Uma erupção solar quase provocou uma guerra nuclear em 1967

Uma erupção solar em 1967 fez parar um sistema de radar do EUA, o que levou autoridades a acreditarem que a União Soviética os atacaria

Em 23 de maio de 1967, a Força Aérea dos Estados Unidos estava pronta para lançar mísseis nucleares a partir de aviões. Na ocasião, sistemas de radar feitos para detectar mísseis russos sofreram uma interrupção, no que os militares acharam ser o início de uma guerra. Porém, antes de a arma nuclear ser lançada em retaliação, o comando da Força Aérea recebeu ordens para recuar.

O que aconteceria se uma tempestade solar gigantesca atingisse a Terra?
O desproporcional tamanho de uma erupção solar comparada com a Terra

No momento exato, o recém-inaugurado Solar Forecasting Center (Centro de Previsões Solares) conseguiu entender a causa real do alarme do radar: uma sequência de poderosas erupções solares. Essas informações, disponibilizadas em um novo estudo histórico militar, descrevem como estivemos perto de nos matar por causa de uma questão meteorológica espacial. “Isso é o que podemos caracterizar como um quase acidente”, diz a autora principal Delores Knipp, ex-oficial das Forças Aéreas e astrofísica da Universidade de Colorado (Boulder), ao Gizmodo.

O clima espacial é bastante afetado quando o Sol lança em nossa direção esses materiais de alta energia durante períodos de atividade intensificada. Tudo começa com uma explosão solar que envia uma explosão de raio-X e luz ultravioleta pelo espaço. Quando estes sinais atingem a parte superior de nossa atmosfera, a ionosfera, isso atua como um pulso eletromagnético, removendo elétrons dos átomos e criando uma carga elétrica tremenda.

Isso faz com que dispositivos a rádio parecem de funcionar, como Thomas Berger, diretor do centro de previsão espacial no Noaa, disse ao Gizmodo no ano passado:

Comunicações via rádio são frequentemente impactadas. Ao longo do horizonte, a comunicação com esse meio fica difícil. Quando aviões voam pelos polos, a única forma que eles usam para para se comunicarem com as centrais de comandos são altas frequências que ficam saltando pelos continentes. Porém, essa dificuldade é só algo temporário, que dura de dez minutos a no máximo horas.

Após uma explosão gigante, o Sol tipicamente solta nuvens gigantes de plasma magnetizado, conhecidas como ejeção de massa coronal. Esta bolha em slow-motion pode levar entre 12 horas e vários dias para chegar à Terra, mas é responsável por uma das mais severas consequências no clima espacial, incluindo auroras boreais e blecautes generalizados.

Como foi enfatizado por Berger, o clima espacial é geralmente uma dificuldade temporária. No entanto, isso pode levar a problemas maiores se os poderosos não entenderem o que está acontecendo, como ilustrado pela grande tempestade solar de maio de 1967. Naquele tempo, o exército dos Estados Unidos começou a monitorar rotineiramente a atividade solar através de uma rede de observadores no Serviço de Clima da Força Aérea, que fornecia atualizações diárias para os analistas do NORAD (Comando de Defesa Aeroespacial da América do Norte).

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Vista do Sol em 23 de maio de 1967. A região mais brilhante na parte central mostra o brilho da área de onde saiu a tempestade solar. Imagem por National Solar Observatory

Uma quase tragédia

Em 18 de maio, observadores notaram um grupo de pontos do Sol concentrados em uma única área da superfície. Durante a tarde de 23 de maio, várias explosões solares brilhantes foram observadas e fotografadas na sequência — inclusive uma que mais tarde seria classificada como a maior explosão solar do século XX. Logo após as erupções terem sido observadas, o Centro de Previsão Solar do Norad soltou um boletim informando sobre uma significante tempestade geomagnética mundial nas próximas 36 ou 48 horas.

A previsão, no entanto, não chegou tão rápido. Assim que foi emitido o alerta, as forças aéreas estavam preparando aeronaves, como resposta ao fato de o BMEWS (Ballistic Missile Early Warning System), uma espécie de radar usado durante a Guerra Fria, ter parado de funcionar.

O sistema de radar, que operava em latitudes bem ao norte, é um exemplo de tipo de tecnologia que poderia ser derrubada por causa de algum problema no clima espacial. Segundo Knipp e seus coautores — alguns deles oficiais já aposentados da Força Aérea que participaram deste evento — é provável que a informação do Centro de Previsão Solar chegou aos altos níveis de comando a tempo, evitando um desastre nuclear.

“A aeronave [com o míssil] não chegou a ser lançada — temos certeza disso”, disse Knipp. “A guerra era iminente? O que nós sabemos é que as decisões foram tomadas em alguns minutos, e que a informação chegou no local certo e na hora exata para prevenir um desastre.”

Cerca de 40 horas após o incidente, uma tempestade geomagnética atingiu a Terra, atrapalhando as comunicações de rádio e provocando auroras boreais por uma semana.

Há diversos perigos nas tempestades solares. Por exemplo, se a maior tempestade geomagnética — ocorrida em 1859 — nos atingisse hoje, ela poderia destruir vários transformadores, tirando a energia elétrica de bilhões de pessoas. Mas eu nunca tinha pensado que uma questão climática do espaço poderia ainda levar a um desastre militar ainda mais tenso, se as questões tecnológicas de medição não fossem bem compreendidas.

Em vez de promoverem o fim da sociedade moderna, as tempestades solares de maio de 1967 fizeram os Estados Unidos se interessarem em monitorar o clima espacial, levando a um novo estágio de ferramentas de previsão que temos hoje. Espero que a sorte continue nos favorecendo em uma próxima ocasião em que o Sol nos dê um soco à distância.

Foto do topo: vista área de três estações de radares no BMEWS (Ballistic Missile Early Warning System) em Anderson, no Alasca, em 1962. Imagem por Wikimedia

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