Esqueça os vestíveis: no futuro, o Wi-Fi da sua casa vai monitorar sua saúde

Cientistas desenvolveram uma forma de monitorar sinais de saúde como batimentos cardíacos a partir do Wi-Fi.

O negócio de monitorar sua saúde com smartwatches ou outros gadgets exige muitas peças de hardware — cabos, estações de recarga e baterias. Mas isso pode mudar. Em breve, o espaço ao seu redor fará esse monitoramento. Ao longo dos últimos anos, nos venderam uma visão de futuro baseada na computação vestível. Seu relógio vai monitorar seus batimentos cardíacos! Seu colar vai cuidar da sua respiração! Suas calças vão monitorar a força dos seus glúteos!

Mas isso já começa a soar datado. Em vez disso, parece que teremos sistemas muito menos invasivos que vão roubar o espaço dessas pulseiras de hoje em dia e farão elas parecerem tecnologias do passado. Uma tecnologia que serviu meramente como uma ponte para a coisa de verdade.

Paredes que observam

Uma equipe do MIT já está desenvolvendo esse sistema.

Em um artigo científico apresentado durante a conferência de interação entre computadores e humanos na semana passada, um grupo de pesquisadores liderados por Fadel Adib mostrou um sistema que faz com que o monitoramento de saúde seja completamente passivo. Ele se chama Vital-Radio, e usa sinal wireless de baixo consumo de energia para monitorar com precisão os batimentos cardíacos e padrões de respiração de até três pessoas a uma distância de até 8 metros da fonte — mesmo que elas estejam em salas diferentes.

Wi-Fi monitora sua saúde

A premissa é simples: como sinais wireless viajam muito rápido, um hub Wi-Fi que envia um sinal em uma sala pode medir o tempo que ele demora para atingir um objeto ou corpo e “refletir” de volta. Essas micro-medidas são traduzidas em sinais bastante precisos de distância. Quando uma pessoa respira, a caixa torácica se move significativamente — o suficiente para o hub detectar uma diferença na distância.

O maior problema com essa ideia, no passado, era  a complexidade de separar a reflexão de uma pessoa de qualquer outra coisa que estivesse no mesmo espaço — sinais de um smartphone ou computador, ou até mesmo outra pessoa ou outras formas de movimento. Mas a equipe do MIT descobriu uma forma de “localizar” a reflexão da pessoa ao dar zoom nela.

Wi-Fi monitora sua saúde

Como eles conseguiram testar a precisão do sistema? Bem, eles prenderam dispositivos de monitoramento em mais de uma dúzia de cobaias e compararam os dados entre cada um deles. O sistema wireless conseguiu 99,3% de eficácia na respiração e 98,5% de eficácia nos batimentos cardíacos — é muita precisão para um sistema que ainda está em desenvolvimento. A precisão fica nessa faixa mesmo quando a pessoa está a até 8 metros de distância. Outra grande vantagem: o sistema consegue monitorar até três pessoas em um único lugar, sem confundir umas com as outras.

Imagine como seria se preparar para fazer exercícios físicos sem precisar prender nenhum eletrônico à sua caixa torácica ou ao pulso — em vez disso, as paredes ao seu redor transmitem seus batimentos cardíacos para seu smartphone. Ou, como a equipe de Adib sugere, imagine como seria saber que seus parentes idosos estão estáveis durante a noite sem precisar de nenhum dispositivo médico elaborado:

Eles fazem uso dessa informação para melhorar nosso conhecimento sobre a saúde, respondendo questões como “Minha respiração e meus batimentos cardíacos refletem um estilo de vida saudável?” Eles também podem ajudar a minimizar algumas das nossas preocupações ao responder questões como “Meu filho respira normalmente quando dorme?” ou “Meu parente idoso tem batimentos cardíacos irregulares?”

O smart é burro

O nome “smart” — de casas inteligentes a roupas inteligentes — foi usado demais nos últimos tempos. Câmeras! Joias! Lâmpadas! Roupas! Ar condicionado! Prateleiras! Você precisa trocar todas as coisas da sua casa para que elas consigam “conversar” entre si. O que elas tanto falam? Ninguém sabe! Talvez algo que envolva tornar sua vida mais fácil ao pedir mais papel higiênico para você.

A ideia de enfiar um chip de computador em qualquer objeto aleatório para torná-lo “smart” já virou até tema de Tumblr, cuja descrição diz tudo: “Era só uma coisa burra. E então colocamos um chip nela. Agora é uma coisa inteligente.” E há um aspecto bastante burro no conceito de casas inteligentes que quase nunca é citado: a proliferação de lixo eletrônico que acompanha a enorme quantidade de dispositivos eletrônicos novos e que precisam ser frequentemente trocados.

Wi-Fi monitora sua saúde

Sistemas como o Vital-Ratio dão uma ideia de como as coisas poderiam ser diferentes. Um futuro no qual a computação pessoal não é vestível, e sim espacial — ela se aproveita da infraestrutura existente da sua casa, como seu roteador Wi-Fi. E, assim, a funcionalidade “inteligente” é criada em sistemas já existentes, em vez de apenas adicionar mais chips descartáveis.

É difícil ver o mercado de eletrônicos de consumo aceitar essa ideia de como a tecnologia deveria ser. Afinal de contas, toda a indústria de eletrônicos pessoais está construída em uma base de dispositivos que evoluem constantemente e precisam ser trocados de tempos em tempos. Por enquanto, só veremos sensores presos ao nosso pulso. Mas, no futuro, talvez os arquitetos não produzam apenas a arquitetura física — eles poderão também criar uma arquitetura de rede.

Foto de topo: José Manuel Ríos Valiente via Flickr

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