Em segundo depoimento nos Estados Unidos, Zuckerberg foi mais pressionado

Mark Zuckerberg sentou novamente à frente de políticos dos Estados Unidos para responder a algumas perguntas sobre o grande vazamento de dados que comprometeu informações de 87 milhões de usuários e as políticas da empresa à luz dos eventos recentes. Desta vez, ele falou à Câmara dos Deputados, que também tiveram cinco horas para questioná-lo […]

Mark Zuckerberg sentou novamente à frente de políticos dos Estados Unidos para responder a algumas perguntas sobre o grande vazamento de dados que comprometeu informações de 87 milhões de usuários e as políticas da empresa à luz dos eventos recentes. Desta vez, ele falou à Câmara dos Deputados, que também tiveram cinco horas para questioná-lo – e a pressão foi muito maior do que no Senado.

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A sensação que ficou foi a de que os deputados entendiam mais sobre o funcionamento da rede social do que os colegas senadores, mas a expectativa era mesmo de que os questionamentos fossem mais incisivos; o grosso já havia sido dito no dia anterior. Isso não impediu Zuckerberg de fazer o mesmo discurso de abertura, em que assumiu erros no caso Cambridge Analytica. Soubemos que os dados do próprio executivo estavam no vazamento e que ele não fica muito feliz ao lembrar do Facemesh, precursor do Facebook.

Os deputados, no entanto, passaram menos tempo no caso Cambridge Analytica para realizar mais perguntas sobre a maneira como o Facebook monitora as pessoas na internet e proteções de privacidade para menores de idade.

As situações em que Zuckerberg foi evasivo e se mostrava desconfortável foram mais frequentes, como quando a deputada democrata Kathy Castor questionou o rastreamento dos usuários mesmo quando estão fora da plataforma.

Durante a sequência de perguntas, Mark não teve tempo de responder e quase sempre dizia “sim, mas…” Quando Castor pergunta se o negócio do Facebook é coletar dados, Zuckerberg disse que discordava da caracterização: “As pessoas escolhem compartilhar seus dados”.

Outros congressistas o pressionaram por explicações mais detalhadas sobre como o Facebook rastreia as pessoas na internet e o porquê disso – incluindo pessoas que nem estão cadastradas ou logadas no Facebook, batizadas de “perfis sombra”.

Para Zuckerberg, o monitoramento do comportamento dos usuários da internet tem a ver com segurança – assim, as pessoas não são capazes de baixar todas as páginas públicas da rede social. O outro motivo é o direcionamento de anúncios, o que, segundo ele, pode ser desligado.

“Mesmo se uma pessoa não está logada, rastreamos algumas informações, como quantas páginas elas estão acessando, como uma medida de segurança. A segunda coisa que fazemos é oferecer uma rede de anúncios que websites de terceiros e aplicativos podem rodar para ajudá-los a ganhar dinheiro. Esses anúncios – sabe, similar aos que o Google e o resto da indústria faz – não são limitados às pessoas que estão apenas no Facebook. Então, para esse propósito, nós coletamos informações para tornar a publicidade mais relevante e para funcionar melhor nesses sites. Existe um controle para isso – para a segunda classe de informações sobre o direcionamento de anúncios – que qualquer um pode desligar e sobre o qual tem controle total. Por razões óbvias, não permitimos que as pessoas desliguem a medida que tomamos relacionada à segurança.”

Quando o deputado democrata Ben Luján o pressionou sobre os “perfis sombra”, Zuckerberg disse não estar familiarizado com isso e que não poderia responder quais tipos de dados o Facebook coleta do usuário médio – ou do não usuário.

O executivo fez a declaração mais assertiva até agora de que irá oferecer as proteções de privacidade exigidas pela legislação europeia para todos os usuários do mundo. A Regulação Geral de Privacidade de Dados (GDPR, na sigla em inglês) passará a valer em maio e é obrigatória para as empresas de tecnologia que estão na União Europeia.

Durante sua fala na Câmara, Zuckerberg disse que iria lançar as proteções relacionadas à GDPR para todo o mundo:

“A GDPR tem pontos muito importantes. Um deles é oferecer controles sobre o que estamos fazendo. A segunda coisa diz respeito a mostrar um consentimento afirmativo e oferecer controle para que as pessoas façam suas escolhas. Vamos fazer isso também. Vamos colocar, no topo do aplicativo de todo mundo quando a pessoa se logar, uma ferramenta que apresenta as configurações, dá escolhas e pede que o usuário tome decisões sobre como quer que as coisas sejam configuradas.”

Apesar disso, a deputada democrata Janice Schakowsky não ficou muito convencida de que as medidas para os Estados Unidos seriam as mesmas que serão tomadas na União Europeia. Ela, no entanto, não pode fazer mais perguntas porque o tempo estava esgotado.

A preocupação de alguns congressistas foi com a privacidade de menores de idades. Zuckerberg enfrentou no Senado algumas questões sobre o Messenger Kids, um aplicativo de mensagens disponível para crianças a partir de 6 anos. O deputado republicano insistiu na Câmara ao questionar se não era possível adotar uma política em que nenhum dado fosse compartilhado até a pessoa completar 18 anos. Zuckerberg desviou do assunto: “A realidade que vemos é que os adolescentes querem compartilhar suas opiniões publicamente”. A resposta não tem nada a ver com a coleta de determinados dados dos usuários, e, para Mark, se alguém quer expor suas posições, automaticamente terá que compartilhar alguns dados também.

Sempre que as perguntas tinham a ver com a obtenção de dados e gerenciamento de perfis, Zuckerberg tentava sair pela tangente. Quando foi perguntado a quem pertencia “o ser virtual”, o executivo dizia que o usuário detém seu próprio conteúdo uma vez que é ele quem o publica na rede social e pode deletá-lo depois. Ele sempre desviava das questões que se referiam diretamente à obtenção de dados que constroem os perfis psicográficos para o direcionamento de anúncios – esses que não podem ser deletados e sobre os quais os usuários não possuem quase nenhum controle.

O mesmo aconteceu quando questionavam a quantidade de dados coletados sobre o comportamento dos usuários. Na Câmara, ele disse que informações do histórico de navegação não fazem parte do “conteúdo” publicado na rede – ainda assim, ele o monitora.

Alguns representantes bateram na tecla da necessidade de uma regulamentação para as empresas de tecnologia – para Mark, isso poderia prejudicar startups menores. Na Europa, essa regulamentação está prestes a começar a funcionar – resta saber se os representantes dos Estados Unidos seguirão um caminho similar.

[The Guardian, The Whasington Post, The Verge]

Imagem do topo: J. Scott Applewhite (AP)

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