Grandes marés podem aumentar as chances de vida em TRAPPIST-1

Pesquisadores estão defendendo que fortes interações gravitacionais entre planetas em sistemas de anãs vermelhas poderiam tornar as chances de vida maiores.

No início deste ano, os terráqueos se alegraram quando os cientistas anunciaram a descoberta de três exoplanetas rochosos na zona habitável da TRAPPIST-1, uma estrela “anã ultra fria” localizada a apenas 39 anos-luz de distância. Logo depois, os astrônomos nos puxaram de volta, ressaltando que pode ser difícil para a vida sobreviver em um mundo em uma órbita tão estreita ao redor de uma estrela tão fraca. Mas o debate acaba de ganhar mais gás, desta vez, a favor dos alienígenas.

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Uma dupla de pesquisadores do Harvard Smithsonian Center for Astrophysics está defendendo que fortes interações gravitacionais entre planetas em sistemas de anãs vermelhas e suas estrelas hospedeiras poderiam tornar esses mundos mais hospitaleiros, particularmente se eles estiverem “com a maré acoplada”, com um lado permanentemente de dia e um lado permanentemente de noite. Em mundos oceânicos com acoplamento de maré, as marés induzidas por estrelas poderiam promover a mistura de nutrientes, ajudando a configurar gradientes de temperatura e produtos químicos que de outra forma estariam ausentes.

Esses gradientes, por sua vez, podem desempenhar um papel fundamental no surgimento da vida.

“Deixe-me começar confessando que este artigo resultou da inspiração que tive depois de tirar uma foto na praia de Waikoloa, na ilha de Maui, no Havaí”, disse o astrônomo e autor principal de estudo, Avi Loeb, ao Gizmodo. Loeb explicou que aquela foto da praia ao pôr do sol o faz pensar sobre o que seria ficar na superfície de um planeta com maré acoplada. (Imagina-se que muitos dos mundos potencialmente habitáveis que orbitam estrelas frias e anãs vermelhas podem ter a maré ligeiramente acoplada, graças ao puxão gravitacional da estrela muito próxima).

“[Isso] levou-me a concluir que os valores imobiliários devem ter seu pico na faixa de eterno pôr do sol”, Loeb disse, brincando.

Na verdade, outros pesquisadores argumentaram que essa “faixa do pôr do sol” perpétua, a região entre a noite e o dia, seria o local mais provável para oferecer condições de clima amenas adequadas para a vida. Mas a vida ainda pode lutar, devido à ausência de certos processos físicos e químicos induzidos pela rotação planetária e pelas marés.

Como Loeb disse, em um mundo com maré acoplada, “não há nenhum ritmo para causar a relação rocha-oceano que alguns cientistas consideram necessária para estabelecer a vida”. Ele explicou como funcionam as marés da Terra, que são impulsionadas principalmente pela Lua, mas também variam conforme nosso planeta gira em torno de seu eixo, dando origem a ciclos de inundações e evaporação que impulsionam reações químicas, inclusive as que podem ter iniciado a vida.

Então, Loeb começou a se perguntar: um planeta que não tem dias e noites ainda poderia desenvolver um ritmo, devido às fortes interações gravitacionais com sua estrela?

“Pouco depois de tirar a foto, enviei um email para o meu estudante de pós-doutorado, Manasvi Lingam, e ele veio com cálculos detalhados e a redação do artigo, que mostra que as marés vindas da estrela hospedeira (ou as marés mais suaves de outros planetas no sistema TRAPPIST-1) podem substituir o papel da rotação da Terra em planetas habitáveis em torno de estrelas anãs”, disse Loeb.

Os ciclos de maré induzidos por uma estrela próxima são “ordens de magnitude maiores que as induzidas pela Lua na Terra”, de acordo com Loeb. O artigo continua a explorar como essas grandes marés poderiam impulsionar as inundações e a evaporação ao longo das costas, gerar ondas de Rossby oceânicas (também conhecidas como ondas planetárias, essas ondas se formam como resultado da rotação do planeta), promover a mistura de nutrientes e, em geral, preparar o cenário para que reações químicas mais complexas ocorram.

É importante lembrar que esse artigo não foi revisto por especialistas, o que quer dizer que suas ideias ainda não foram checadas pela comunidade científica. Ao menos um especialista de fora, o astrobiologista Rocco Mancinelli do Centro de Pesquisa Ames da NASA, pensa que os autores “aprimoram alguns pontos muito bons” no que diz respeito às marés que influenciam a habitabilidade planetária.

“O fato é que ter marés aumenta a probabilidade de reações químicas que podem levar à origem da vida”, disse Mancinelli ao Gizmodo, lembrando que ele co-autor de um artigo de 2007 que explora esse mesmo conceito. O novo estudo, ele disse , “Reforça muitos dos princípios básicos e das premissas produzidas nesse artigo mais antigo, com mais detalhes”.

Mancincelli foi muito mais cuidadoso, no entanto, quando se trata das hipóteses dos autores sobre as marés influenciarem a vida complexa. O artigo sugere, por exemplo, que o surgimento de nutrientes de maréas induzidas por estrelas pode desencadear grandes surgimentos de algas, oferecendo aos astrônomos uma bioassinatura em potencial que poderiamos detectar de longe usando telescópios.

“Surgem mais e mais especulações, o que não quer dizer que eles estejam errados. Mas é uma extrapolação”, ele disse.

Também é importante lembrar que a premissa de vida existir em sistemas de estrelas anãs vermelhas é uma especulação. É possível, por exemplo, que as atmosferas de todos os planetas TRAPPIST-1 tenha sido destruídas devido às poderosas radiações e tempestades solares da estrela, deixando apenas rochas estéreis.

Ainda assim, a noção de que a atração gravitacional de uma estrela próxima pode criar marés em um mundo oceânico, e que essas marés poderiam influenciar a habitabilidade do planeta, não é tão louca. E, pelo menos, ideias especulativas de grandes massas de algas alienígenas são algo a se pensar enquanto continuamos a explorar sistemas de anãs vermelhas para sinais de vida.

E bem, quem sabe, talvez os alienígenas sejam pequenos homens verdes no final das contas.

Imagem do topo: Warner Bros. Pictures

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