Novo estudo sugere que é mais fácil encontrar água em Marte do que imaginávamos

Marte provavelmente possuía água em seu passado, até mesmo vastos oceanos do líquido. A maior parte deste precioso líquido escapou para os céus, mas uma parte dele continua no planeta, se transformando em gelo e se estabilizando abaixo da superfície rochosa. Uma nova pesquisa mostra que uma grande porção desse gelo está surpreendentemente próximo da superfície […]

Marte provavelmente possuía água em seu passado, até mesmo vastos oceanos do líquido. A maior parte deste precioso líquido escapou para os céus, mas uma parte dele continua no planeta, se transformando em gelo e se estabilizando abaixo da superfície rochosa. Uma nova pesquisa mostra que uma grande porção desse gelo está surpreendentemente próximo da superfície – em alguns casos apenas alguns metros abaixo. É uma ótima notícia para futuras missões no Planeta Vermelho, caso a descoberta seja confirmada.

A nova pesquisa publicada na Science entende que gelo existe a aproximadamente 1 ou 2 metros abaixo da superfície, e se estendendo por 100 metros ou mais. Isso é muito mais raso do que pesquisadores apontaram antes. Uma equipe liderada por Colin Dundas, cientista do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS, na sigla em inglês), usou a sonda Mars Reconnaissance Orbiter (MRO) para detectar oito localidades do planeta onde precipícios íngremes – alguns com mais de 100 metros de altura – aparentavam exibir placas de gelo, expostos pela força da erosão.

Que Marte ainda mantém água congelada não é uma revelação. Sabemos que há água no planeta (particularmente em seus polos), e escaneamentos por rádio efetuados pelo MRO sugeriram que grossas placa de gelo estão enterradas pelas latitudes médias do planeta. Outras observações também sugerem que grandes camadas de depósitos localizados nas altitudes mais altas de Marte guardam uma mistura de gelo e poeira, mas a extensão, composição e qualidade dessa suposta água congelada nunca foi confirmada. Esse novo estudo pode finalmente ser a confirmação que aguardávamos.

Imagens cujas cores foram realçadas no computador mostram precipícios durante o fim da primavera até o início do verão. (Créditos: NASA/MRO/C. M. Dundas et al., 2018)

Imagens capturadas pelo MRO foram feitas durante o curso de três anos marcianos, ou cerca de cinco anos e sete meses na equivalência da Terra. Olhando para as fotos, a equipe de Dundas encontrou traços de grandes blocos rochosos que se descolaram do gelo por causa da erosão. A água congelada, agora exposta, provavelmente retrai alguns milímetros a cada verão, mas ela não desaparece por completo. O gelo próximo da superfície e as grandes camadas de depósitos expostos na superfície estão conectados, ou são parte da mesma característica geológica.

Nenhuma cratera foi vista na superfície dessas localidades, o que significa que estas características são relativamente novas, formadas recentemente. Sobretudo, o gelo é apenas visível onde o processo de erosão acontece, e os pesquisadores especulam que a água congelada próxima da superfície seja mais abundante do que eles puderam detectar no estudo.

E como essas características geológicas possuem raias e variações de cor, a água congelada provavelmente fez camadas de gelo. Essas camadas podem ser estudadas com mais profundidade para ajudar os cientistas a entender as mudanças climáticas de Marte ao longo do tempo – e até mesmo detectar antigos sinais de habitabilidade.

Blocos caindo de uma escarpa rica em gelo sugerem ação erosiva (Créditos: NASA/MRO/C. M. Dundas et al., 2018)

“Estes resultados são convincentes e consistentes com hipóteses anteriores que afirmam existir gelo raso enterrado em gigantescas áreas de Marte”, disse ao Gizmodo Cassie Stuurman, graduada da Universidade do Texas em Austin e estagiária de pesquisa e desenvolvimento na Planet Labs. “É ótimo ver evidências na forma de imagens e espectroscopias para confirmar o que o radar já nos dizia – que existe gelo no subsolo de Marte. Os resultados imagéticos são especialmente convincentes, e você pode ver o gelo bem ali nas imagens aprimoradas e coloridas”.

Tanya N. Harrison, uma diretora de pesquisa na NewSpace Initiative da Universidade Estadual do Arizona, diz que este é “um artigo muito empolgante” que providencia a primeira evidência empírica da natureza das grande camadas de depósitos que cobrem grande parte das altas latitudes de Marte em ambos seus hemisférios.

“Há muito tempo se levantou a hipótese que essas camadas fossem uma mistura de gelo e poeira baseado em aspectos como a limitada extensão latitudinal e como ela se torna cada vez mais erodida conforme você se move dos polos em direção ao equador”, disse Harrison ao Gizmodo. “Mas graças aos dados espectrais do CRISM e dados coloridos da câmera HiRISE, podemos ver a presença da água congelada”.

Harrison, que não é afiliada ao estudo, diz que isso é muito importante porque existe uma considerável quantidade do material dessas camadas em Marte nos 30 graus de latitude de ambos os hemisférios – e isso significa que há muito mais água acessível no planeta do que acreditávamos. Ela diz que os resultados espectrais significam que a água é “muito limpa” em termos de conteúdo direto, o que é uma ótima notícia para os futuros colonizadores do planeta.

Nilton O. Reeno, um cientista planetário do departamento de Clima e Ciência Espacial e Engenharia da Universidade de Michigan, disse ao Gizmodo que as múltiplas linhas de evidências circunstanciais apresentadas no estudo criam um bom caso para a presença de blocos de gelo aparecendo pela superfície de Marte, “mas o artigo não prova que blocos de gelo existam”. Observações futuras devem focar nessas características para dar ainda mais confirmação a estas descobertas.

Stuurman diz que o aspecto mais surpreendente do estudo foi a descoberta de gelo exposto nas latitudes médias. Isso se dá porque gelo não é estável em pressões e temperaturas encontradas nessas regiões – o que explica porque os pesquisadores observaram a erosão e sublimação em ação. Então, além de encontrar os depósitos de água mais rasos de Marte, os pesquisadores também foram os primeiros a observar erosão em atividade nas escarpas de latitude média do planeta.

“Eles até encontraram áreas com gelo exposto em latitudes relativamente baixas”, disse Stuurman. “Estes seriam ótimos candidatos para a exploração humana”.

Mas a questão sobre a pureza da água permanece. Como Harrison apontou, o resultado sugere uma água relativamente limpa, mas mais trabalho é necessário para determinar sua pureza. Salinidade excessiva é um potencial problema que obrigaria futuros colonizadores a carregarem desengonçados dispositivos de dessalinização para o Planeta Vermelho. E como Reeno disse ao Gizmodo, a água congelada pode ter percloratos, que são tóxicos aos humanos. Ainda não sabemos, mas é importante descobrir. Não possuir água facilmente acessível em Marte seria um grande problema, e algo que pode atrasar nossa exploração e esforços de migração, e possivelmente forçar astronautas aos polos, onde o gelo está mais disponível que na superfície.

[Science]

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