O tão falado hidrogênio metálico desapareceu milagrosamente dos laboratórios de Harvard

Diante da desconfiança de outros pesquisadores, não é nada bom para Silvera e sua equipe que a suposta amostra tenha, do nada, desaparecido

Muitas pessoas enlouqueceram no mês passado com a notícia de que cientistas haviam de repente descoberta uma espécie de Santo Graal da física: hidrogênio metálico, um hidrogênio que se transformou em metal. O Gizmodo não caiu na empolgação. E, bom, de acordo com a ScienceAlert, aquela amostra de hidrogênio metálico desapareceu.

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Muitos cientistas não acreditam que o hidrogênio metálico foi criado, para começo de conversa. E ainda assim, de alguma maneira, muitos dos veículos de comunicação que noticiaram essa história crentes nela no mês passado agora estão relatando que essa joia possivelmente inexistente misteriosamente sumiu.

Aqui vai uma rápida recapitulação do que os cientistas de Harvard responsáveis pelo bafafá do hidrogênio disseram que encontraram, em resultados publicados recentemente no periódico Science:

A observação foi feita por uma equipe de pesquisadores de Harvard, quando eles estavam esmagando hidrogênio entre diamantes, sob temperaturas pouco acima do zero absoluto (5,5º K ou -273,15 °C). Conforme aumentavam a pressão, observaram o hidrogênio transparente ficando preto. Enfim, em uma pressão 5 milhões de vezes maior que a do ar, o hidrogênio ficou refletivo. Os pesquisadores apresentaram esse resultado como prova de que os átomos de hidrogênio haviam se agrupado em uma estrutura tridimensional normal, como um metal, reação prevista inicialmente pelos físicos Hillard Huntington e Eugene Wignerin, em 1935.

Como inicialmente noticiado na semana passada, o pesquisador principal da equipe, Isaac F. Silvera, contou à ScienceAlert que, enquanto testava a amostra no início deste mês, os diamantes que a seguravam quebraram. Ele contou que a amostra desapareceu porque ou era muito pequena ou tinha retornado à forma gasosa.

Mas outros cientistas não acreditam que a equipe de Silvera apresentou evidência suficiente de que haviam criado hidrogênio metálico.

“Talvez eles tivessem algo a princípio”, contou ao Gizmodo Alexander Goncharov, cientista do Carnegie Institute for Science, em Washington, DC, “mas não era hidrogênio metálico.”

Goncharov e outros pesquisadores escreveram várias respostas ao estudo de Silvera. Em uma delas, Goncharov diz que os resultados não batem com a conclusão — os pesquisadores observaram um material brilhante dentro da célula, mas não rastrearam para ver se era de fato hidrogênio presente o tempo todo. “Como eles sabem que de fato tinham hidrogênio o tempo todo (durante o experimento?”, perguntou-me. “O hidrogênio pode escapar a qualquer pressão. Baseado nas fotos deles, não posso dizer que houve hidrogênio no torno de diamante.”

Até mesmo Mikhail Eremets, do Max-Planck-Institut fur Chemie, na Alemanha, que anteriormente havia afirmado ter criado hidrogênio metálico, questionou o estudo de Silvera. Eremets achou que as medições de pressão dos pesquisadores de Harvard não eram confiáveis. Além disso, mesmo hidrogênio não-metálico refletiria bem sob altas pressões, ele escreveu.

Eu não vou dizer de cara que o laboratório de Silvera não criou o hidrogênio metálico, porque nós simplesmente não sabemos. Direi apenas que vários cientistas não ficaram convencidos por seu estudo, e uma amostra desaparecida diante de tanta discordância seria uma desculpa conveniente para poder experimentar novamente depois, sob menor escrutínio.

Entrei em contato com Silvera para ouvi-lo e atualizarei a publicação se e quando eu tiver uma resposta.

Imagem do topo: R. Dias and I.F. Silvera/Gizmodo

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