O Google Fiber é rápido demais, mas enfrenta uma série de desafios

Quanto você pagaria para ter uma conexão de… digamos… 1 Gb/s? O Google Fiber oferece essa velocidade, até o momento na cidade de Kansas, EUA, pelo mesmo preço de conexões tradicionais, dez vezes mais lentas. Como pode? Ping de 1 ms, picos de velocidade de 940 Mb/s e upload bem próximo disso. Em troca, o […]
Google humilha.

Quanto você pagaria para ter uma conexão de… digamos… 1 Gb/s? O Google Fiber oferece essa velocidade, até o momento na cidade de Kansas, EUA, pelo mesmo preço de conexões tradicionais, dez vezes mais lentas. Como pode?

Ping de 1 ms, picos de velocidade de 940 Mb/s e upload bem próximo disso. Em troca, o que o Google pede é US$ 70 por mês. Isso é muito barato, em qualquer lugar do mundo. E, convenhamos: mesmo quem pode pagar muito mais não encontra conexões de 1 Gb/s dando sopa em qualquer lugar. É uma velocidade insana, como o vídeo nos mostra. Ter isso à disposição, em casa, deve mexer profundamente com a relação que temos com a Internet, deve enfim levar a conectividade à rede ao status de commodity similar ao da energia elétrica. É parte do futuro que todos esperamos.

A mágica do Google Fiber está na forma como ele comercializa o serviço. Antes de ser implantado (e por enquanto ele só rola em Kansas mesmo), os bairros precisam ter uma quantidade mínima de interessados para validar a ida do Google Fiber para aquela vizinhança. Tem até um mapinha, do próprio Google, mostrando o status dos bairros — os verdes conseguiram atingir o objetivo, os amarelos, não. Esse pré-cadastro, segundo o Google, é crucial para que a política de preços agressiva do Google funcione, pois com esse mapa, a empresa só leva os cabos para onde há demanda, evitando gastos desnecessários.

Em setembro passado, uma situação curiosa derivou dessa mecânica: bairros mais pobres de Kansas estavam ficando de fora. Esse fato levantou diversos questionamentos sociais e étnicos, já que mesmo antes de o Google aparecer por lá oferecendo conexões monstruosas, já havia uma divisão quase palpável de classes sociais na cidade: a leste da Avenida Troost as vizinhanças são mais pobres, os preços das casas, bem mais baixo e, no pré-cadastro do Google, a maior parte dos locais que não atingiram o número mínimo de interessados para viabilizar o Google Fiber. O mapa abaixo (via Wired), da época, ilustra a disparidade:

Kansas dividida pelo Google.

O Google disse que sabia dessa questão quando escolheu Kansas para o piloto do seu projeto, e que além do desafio econômico, há outros entraves mais complicados no processo de democratizar a conexão ultrarrápida. Um deles é a necessidade de se ter Internet. Os funcionários do Google que passeavam pelos bairros de Kansas constataram que muitas famílias que não tinham Internet deixavam de assinar o pré-cadastro simplesmente porque não viam necessidade no serviço. Outra questão delicada eram os pré-requisitos para o pré-cadastro: ter uma conta Google e um cartão de crédito. Muitas famílias do leste da Avenida Troost sequer tinham conta no banco… Essa situação foi amenizada com Chromebooks, que ajudavam as pessoas a fazerem suas contas Google na hora, e a aceitação de cartões de débito pré-pagos.

O Google Fiber parece uma coisa de outro mundo e tem o potencial de mudar a cara de uma cidade — há iniciativas que, em torno disso, pretendem transformar Kansas em um celeiro de startups. Mas e a conta, quem paga? US$ 70 não é muita coisa e, vale lembrar, o Google também oferece conexão de 5 Mb/s, o que está longe de ser ruim, de graça, por pelo menos sete anos, cobrando apenas o custo de instalação (US$ 300). Eles estão começando com uma cidade só exatamente para avaliar a viabilidade do negócio, e estão vendo que não é tão fácil — e nem tanto (ou apenas) pela questão financeira. Uma conexão ultrarrápida mexe com a sociedade, e isso talvez seja um entrave grande o bastante para barrar a expansão do serviço para o restante dos EUA. Nem tudo é alegria a 1 Gb/s. [YouTube, Wired (2). Valeu, Fernando Silva!]

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