel Junqueira

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