Não faça sexo com robôs, pedem especialistas

Especialista em ética robótica acreditam que robôs sexuais irão deteriorar as relações humanas.

Especialistas em ética robótica lançaram a Campanha Contra Sexo com Robôs, buscando banir o desenvolvimento de atividades e produção de robôs sexuais.

A realidade de robôs focados em proporcionar prazer está cada vez mais próxima. Brinquedos mecânicos feitos para o prazer sexual já existem, é claro, e desenvolvedores de hardware trabalham para incorporar inteligência artificial nestes produtos. Uma empresa chamada True Companion alegou estar produzindo o “primeiro robô sexual do mundo”, o Roxxxy, este ano. Apesar de questões sobre seu funcionamento e ética, o Roxxxy, cujo preço chega aos US$ 7.000, já foi encomendado por milhares de pessoas.

A especialista em ética robótica, Kathleen Richardson, da Universidade De Montfort (Reino Unido), e Erik Billing, da Universidade de Skövde (Suécia), são os cocriadores da Campanha Contra Sexo com Robôs, que busca conscientizar sobre o problema e propõe um banimento do sexo com robôs. Eles comparam a ideia a campanhas semelhantes, como a que busca limitar o desenvolvimento de robôs “assassinos”. Richardson e Billings acreditam que o sexo com robôs irá degradar o relacionamento humano e reforçar a ideia da mulher como objeto sexual.

“Acreditamos que a criação de tais robôs será prejudicial às relações entre homens e mulheres, adultos e crianças, homens e homens e mulheres e mulheres”, diz Richardson à BBC. No site da campanha, a ideia é melhor elaborada:

— Acreditamos que o desenvolvimento de robôs sexuais irá objetificar mulheres e crianças ainda mais.

— O desenvolvimento de robôs sexuais e as ideias que apoiam essa produção mostram os imensos horrores ainda presentes no mundo da prostituição, que é construído na “percepção” de inferioridade de mulheres e crianças, justificando o uso destes como objetos sexuais.

— Acreditamos que o desenvolvimento de robôs sexuais irá reduzir a empatia humana que pode ser desenvolvida apenas por experiências de relacionamentos mútuos.

A campanha rejeita o argumento que o desenvolvimento de robôs sexuais poderia melhorar as condições de trabalhadores sexuais pelo mundo, ou que existem milhares de pessoas solitárias — independente do gênero — interessadas em um companheiro robótico por inúmeras razões. Richardson também é contra o pedido da Anistia Internacional, uma organização não governamental de defesa dos direitos humanos, de descriminalizar o trabalho sexual humano.

Eu não acho que as preocupações dos especialistas sejam totalmente infundadas — robôs sexuais são um assunto para um debate acalorado — mas me parece que a campanha deveria focar mais em ajudar a estabelecer condutas razoáveis daqui para a frente, em vez de banir a produção desses robôs por completo. Esse banimento não vai acontecer, e nem deveria. Proibição raramente é uma solução.

Estamos a caminho de um futuro com robôs sexuais, independente se somos a favor deles ou não. Um banimento apenas estimularia a criação de um mercado negro de robôs sexuais que permitiria qualquer tipo de coisa. Por que não pedir por boas regras, como garantir que os robôs sejam seguros contra malware, devam aparentar ter determinada idade e estabelecer idades mínimas (maiores de 18 anos, por exemplo) para o uso destes serviços?

Existe um elemento puritano nos objetivos da campanha, e apesar de a principal preocupação envolver mulheres e crianças, ela tem um lado sexista que acredita que poucas mulheres estariam interessadas em relações sexuais com robôs. Como falaram Richardson e Billings ao Washington Post:

Perguntamos se robôs sexuais “masculinos” interessariam consumidores, e Richardson e Billing disseram que a maioria dos trabalhadores sexuais são mulheres — apesar de existir um boneco sexual masculino.

“Bem, isso provavelmente aconteceria em graus menores”, diz Billing sobre o aumento de robôs sexuais masculinos. “Certamente existem prostitutos, mas não no mesmo grau de prostitutas”.

Isso é, entretanto, uma terra de robôs sexuais ainda não descoberta, e estes dois claramente nunca viram o Jude Law ser um sedutor robô sexual em A.I. — Inteligência Artificial. Eles também não se aventuram em possibilidades de alternativas sexuais ou consideram que nossos corpos e relacionamentos possam se beneficiar de uma mãozinha robótica. Apesar do foco em um futuro avançado, estes especialistas estão presos às tradições do passado.

É impossível determinar exatamente como serão nossas vidas com potenciais parceiros robóticos no futuro. No livro Love and Sex with Robots, o autor David Levy sugere que o período em que relações entre humanos e robôs se relacionarão está se aproximando, e elas devem ser algo normal já em 2050.

Nós precisamos falar sobre o que companheiros robóticos significam e como eles se encaixam na nossa humanidade, não condená-los. A Campanha Contra Sexo com Robôs se parece muito com a brigada antipornografia, culpando o produto em vez da cultura. Em vez de demonizar o que não conhecemos, deveríamos trabalhar em propostas para que essa indústria, que ainda surgirá, seja algo seguro — tanto para humanos quanto para robôs. [BBC; Washington Post; Campaign Against Robot Sex]

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