Frio no escritório? Culpe a equação usada no termostato do ar-condicionado

Uma equação de conforto térmico criada na década de 1970 pode ser a responsável por fazer o escritório que você trabalha tão frio. Ou quente.

Se você trabalha em um escritório, as chances de você se sentar do lado de uma pessoa que reclama da temperatura estar muito quente ou muito fria são grandes. Ninguém gosta de se esfregar para se aquecer em um dia de verão por causa de baixas temperaturas do ar condicionado, e ninguém gosta de tirar uma das muitas camadas que vestiu para o inverno para compensar o calor do escritório.

Mas de acordo com um estudo publicado na Nature Climate Change, este cenário é mais comum se você for uma mulher. Os sistemas de controle de temperatura em escritórios são normalmente ajustados com base em uma antiga fórmula de conforto térmico que leva em conta o tamanho do corpo e o metabolismo basal – que são geralmente menores no caso das mulheres. E isso, de acordo com os autores, gasta energia à toa.

O que é conforto térmico?

Manter funcionários de um escritório em temperatura adequada, nem muito quentes, nem muito frios, não é tarefa fácil. Enquanto a maioria dos aparelhos de ar condicionado em escritórios controlam apenas a temperatura do ar, a forma como transferimos calor em um ambiente depende de uma série de fatores ambientais. É assim que também funciona o conforto térmico.

Engenheiros devem levar em consideração:

  • a umidade
  • a movimentação do ar (velocidade do vento)
  • a temperatura da radiação (a temperatura de tudo que o corpo pode “ver”)
  • a temperatura de tudo o que tocamos

Nos anos 1970, o engenheiro dinamarquês Ole Fanger desenvolveu um modelo para determinar a combinação de variáveis ambientais que poderíamos achar confortável.

A transferência de calor também depende de fatores individuais, como o tamanho do corpo (e desta forma a área de superfície corporal), metabolismo basal (que determina a produção de calor do metabolismo), isolamento de tecido (relacionada a quantidade de gordura corpórea) e vestes, entre outros. Por isso, os próprios experimentos de Fanger mostraram que nenhum ambiente térmico de escritório poderia satisfazer a todos.

Mesmo depois de Fanger, sabíamos que, com as baixas velocidades dos ventos em escritórios, a transferência de radiação térmica importava mais que a transferência de calor por convecção. Em outras palavras, a temperatura da radiação é mais importante para o conforto térmico que a temperatura do ar. É possível argumentar que escritórios deveriam ter condicionadores de ar para as paredes, em vez de condicionadores para o ar em si.

No estudo publicado na Nature Climate Change, os pesquisadores holandeses Boris Kingma e Wouter van Marken Lichtenbelt mostram que, caso o termostato esteja configurado para homens, como ele geralmente é, a temperatura do ar estará muito baixa para mulheres.

Como as mulheres são menores, os autores explicam, elas geram menos radiação metabólica do que homens, e assim não se sentem tão confortáveis no inverno em escritórios com temperaturas configuradas para homens.

Pela mesma lógica, se um termostato está configurado da forma que europeus os configuram, a temperatura será muito baixa para asiáticos, que pesam, em média, 30% menos que os europeus.

Em países como a Austrália e a África do Sul, configurar o termostato para satisfazer pessoas grandes no verão deixa pessoas menores sentindo muito frio.

Mas enquanto as equações de Fanger preveem conforto térmico — quão satisfeitos estamos com o ambiente térmico — essa é apenas uma das funções corporais relevantes para a questão de como configuramos o termostato.

Mais do que apenas conforto

A transferência de calor também afeta o controle da temperatura corpórea (como nossos corpos são), sensação térmica (quão quente ou frio sentimos que o ambiente é) e nosso desempenho (quão bem fazemos uma tarefa em particular).

Estas funções corpóreas não são necessariamente correlacionadas. Em um banho quente, por exemplo, a temperatura do nosso corpo se eleva e nos sentimos quentes, mas ao conhecermos o critério para conforto térmico de Fanger não iríamos querer que essa temperatura estivesse diferente.

Executamos algumas tarefas cognitivas e físicas melhor quando estamos levemente desconfortáveis com o frio. Mas a destreza manual é melhor quando executada a 32°C do que a 20°C.

A execução de algumas tarefas cai quando a temperatura do corpo aumenta, mesmo quando não sentimos o calor do ambiente. Por essa razão, e outras expostas na Nature Climate Change, crianças têm um desempenho pior em tarefas de aprendizado em classes que professores acreditam terem uma temperatura adequada. Talvez as crianças menores deveriam configurar a temperatura do termostato.

E como se toda essa complexidade não fosse o suficiente, pesquisadores australianos desafiaram o conforto térmico que Fanger determinou nos anos 1970 na base do conceito de conformo térmico adaptável. Deveríamos configurar o termostato na mesma temperatura durante os invernos, eles questionaram, quando estamos acostumados a ambientes internos mais gelados, como no verão?

Alguns ocupantes de escritórios nos trópicos querem o termostato configurado em temperaturas maiores que as previstas por Fanger. Há 30 anos, pessoas de descendência europeia vivendo na cidade de Darwin, na Austrália, rejeitaram o ar condicionado durante temporadas mais secas (julho e agosto) porque se sentiam frias demais. Apesar de não ser claro se o mesmo ocorre com habitantes atuais, muitos que usam o ar-condicionado em casa dizem o mesmo.

Então, o que podemos fazer?

Nós certamente podemos, de forma simultânea, manter o conforto térmico e exigir menos do termostato se estivermos dispostos a vestir roupas mais quentes nos escritórios durante o inverno, e roupas mais frescas durante o verão. A escolha das roupas também ajudaria a solucionar o dilema de providenciar o conforto térmico tanto para homens quanto para mulheres em um mesmo escritório.

No novo estudo da Nature Climate Change, os autores estimam que o consumo de energia de residências e escritórios “adiciona cerca de 30% das emissões de dióxido de carbono”.

É verdade, poderíamos reduzir substancialmente a energia necessária para criar ambientes térmicos aceitáveis em escritórios e consequentemente diminuir a quantidade de gases do efeito estufa. Mas, para esta abordagem, precisamos primeiro abandonar a compulsão por criar um ambiente de camisetas em escritórios e variar o termostato entre o verão e o inverno.

Nós também precisaríamos instaurar condicionadores de parede, em vez de condicionadores de ar, e usar engenharia favorável ao meio ambiente para projetar a temperatura ideal dos prédios. Podemos ficar confortáveis sem a necessidade de danificar a Terra.


Shane Maloney é professor e diretor da escola de Anatomia, Fisiologia e Biologia Humana na Universidade da Austrália Ocidental. Andrea Fuller é professora da Escola de Fisiologia; Diretora, do Grupo de Pesquisa das Funções Cerebrais na Universidade de WitwatersrandDuncan Mitchell é pesquisador professoral honorário na Universidade de Witwatersrand, em Johanesburgo; professor adjunto na Escola de Anatomia, Fisiologia e Biologia Humana na Universidade da Austrália Ocidental.

Este artigo foi originalmente publicado no The Conversation. Leia o artigo original neste link.

Foto de capa: Bonnie Natko/Flickr

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