Jogando boliche com o criador: Vint Cerf fala sobre viagens no tempo, pornografia e vício em internet

Dizem que sucesso tem muitos pais, mas o fracasso é órfão. Julgando por esse padrão – ou qualquer outro – a internet é um sucesso. Al Gore inventou. Tim Berners-Lee conseguiu um título de nobreza por causa dela. Todo mundo usava antes de se tornar legal. Mas apenas dois homens alguma vez tiveram o título […]

Dizem que sucesso tem muitos pais, mas o fracasso é órfão. Julgando por esse padrão – ou qualquer outro – a internet é um sucesso. Al Gore inventou. Tim Berners-Lee conseguiu um título de nobreza por causa dela. Todo mundo usava antes de se tornar legal. Mas apenas dois homens alguma vez tiveram o título de “Pai da Internet”. Um deles é o cientista da computação Bob Kahn. O outro é Vint Cerf.

Se é difícil apreciar a conquista de Vint Cerf, é porque ela está em todos os lugares. Em algum momento de 1973, Vint Cerf e Bob Kahn encontraram uma forma de fazer máquinas conversarem umas com as outras usando um protocolo chamado TCP/IP. O protocolo era simples, elegante e contagiante. Praticamente qualquer coisa poderia usá-lo. Pessoas diziam que ele rodaria em duas latas conectadas por um pedaço de corda. Hoje, ele roda em tudo. Não apenas em computadores. Na “Internet das coisas”, termostatos, refrigeradores e torradeiras usam. Programação de televisão e redes de telefones estão ligadas nele. É como se o babelfish de Douglas Adams fosse reduzido a uma série de pacotes. Quando nós finalmente nos curvarmos aos nossos líderes robôs, provavelmente vamos ter que aprender a falar TCP/IP para implorar por nossas vidas. Obrigado, Vint.

Os interesses e realizações de Vint Cerf vão longe. Quando conversamos, ele estava trabalhando em problemas de latência associados ao envio e recepção de sinais de rede do e para o espaço. E ele também estava preocupado com o aquecimento global. Obviamente, tinha muito mais coisa para descobrir sobre Vint Cerf.

Mas o que realmente queríamos saber era como o pai da internet faria para acertar pinos de boliche separados.

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GIZMODO: Pelo que eu entendo, muito do trabalho que você fez veio da DARPA, e a DARPA era uma agência que tinha que pensar em grandes ideias, não em necessidades imediatas, mas coisas a longo prazo. E de certa forma ela foi uma resposta a grandes ideias como Sputnik.

Vint Cerf: Isso é parcialmente certo, apesar de eu achar que a DARPA não se caracterizava apenas por grandes ideias. A forma como eles caracterizariam a DARPA era “problemas difíceis” que são coisas super arriscadas que você não está tentando encontrar uma solução, e ninguém mais está enfrentando. Assim, eles não estavam interessados em fazer algo que mais alguém estava fazendo, não estavam interessados em competir com ninguém.

No caso da internet, essa era uma exploração desta tecnologia particular, a troca de pacotes, que era considerada maluca no momento, pela comunidade de telefonia convencional. A AT&T não queria nada com aquilo, não ia funcionar, eles não queriam gastar o tempo naquilo. Eles estavam felizes em emprestar circuitos dedicados aos idiotas que queriam criar essa coisa de ARPANET. Então o problema da DARPA tinha alto risco e altíssimo retorno, se você realmente conseguir fazer funcionar. E muito do que eles faziam era chegar ao limite de quase qualquer coisa.

Quando começamos em 1958 queríamos chegar ao espaço. Porque Sputnik provocou todas as coisas dentro de nós nos Estados Unidos. O que precisamos é de mais momentos como Sputnik, na verdade. Se estivéssemos olhando, genericamente, para uma forma de galvanizar o país, o momento do Sputnik era o que precisávamos. Eu achava que teríamos isso com o aquecimento global, mas ele não vai acontecer instantaneamente para criar um sentimento de que se não fizermos algumas coisas estaremos em apuros. É o tipo de coisa que é cozida lentamente, como um sapo durante um experimento.

GIZMODO: Que tipo de babaca cozinha um sapo na água só para ver se ele vai morrer? Então este é o alto risco, alto retorno…

VC: Agora nós temos muitas coisas de alto risco em relação à mudança climática global. E a recompensa é certamente a sobrevivência. Mas muitas pessoas simplesmente não entendem, e isso é fascinante.

GIZMODO: Então você é um ambientalista?

VC: Bem, não me qualifico para ser um ambientalista, mas acredito que temos um problema. Os níveis de CO2 estão altos demais. A coisa que me assusta mais do que qualquer outra são os hidratos no fundo oceano. Os hidratos de metano. Agora eles estão sequestrados porque as temperaturas estão baixas o suficiente. Mas há evidências, evidências geológicas, de que os hidratos estão começando a derreter. E eles liberam o metano. O metano é 27 vezes pior do que o dióxido de carbono; é um gás do efeito estufa. Por isso provocou um aumento significativo de vários graus durante um período de não sei quantas centenas ou milhares de anos.

De qualquer forma você não veio falar sobre isso. Mas é uma coisa que me assusta, não é o problema do CO2, mas se ele provocar alguma coisa imparável… nós podemos ser uma espécie esperta, mas talvez não inteligentes o suficiente para entender como podemos sobreviver se tiver um aquecimento global significativo.

GIZMODO: Até que seja tarde demais. Até que essas situações de alto risco já estejam…

VC: Já estão acontecendo.

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VC: O que você quer falar? Espera, você sabe o que a DARPA acabou de fazer? Esse projeto que começou no laboratório de propulsão a jato em 1998. Extensão interplanetária da internet. Eles dizem que falam sério sobre isso. Já fizemos o design, temos os planos, estamos na estação espacial… eles estão a bordo de sondas científicas de Marte. A DARPA financiou o teste, inicialmente, para táticas militares em ambientes simulados.

GIZMODO: É a ruptura da tolerância de latência?

VC: A DARPA lançou mais um estudo de meio milhão de dólares sobre o design de uma nave espacial para chegar à estrela mais próxima em um período de cem anos. Então eu sou parte da equipe que venceu isso… é uma concessão. Não é um contrato, é uma concessão. E é apenas um estudo, ninguém vai construir nada. Mas os problemas e desafios são absolutamente fantásticos. Em primeiro lugar, precisamos atingir a 20% da velocidade da luz para chegar lá, para o ponto médio em 50 anos… caso contrário você voa ao redor do sistema Andrômeda e tira duas fotos, e é o fim. Não é bom o suficiente. Então você precisa diminuir a velocidade para entrar em órbita. Em segundo lugar, os sistemas de propulsão atuais nos levariam até lá em 65.000 anos. Então temos muito trabalho a fazer.

E existe a comunicação. Como você gera um sinal para quatro anos luz de distância que você consegue detectar. Então esse é o meu problema, pensar sobre isso. E então tem a navegação. Estrelas não são o que parecem ser. A luz leva tempo para chegar lá. Então elas são falsas. Você precisa imaginar… você está a um ano luz de distância da Terra, e precisa descobrir o que fazer. Como fazer correções no meio do caminho? E você não pode fazer isso remotamente, certo? Porque leva um ano para o sinal de luz ir e voltar. Quando você falar “Você tem que fazer isso”, eles já estão a mais um ano luz de distância.

GIZMODO: Mais ou menos um ano luz.

VC: Então de qualquer jeito é um projeto que talvez nem seja lançado enquanto eu estiver vivo, mas não me importo. É uma daquelas coisas que nós fazemos parte.

GIZMODO: Isso é para a DARPA ou para o Google Maps?

VC: (risos) É para a DARPA, neste caso. Mas já temos o Google Mars, Google Moon, Google Sky e Google Earth.

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GIZMODO: Qual é o próximo?

VC: Você sabe o que eu gostaria de fazer? Gostaria de fazer algo com o Google Earth onde você dá um zoom e descobre a fauna e flora, e outras coisas. Que tal uma enciclopédia da vida? O que tem aí? O que pode crescer por aí?

GIZMODO: Que tipo de mofo está no seu telhado? (risos)

VC: E então, que tal o universo interior? Não fizemos nada a respeito… nós fizemos poucas coisas com o oceano, mas não muito sobre o que está na terra. E se você olhar dentro de organismos? Pessoas… nós faremos um Google organismos. E humanos são uma escolha interessante. Porque nós temos quantidades enormes de DNA bacteriano em nossos corpos. Cem vezes mais DNA bacteriano do que DNA humano. Mas crescemos, evoluímos com essas coisas.

GIZMODO: Você já se procurou no Google no trabalho?

VC: Não costumo fazer isso. Mas eu deixo um Google Alert preparado porque é bom saber quem está me atacando agora. Mas não. Na verdade sou razoavelmente bem tratado. Há um pouco de desavença agora com a FCC porque eu fui um pouco crítico com o relatório de banda larga.

GIZMODO: Qual relatório de banda larga?

VC: Você sabe, todo ano a FCC faz um relatório para ver como estamos desenvolvendo a banda larga. E você sabe, este aqui, este relatório; todo servidor de internet está entre 85% e 107% da sua capacidade anunciada, ou largura de banda. E eu não acho que nenhum de nós na comunidade de pesquisa que mediram essas coisas viram números próximos à banda anunciada. Então muitos de nós estamos coletando dados independentemente de qualquer coisa que eles usam para gerar o relatório, e nós vamos comparar para ver o que acontece.

GIZMODO: Quais são os dados que a FCC usa?

Bem, existe uma empresa chamada Sam Knows que eles contrataram, e eles tem servidores por aí onde fazem as medições. Estamos confusos com o resultado extremamente favorável, pelo menos eu considero assim. Mas não sabemos como avaliar isso até que eles lancem os dados. Então uma das coisas que a minha equipe no Google está fazendo é tentar pegar os dados, e a metodologia usada para coletar e analisar as estatísticas. Para que a gente possa reproduzir.

GIZMODO: Você se lembra de Matthew Broderick no filme Jogos de Guerra?

VC: Sim, foi em 1982, mais ou menos?

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GIZMODO: 1981, 82? Quais eram seus pensamentos na época?

VC: Bem, é claro que era uma filme besta de fantasia. Não seria fácil para uma criança hackear daquele jeito. Por outro lado, era um filme divertido. Como qualquer outro entretenimento, certo? Isso é chamado de suspensão voluntária de descrença para que você possa se divertir. É por isso que continuo lendo O Senhos dos Anéis, Harry Potter, O Mágico de Oz.

GIZMODO: Jogos Vorazes?

VC: Na verdade não vi nem li isso. Talvez eu deveria. Sou um grande fã de ficção científica, mas normalmente coisas dos anos 50 e 60. Um ótimo momento. Ray Bradburry, que morreu recentemente. Orson Scott Card, um mais novo. Ele escreveu O Jogo do Exterminador. Ele tem cerca de 15 ou 16 livros. Então são essas pessoas que eu costumo ler.

GIZMODO: Você pegou a série Duna?

VC: A série Duna? Eu li o primeiro. E então eu meio que… foi meio como ler Guerra e Paz de Tolstói. Mas eu também lia um cara que morreu que era do JPL, ou Caltech, um desses caras. Robert L. Forward. Que é um astrofísico. Nos livros ele se prende a coisas reais. E no apêndice ele diria “É assim que você constrói uma máquina do tempo.” E você sabe, tirando o fato de que precisaria de uma quantidade de energia que não temos agora “Oh, você precisa de um monopólio ou dois, ou cinco”. Mas era um físico de credibilidade, ou um pouco extrapolado. E agora o bóson de Higgs foi descoberto. Você pode meio que ver alguém começar a extrapolar a teoria da gravidade quântica, porque agora você tem uma partícula que supostamente serve para imbuir as coisas com massa. Uma vez que você tem a partícula e o campo de força para massa, você começa a trazer noções gravitacionais para o modelo padrão. Isso é animador.

GIZMODO: Então seria como um grande imã?

VC: Bem, o que deve acontecer – o livro que você deveria ler é chamado Time Masters, é sobre um cara que consegue criar uma distorção espacial, é como um wormhole, tem a propriedade estranha quando você vai de uma extremidade a outra mais rápido que a luz, se estivesse viajando através de uma geodésica no universo. E assim que você conseguir isso você faz uma máquina do tempo. Se você gostar das consequências de ser capaz de fazer isso e gostar do fato de que é uma extrapolação da física conhecida, para mim é bastante divertido. Porque então você consegue imaginar que pode ser possível.

GIZMODO: E sobre Philip K. Dick?

VC: Não muito. Por mais que eu goste de O Senhor dos Anéis e Harry Potter… eu não gosto que mexam com a minha ciência. Então não mexa com a minha ciência.

GIZMODO: Então não existe ciência em Harry Potter?

VC: Bem, tem a varinha, mas…

GIZMODO: A maior parte das pessoas vai reconhecer que o uso principal da internet é para ser uma ferramenta global para acesso rápido e confiável a pornografia. Quais são seus pensamentos por ser o pai desse veículo?

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VC: Antes de tudo, o que eu acho que é mais aparente sobre a rede, e a coisa que eu me tocou como sendo a mais interessante, é que depois de Tim Berners-Lee agregar a ideia do World Wide Web, ele codificou maneiras de apontar conteúdo e de transportar conteúdo, que são o HTTP e o HTML. A implementação dessa ideia foi seguida pelos navegadores e servidores.

Quando ele fez isso, era por volta de 1989, e o release oficial dos seus primeiros navegadores e servidores saiu em 25 de dezembro de 1991. E ninguém notou. Exceto dois caras, que se chamam Mark Andreessen e Eric Bina, do Centro Nacional de Aplicações para Supercomputadores. Eles desenvolveram o Mosaic, que foi a primeira versão gráfica dessa coisa. Quando ela apareceu, por volta de 92, todo mundo ficou maluco. Porque, de repente, a rede era colorida, era imagética, não era mais só texto. Você não tinha mais que saber UNIX e algumas linhas de programação. De uma hora para outra, qualquer pessoa podia usar a rede, pois ela era visualmente intuitiva.

Uma das lições que eu aprendi com isso é que, assim que você torna fácil para as pessoas criarem e compartilharem informação, elas fazem isso. Elas não estão atrás de compensações monetárias. O que elas querem é a satisfação por algo que elas sabiam, compartilharam, e é útil para outra pessoa. Então, há esse tsunami de conteúdo, o que, claro, cria imediatamente a necessidade de algum tipo de motor de busca, porque você não consegue encontrar nada nesse oceano.

Então, ver as pessoas colocarem informações na rede era muito empolgante. Claro, isso significava que o público geral ainda tinha que ter acesso a isso. E há toda uma história sobre finalmente chegar nesse ponto. Até 1988, nenhum acesso estava disponível para o público geral. Havia apenas coisas bancadas pelos governos, sejam pesquisas universitárias, departamentos de defesa ou outro tipo de coisa estatal. Alguns de nós trabalhamos muito duro para quebrar essa limitação.

A partir do momento em que o público geral conseguiu a isso mais às ferramentas da web, eles começaram a gerar conteúdo. Havia um outro truque que pode ter sido intencional, mas não necessariamente com esta intenção em mente, mas conseguia ter esse efeito. Era a possibilidade de olhar para uma página web e perguntar para o navegador “Como isso foi gerado? Mostre-me o HTML.” Isto é, ver ou exibir o código-fonte. Então todos que estavam curiosos sobre como fazer páginas da web aprenderam a fazer isso com as outras pessoas que já tinham feito uma. E fizeram isso apenas olhando o código. E elas podiam brincar com isso, podiam copiar, não havia controle de acesso, não havia restrições à propriedade intelectual, as pessoas podiam simplesmente colocar suas páginas.

Então, tivemos webmasters que se inventaram de fato, aprendendo a partir de todo mundo. E isso foi se propagando. Isso é parte do que disparou esta avalanche. Qualquer um que quisesse podia escrever seu próprio HTML. Então, a exposição do mecanismo permitiu que o público em geral fizesse o que ele bem entendesse, e claro que isso é um reflexo da nossa sociedade. A Internet é como um espelho. Ela reflete o que a sociedade é. Então, as pessoas ficam irritadas com pornografia e discurso de ódio, e ficam bravas com sites de terrorismo. Eu digo, todas essas coisas ruins. Ou fraudes, abusos, stalking, todas essas coisas ruins que acontecem. É verdade, elas acontecem sem a Internet, e acontecem também na Internet, porque o público geral está lá. Bem. Então temos aqui este espelho mostrando todas essas coisas ruins. A questão é, então: o que acontece quando você vê coisas ruins no espelho? Bem, você não conserta o espelho. A Internet é um espelho. Ela não faz nada bom. Consertar a Internet não vai consertar o problema. Você tem que consertar as pessoas que estão sendo refletidas no espelho.

GIZMODO: Um problemão para DARPA!

GIZMODO: Apenas voltando no TCP/IP por um segundo, eu acho que isto é bem interessante em 1973… agora nos vivemos num mundo em que cafeterias têm um endereço IP. Em que a TV está migrando para o IP, tudo, quase todos os pedacinhos de dados que flui através do mundo é —

VC: Embalado num pacote IP.

GIZMODO: Certo. Então, em 1973, você tinha alguma ideia do que você estava fazendo, e esta é uma questão secundária, mas por um instante eu lembro que se você instalava redes no começo dos anos 90, havia outros protocolos estranhos. Havia NetBIOS e IPS-XPS e todas essas coisas. Por que o TCP/IP venceu?

VC: Foi uma batalha enorme. Deixe me tentar responder suas duas perguntas. A primeira é, nós tínhamos alguma pista do que ia acontecer? E claro, uma resposta honesta e literal seria não, mas não seria precisa. Você tem que entender que, em 1973, a ARPANET já estava em operação desde 1969, o começo dos anos 70. Então, nós tínhamos três anos de experiência com ela. A razão para isso ser importante é que, por volta de 1971, o email já havia sido inventado. A questão era anterior, no tempo das máquinas, em que você tinha que mandar arquivos para alguém, o que não tinha a mesma utilidade do email. Quando ele apareceu, por volta de 1970, foi um hit instantâneo. Logo virou um fenômeno social. Listas de email foram criadas rapidamente depois do email aparecer. E as duas primeiras que eu lembro eram a Sci-fi Lovers e a Yum Yum. Olha só, nós somos um bando de geeks!

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GIZMODO: E o fórum um, vamos lá.

VC: Na verdade, essas coisas apareceram — Yum Yum eram reviews de restaurantes vindas de Palo Alto. Sci-Fi Lovers, eu não sei quem começou mas você sabe, nós falávamos dos livros que gostamos.

A pornografia não aparecia aí. Ela deu as caras na Usenet. Usenet é outro fenômeno que temos aqui. É UNIX e UUCP. A Usenet era uma estrutura muito inteligente para colocar alguma coisa na corrente e atingir todo mundo. Há grandes discussões sobre quem administra, quais são os tópicos, e outras coisas assim. Foi aí que isso começou, o compartilhamento de imagens digitalizadas, e notícias em texto, e coisas assim.

O que era interessante para nós é que, eventualmente, a Usenet imerge na Internet. Isso também aconteceu com vários outros sistemas. BITNET usa protocolo de transferências de arquivo, ou envio de partículas remotas, para mover as coisas de uma máquina para outra. E mesmo assim, ela cresceu demais… eventualmente ela também ficou submergida na Internet também. Todos esses sistemas migraram para a Internet, simplesmente porque a infraestrutura dela continuou crescendo e estava disponível. E isso começou em parte por causa da comunidade acadêmica, e investimentos feitos por organizações como a National Science Foundation. Na verdade, gastaram dinheiro usando conexões internacionais para ligar outras redes de pesquisa fora dos EUA ao resto da Internet nos EUA. Então, esta prática regular de expandir o sistema para além do ponto de vista governamental foi muito importante.

GIZMODO: Quanto tempo do seu trabalho você passa navegando na Internet?

VC: Não muito. Eu não fico navegando apenas pelo prazer de navegar. Eu estou conectado, entretanto, usando muito o Google. Mas é em grande parte para pegar informações específicas que preciso. Se estou escrevendo um artigo ou preparando um discurso ou fazendo outra coisa, tentando desenvolver um argumento político, eu estou frequentemente buscando mais informações sempre que eu posso. Mas nunca apenas navegando aleatoriamente. O que eu acho mais fascinante… eu costumava escrever — há muitos, muitos anos, eu escrevia as coisas à mão. E alguém iria datilografar isso. Então vieram os programas de processar palavras, e eu gostei porque eu podia digitar rapidamente. E depois de alguns anos usando estes programas, eu descobri que eu não queria escrever nada mais.

Eu preferia ter essa ferramenta acessível. Então eu descobri, quando acabou a luz e eu fiquei sem internet, e eu estava no meio de algum texto, bem, eu ainda tinha meu laptop e bateria… Eu não queria escrever ao menos que eu estivesse online. E o motivo era que eu não tinha a liberdade de ir procurar alguma coisa enquanto escrevia. Eu quero dizer, você começa a escrever e percebe que não sabe alguma coisa. E a possibilidade de abrir uma página e procurar alguma coisa no Google… eu fiquei surpreso por não querer sentar lá e digitar texto quando não estava conectado. Eu não tinha percebido isso.

Então, eu fiquei muito viciado em ter acesso a informação todo o tempo. Parece que nós estamos ficando acostumados a isso porque temos o jargão da informação em nossas bolsas ou algo assim. Eu não sei o que nós fazíamos quando ficávamos perdidos.

GIZMODO: Você acha que há implicações psicológicas causadas por esse vício?

VC: Houve alguns relatos de pessoas que dizem que são viciadas em internet. Há quem diga que você deve pegar uma hora por dia e simplesmente se desconectar. Só para lembrar como é não estar conectado. Alguém disse que nós estamos ficando idiotas pois não lembramos de mais nada, só usamos o Google?

Mas minha reação a essa linha de argumentação em particular é imaginar que você acabou de inventar a escrita. E o contador de histórias do vilarejo está indignado com a ideia. Ele diz, “Isso é terrível. Ninguém vai lembrar mais nada. Vão só escrever. É terrível, nossas memórias vão se desintegrar.” E agora nós sabemos que a escrita se tornou algo muito importante.

Uma coisa com que eu realmente me preocupo é o potencial de perder o pensamento crítico. Aqui vai uma pequena história. Eu estou dando uma palestra, e a professora levanta e diz que ela está muito irritada com a Internet. Agora, por quê isso? Os alunos vão para a sala com seus laptops. E eles estão conectados. E agora eu fico pensando que ela vai reclamar que eles ficam no Facebook ou fazendo outras coisas? E eu falo, bem, o que eles fazem? Ela diz que eles procuram as coisas de que ela fala. E eu digo, qual o problema…? Bem, eles discutem. Mas isso é bom! Isso significa que estão comprometidos! Você deve considerar isso um bom sinal.

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Então, eu digo que você deveria tirar proveito disso. Eis o que você deve fazer. Você dá às pessoas a possibilidade de escolher qualquer uma de dez páginas, você os dá as páginas para a pessoa e ela escolhe uma. Sua tarefa deve ser olhar aquele website e analisar o conteúdo, voltar e explicar por que você deve ou não acreditar nele. Ou quanta credibilidade tem o site? VOCÊ precisa documentar seus resultados. E esse trabalho não acaba se tudo que você faz é usar fontes online. Há um lugar chamado biblioteca e lá tem essas coisas chamadas livros. E nem toda biblioteca está conectada. E se você fazer uma diligência prévia na qualidade e no conteúdo daquele site, você vai ter que ir à biblioteca também.

Então, você precisa demonstrar essas duas coisas. O nome disso é pensamento crítico, e é a habilidade mais importante que você pode ter. Não apenas porque há várias informações erradas na rede. Há informações erradas em todo o lugar. Você acha isso em jornais, revistas, TV, rádio, filmes, seus amigos, seus pais… todos eles estão sujeitos a não entender direito alguma coisa. Esta noção de ensinar as pessoas a serem céticas com relação ao que elas leem e ouvem ou veem é uma habilidade muito importante. Não tem que ser rude, não tem que ser “você é um mentiroso e eu não acredito em nada do que você diz”, é meio que eu quero tentar e decidir sozinho.

E eu acho que se nós não fizermos isso, vamos acabar com um monte de pessoas que não têm qualquer discernimento. Porque não vamos ter a capacidade de analisar coisa alguma. E eu considero esse o maior perigo.

Fotos por John Ulaszek.

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