Marte pode ter tido uma lua enorme antes das duas minúsculas que conhecemos

Cientista sugere ciclo em que o planeta tenha alternado sistema de anéis como Saturno e rochas ligadas gravitacionalmente cada vez menores

Orbitando nosso vizinho vermelho cheio de poeira estão dois pequenos satélites, Fobos e Deimos. Eles parecem pertencer às piores (mas não absolutamente piores) luas do sistema solar, mas sua existência pode contar uma história maluca sobre a história de Marte.

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Um estudante de pós-graduação da Universidade de Purdue construiu um modelo para descobrir como as luas Fobos e Deimos, de Marte, se formaram. Sua conclusão ousada: é possível que, durante sua história, o planeta tenha passado por um ciclo – e continuará nele – entre ter um sistema de anéis como o de Saturno e ter rochas ligadas gravitacionalmente a si cada vez menores.

Nossa própria lua surgiu após um grande impacto em algum momento do início da história da Terra, cerca de 4,5 bilhões de anos atrás. Isso teria deixado um anel rochoso que rapidamente se agrupou em uma grande esfera. É possível que Marte tenha vivenciado uma colisão semelhante, aproximadamente na mesma época.

“Meu argumento é que Fobos não foi produzida em um impacto”, diz o autor do estudo, Andrew Hesselbrock, da Universidade de Purdue, em entrevista ao Gizmodo. Em vez disso, “o maior impacto criou um grande satélite que, em vez de colidir com Marte, se rompeu”. Em outras palavras, Marte pode ter tido, um dia, uma lua de tamanho bastante considerável que se rompeu em pedaços há muito tempo, criando um sistema de anel. Com o tempo, esse sistema seguiu se agrupando e caindo aos pedaços sob o puxão da gravidade de Marte até que restassem as duas luas minúsculas Fobos e Deimos.

Sabemos que a Fobos está se despedaçando — então, eventualmente, ela pode se tornar mais um anel, neste ciclo marciano.

A simulação de Hesselbrock vem de dados conectados em equações físicas e processados em um computador. O modelo implica que três de sete desses ciclos podem ter ocorrido ao longo da história marciana. No caso da Fobos, ele prevê que 80% da lua irá se depositar na superfície de Marte, enquanto 20% formarão uma lua nova, daqui a 70 milhões de anos. Hesselbrock publicou seu resultado no periódico Nature Geoscience, nesta segunda-feira.

Mas e a outra pequena lua de Marte, Deimos? Há um ponto cerca de seis vezes o raio de Marte, chamado de órbita síncrona, em que a velocidade do planeta combinada com seus efeitos gravitacionais evita que uma lua voe para longe ou se aproxime. Deimos fica fora deste ponto e pode, eventualmente, se distanciar cada vez mais de Marte até que escape. A Fobos fica dentro deste ponto, para sempre enredada pela gravidade do planeta.

Muitas pessoas sugeriram que as luas minúsculas de Marte eram asteroides capturados, afinal, o planeta fica bem próximo de um cinturão de asteroides. Mas Hesselbrock e outros acham essa teoria improvável — tanto Fobos quanto Deimos parecem ter órbitas circulares e alinhadas demais com o equador de Marte para indicar tal origem. Planetas maiores como Saturno têm luas pequenas e capturadas que dão voltas distantes, malucas e excêntricas em torno do planeta.

É claro, nunca saberemos com certeza, em nossa vida, se foi isso mesmo que aconteceu, porque, primeiro, isso é apenas um modelo físico; segundo, o mais velho de nós vive apenas um século, não milhões de anos. Entretanto, se o modelo de Hesselbrock estiver correto, talvez consigamos ver depósitos de poeiras de lua antigas na superfície marciana.

“Existe uma quantidade de material significativa que seria depositada sobre Marte”, ele disse. “Existe uma implicação esquisita de geologia marciana.”

Se os cientistas encontrarem sedimentos reveladores em Marte, isso poderia nos dar uma dica sobre o suposto ciclo de satélites e anéis do planeta. Mas, por enquanto, vai saber. O futuro é um mistério. O caos reina.

[Nature Geoscience]

Imagem do topo: Domínio público/Ryan F Mandelbaum via Wikimedia Commons

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