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Como domar o Feed de Notícias do Facebook

Já reparou que, embora você tenha 100, 500, mais de mil amigos no Facebook, o Feed de Notícias exibe atualizações de poucas pessoas? Não, a sua conta não está quebrada. Esse comportamento é padrão, baseia-se no que o Facebook chama de EdgeRank, e existe para aumentar o seu engajamento — é mais fácil você interagir […]

Já reparou que, embora você tenha 100, 500, mais de mil amigos no Facebook, o Feed de Notícias exibe atualizações de poucas pessoas? Não, a sua conta não está quebrada. Esse comportamento é padrão, baseia-se no que o Facebook chama de EdgeRank, e existe para aumentar o seu engajamento — é mais fácil você interagir com gente/conteúdo que lhe agrada do que o contrário, não?

Recentemente rolou na Inglaterra mais uma edição do news:rewired, uma série de palestras sobre jornalismo digital organizada pelo Journalism.co.uk. Uma das palestras foi dada por Vadim Lavrusik, gerente do programa de jornalismo do Facebook. A sua fala foi sobre como jornalistas podem extrair mais do Facebook, mas o trecho introdutório, onde ele aborda o Feed de Notícias, é válido para qualquer um interessado na criação e manutenção do Feed de Notícias.

A palestra está disponível, na íntegra, no YouTube:

Como o Feed de Notícias é criado?

Martin Belan, que descobri por acaso recentemente, transcreveu/explicou este trecho da palestra de Vadim:

“(…) Ele começou falando sobre o recebimento de conteúdo no Feed de Notícias e explicou o que as pessoas fora do Facebook chamam de algoritmo ‘EdgeRank’. Em média, um usuário é ‘elegível’, disse Vadim, a ver dois mil itens de conteúdo por dia. O Feed de Notícias classifica os tipos de coisas com as quais você mais provavelmente interagirá, das pessoas com quem você mais interage, nos formatos que costumam gerar mais ações, que têm um histórico de receberem algum tipo de atenção.

Vadim explicou um ponto, talvez não muito bem compreendido, que ações negativas, como marcar posts como spam ou ser ‘descurtido’ diretamente de um post, têm um peso enorme e pode enterrar itens de conteúdo muito rapidamente. Ninguém tem o mesmo feed que outra pessoa, ele explicou, e para cada usuário ele é personalizado de acordo com o seu comportamento. ‘Isso leva os editores de mídias sociais à loucura, porque é difícil otimizar [para isso]’, ele disse, ‘mas tudo se baseia na tentativa de direcionar conteúdo de qualidade’.”

O EdgeRank atua de forma parecida com o PageRank, do Google. Em termos (ainda) mais simples, o Facebook assimila e processa um monte de sinais, dados pelo próprio usuário, e devolve esse conhecimento moldando o Feed de Notícias de modo que o usuário goste mais das coisas que aparecem ali.

No Google, os sinais ajudam a classificar quais sites devem ser apresentados na primeira página de resultados. Sua aplicação é mais genérica/abrangente que a do Facebook, embora seus resultados ainda assim sejam personalizados (faça uma busca por um termo qualquer logado em sua Conta Google e, depois, a mesma busca deslogado). E é por isso, também, que o Google+ existe: o Google quer ter as informações nossas que o Facebook já detém — e usa muito bem; vide a nova e sensacional Busca Social.

Então é isso, não posso fazer nada para mudar?

Você pode dar sinais expressos para ajudar o Facebook a moldar melhor o seu Feed de Notícias. Além das ações negativas (“descurtir”, marcar como spam), páginas, grupos e perfis possuem controles de assiduidade e tipos de conteúdo que serão exibidos, além do super útil cancelamento de assinatura, que desabilita o conteúdo que aquele usuário gera do seu Feed de Notícias mas mantém o contato. Mais ou menos o equivalente digital a uma amizade de aparências.

Ao pousar o cursor do mouse sobre o botão “Amigos”, na Linha do Tempo de algum contato, um menu aparece. De cara, há a opção de cancelamento: basta desmarcar a opção “Exibir no Feed de Notícias”, e ele sumirá por completo do seu dia a dia no Facebook. Imediatamente abaixo dessa opção existe outra chamada “Configurações…”, que leva a um segundo menu, esse mostrado acima.

Gosto de mexer mais neste segundo menu porque ele permite configurações granulares. Se tenho algum amigo querido que sempre publica coisas legais, mas com o péssimo hábito de povoar o Feed de Notícias com notificações de jogos, posso dizer ao Facebook para mantê-lo por perto, mas não mostrar “Jogos” que ele curte/compartilha/espalha para mim.

Outra opção legal, e que prefiro usar no lugar do cancelamento de assinaturas, é o “Ver quais atualizações?” Ela te dá três níveis de assiduidade no seu Feed de Notícias:

Tudo isso também vale para páginas e grupos. Existem diferenças sutis nas terminologias, mas apesar de rótulos diferentes, no fim elas funcionam quase que da mesma forma.

Pare de encher, Facebook. Quero ver tudo, TUDO!

Essa curadoria automática que o Facebook faz tem lá suas vantagens — não o afoga com atualizações e, de quebra, entrega o que (acha que) lhe interessa. Mas e se eu quiser ver, assim… tudo? Tem como?

Meu Feed de Notícias ainda não mudou, mas suspeito que no novo layout a opção “Todos os amigos” faça exatamente isso. Outra saída, mais complicada, é usar clientes de terceiros do Facebook que furam esse sistema e entregam o Feed de Notícias intocável. Os clientes nativos da Nokia para Symbian/MeeGo e o app Pessoas do Windows 8 fazem isso. Chega a ser engraçado abrir o Facebook por esses locais e se deparar com atualizações de gente que você nem se lembrava ser amigo no site.

Filter bubble

Entraríamos em uma discussão bem grande se fossemos pesar o quão benéfico (ou não) é essa curadoria. Ela se encaixa perfeitamente no conceito de filter bubble de Eli Pariser. É bem capaz que você já tenha assistido à palestra dele no TED, e o cara também publicou um livro homônimo que ganhou o título “O Filtro Invisível” por aqui. O grande mal do tal filtro invisível é que como esses sistemas passam a entregar apenas informações com as quais você concorda, isso tende a privá-lo de vozes dissonantes, a envolvê-lo em uma bolha onde tudo agrada, tudo faz sentido, tudo está de acordo com a sua realidade. É a fórmula perfeita para segurar as pessoas por mais tempo em sites, mas que também se aplica na formação de gente ignorante (em todos os sentidos) e destruir a empatia, a capacidade de se colocar na pele do outro.

O Facebook não deve ser parâmetro para a nossa visão de mundo, mas como cada vez mais passamos mais tempo ali (e passaremos em uma eventual rede social que venha a substitui-lo), é um assunto a se pensar.

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