_Saúde

Até o criador de Black Mirror achou essa notícia muito Black Mirror

Charlie Brooker compartilha história da vida real que carrega tudo que os enredos da série têm: tecnologia, relações pessoais e um plot twist

“Meeeu, isso é muito Black Mirror”. Médicos na Alemanha desenvolveram um método para que pacientes com a síndrome do encarceramento consigam se comunicar com respostas básicas de “sim” ou “não”. Embora seja bastante comum observar hoje em dia que uma história é “muito Black Mirror”, essa vem com um plot twist que até o criador da série teve que reconhecer que seria um enredo perfeito.

• Tratamento inovador com células geneticamente modificadas curou o câncer em duas crianças
• Este mini aparelho de ressonância magnética para recém nascidos é muito fofo

O estudo inovador foi publicado no periódico PLOS Biology nesta quarta-feira e esboça como os pesquisadores conseguiram, com sucesso, usar espectroscopia no infravermelho próximo para se comunicar com pacientes que tinham síndrome do encarceramento completa.

Todos os quatro pacientes têm esclerose lateral amiotrófica. Muitas pessoas que sofrem dessa doença desenvolvem a síndrome do encarceramento, mas ainda conseguem se comunicar movendo os olhos. Os que ficam completamente paralisados não têm essa opção, mas essa nova técnica pode ser uma salvação para eles.

A BBC explica como funciona:

A atividade das células cerebrais pode alterar os níveis de oxigênio no sangue, o que, por sua vez, altera a cor do sangue.

E cientistas conseguiram olhar dentro do cérebro, usando uma luz para detectar a cor do sangue, por meio de uma técnica chamada espectroscopia no infravermelho próximo.

Então, eles perguntaram aos pacientes perguntas de “sim” ou “não”, como “O nome do seu marido é Joachim?” Tudo para treinar um computador para interpretar os sinais cerebrais.

O sistema atingiu uma precisão de cerca de 75%.

Este nível de precisão significa que os pacientes precisam ser perguntados a mesma coisa várias vezes para assegurar de que sua resposta esteja correta. Mesmo com apenas a opção de dizer “sim” ou “não”, isso muda tudo para pessoas que sofrem dessa condição debilitante. Niels Birbaumer, neurocientista na Universidade de Tübingen que trabalhou na pesquisa, contou ao Guardian que “este é o primeiro sinal de que a síndrome de encarceramento completa pode ser erradica para sempre, porque, com todos esses pacientes, agora podemos perguntá-los as perguntas mais importantes da vida”. Mas as pessoas podem nem sempre gostar das respostas que recebem de seus entes queridos, e é aí que entra a parte Black Mirror.

(“Okay, isso realmente é como uma notícia tirada diretamente de Black Mirror – até o fim”)

O tweet de Brooker, criador da série, se refere a um paciente com 61 anos de idade que tem uma filha de 26 anos, que queria a benção do pai para se casar. Ele foi perguntado dez vezes se aprovava a união, e nove vezes ele disse “não”. Uma coisa é pedir por uma benção simbólica a seu pai, outra é ter que fazê-lo dez vezes seguidas e constantemente ser refutada, e isso fica ainda pior quando você não pode conseguir uma explicação. “Não sabemos por que ele disse não”, contou à BBC o professor Ujwal Chaudhary, que trabalhou como pesquisador no projeto. “Mas eles se casaram… Nada ficar no caminho do amor.”

Agora, esse tipo de final não seria suficiente para uma série obscura como Black Mirror. Brooker e seus colegas escritores certamente entrariam pesado em cena e tornaria as coisas piores, com o paciente ficando preso por causa de uma falha no equipamento ou algo do tipo.

Ainda assim, um dos temas-chave do programa sempre foi que a tecnologia não é inteiramente boa ou ruim, apenas tem consequências inesperadas. Birbaumer disse que uma das surpresas positivas foi que “esses pacientes relataram estar ‘felizes’, apesar de estarem fisicamente paralisados e incapazes de se expressar no dia a dia, sugerindo que nossas noções pré-concebidas sobre o que podemos pensar se o pior acontecesse são falsas”.

[BBC]

Imagem do topo: Black Mirror/Netflix

 

Sair da versão mobile