Como seriam as formas de vida na lua Encélado, de Saturno?

Após o anúncio da NASA na semana passada, a Encélado tem sido a lua gelada na mente de todo o mundo — não que exista muitas outras (desculpa, Europa). De acordo com a agência, hidrogênio molecular foi encontrado no oceano subterrâneo da Encélado, o que reforça a ideia de que a lua gelada poderia ser lar […]

Após o anúncio da NASA na semana passada, a Encélado tem sido a lua gelada na mente de todo o mundo — não que exista muitas outras (desculpa, Europa). De acordo com a agência, hidrogênio molecular foi encontrado no oceano subterrâneo da Encélado, o que reforça a ideia de que a lua gelada poderia ser lar de micróbios extraterrestres. Apesar do exterior frígido da Encélado, acredita-se que esse oceano seja extremamente aquecido em seu fundo, com aproximadamente 90º C. Então, se você é um astrobiólogo ou um crente na vida alienígena como eu, isso é muito empolgante, por motivos óbvios.

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Embora a descoberta de hidrogênio seja certamente empolgante, astrônomos e nerds por aí há muito tempo criam hipóteses de que a Encélado poderia abrigar vida. Em 2015, a sonda Cassini, da NASA, voou através de uma das plumas geladas da Encélado e coletou fragmentos de compostos orgânicos. A lua instantaneamente passou de apenas um dos 62 satélites saturnianos para uma das favoritas entre os astrobiólogos. Com água e compostos orgânicos, Encélado tem os ingredientes certos para receber vida, no passado ou no presente.

A questão é: o que poderia viver em uma bola de gelo rochosa com um enorme oceano espreitando abaixo de sua crosta? Obviamente, não há resposta concreta, mas é muito divertido especular.

“Acho que, dentro do sistema solar, se formos encontrar alguma coisa viva, será algum tipo de organismo microscópico”, disse Rocco Manicelli, astrobiólogo na NASA, em entrevista ao Gizmodo. “E se encontrarmos alguma coisa extinta, será um organismo microscópico extinto.”

Embora seja muito improvável que a Encélado esteja escondendo algum narval alienígena abaixo de sua crosta, se houver alguma coisa neste mundo gelado, tem que ser algo duro na queda. Por refletir muita luz, a superfície da Encélado alcança temperaturas inacreditavelmente geladas, despencando para até -201º C. O frio severo não descarta a possibilidade de vida na lua, mas complica o funcionamento dos organismos que poderiam habitá-la.

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Imagem: NASA

“A questão-chave é: o que a vida precisa fazer?”, disse Manicelli. “Ela precisa ter uma fonte de energia e conseguir fazer mais dela. [Na Encélado], o que temos sobre o que especular é: o que seria uma verdadeira fonte de energia? Pela camada de gelo ser tão espessa, a energia que [os microorganismos] receberiam da luz do sol seria extraordinariamente baixa.”

Se houver qualquer vida na Encélado, ela provavelmente está concentrada em volta das fontes hidrotermais, que também são essenciais para sustentar ecossistemas marinhos na Terra. Como já relatamos anteriormente, a descoberta do que poderiam ser os fósseis mais antigos do mundo sugere que a vida na Terra pode ter crescido dessas mesmas fontes, elas são realmente importantes assim. Aqui, em nosso planeta, diversos tipos de criaturas do fundo do mar — como vermes tubulares e certas espécies de camarão — conseguem sobreviver, apesar de ter muito pouco acesso à luz do Sol. Esses organismos são capazes de sobreviver passando pela quimiossíntese, um processo em que “os micróbios na base da cadeia alimentar convertem substâncias químicas das fontes hidrotermais em energia utilizável”, de acordo com o Ocean Portal.

A Encélado pode não ter todos os ingredientes capazes de produzir organismos complexos, mas esse novo estudo parece sugerir que, no mínimo, consegue sustentar vida microbial. E, quem sabe, talvez esses micróbios possam tirar vantagem de quaisquer que sejam os recursos disponíveis nessa lua, evoluindo de acordo com eles.

Existe também a possibilidade de que os micróbios da Encélado usem bioluminescência para sobreviver. Esse processo é usado por certas criaturas do fundo do mar para converter energia e, então, criar luz em ambientes extremamente escuros. Para organismos vivendo muitos quilômetros abaixo da superfície da Encélado, essa parece uma opção viável.

“Para conseguir bioluminescência real, você precisa ter uma fonte de energia”, explicou Manicelli, “e então essa fonte de energia emite elétrons em um comprimento de onda detectável. Então, sim, é definitivamente uma possibilidade… Conhecemos organismos que vivem nos olhos de alguns peixes que estão muito abaixo da superfície do oceano e que são bioluminescentes, e eles [emitem luz] em um alcance de comprimento de onda visível.”

Sabemos que a Encélado tem todos os ingredientes básicos para a vida, então tudo o que resta é fazer um trabalho de campo. A NASA tem refletido sobre tais missões, incluindo a já proposta Enceladus Life Finder (ELF). De acordo com Manicelli, será necessária uma abordagem multifacetada para enfim encontrarmos micróbios nessa lua gelada, se houver algum. Então, pense: mais amostragens de gelo na superfície e de plumas geladas.

“Precisaríamos ter todo um conjunto das coisas, não dá para ser apenas uma ou duas. Precisaríamos de todo um conjunto de bioassinaturas, levadas em contexto com o ambiente no qual essas bioassinaturas foram feitas”, explicou.

Parece impossível que encontremos alguma baleia bioluminescente no oceano da Encélado, mas, ei, sempre há esperança de encontrarmos algum tardígrado espacial. Essas pequenas criaturas resilientes podem sobreviver a qualquer coisa.

“Tardígrados são fascinantes”, disse Manicelli. “Isso não foge do escopo das possibilidades. Eles são pequenas criaturas bem energéticas.”

Imagem do topo: NASA

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