Navio perdido há 160 anos é encontrado em valiosa rota no Ártico

Em 1845, John Franklin zarpou rumo à Passagem do Noroeste, uma rota marítima do Ártico que ligaria o oceano Atlântico ao Pacífico. Ele nunca mais voltou.

Em 1845, o explorador John Franklin zarpou rumo à Passagem do Noroeste, uma rota marítima do Ártico que ligaria o oceano Atlântico ao Pacífico. Ele nunca mais voltou: seu navio se perdeu no gelo. Mas agora, graças à obsessão do primeiro-ministro do Canadá, uma expedição localizou um dos dois navios de Franklin.

Por que o Canadá se preocupa tanto com esta embarcação antiga? Tudo remete ao aquecimento global.

Não é que o primeiro-ministro Stephen Harper – muitas vezes criticado por ser anticiência – se preocupe com as mudanças climáticas. Mas elas têm o potencial de transformar a perigosa Passagem do Noroeste em uma rota valiosa de navegação.

Durante séculos, os navios não conseguiam atravessar essa rota, e por um motivo simples: a passagem não existia. Era gelo. Mas, devido à mudança climática, isso mudou: em 2008, o primeiro navio comercial atravessou a Passagem do Noroeste, e agora até cruzeiros de luxo querem fazer esse percurso.

Também em 2008, a agência governamental Parks Canada iniciou uma expedição de vários anos para localizar os navios perdidos de Franklin. Kat Long escreve no Slate:

Usando sonares sofisticados de escaneamento lateral e veículos subaquáticos operados remotamente, arqueólogos buscaram no fundo do mar os restos dos navios, e descartaram quilômetros quadrados que não resultaram em nada. Equipes em terra, junto a guias Inuit, analisaram as praias de cascalho em busca de pistas para o lugar final de descanso de Franklin.

Eles encontraram alguns indícios: latas de alimentos, uma escova de dentes e ossos. E esta semana, o primeiro-ministro Harper anunciou a descoberta de um dos navios de Franklin. Ele esteve realmente dedicado ao projeto, e até passou duas noites em um dos navios da expedição. Ainda não há informação suficiente para saber se o navio encontrado é o HMS Terror ou o HMS Erebus, ambos de Franklin.

O episódio pode ser visto como um exemplo do poder transformador do aquecimento global. Não se trata apenas de pequenos ajustes no clima: afinal, rotas marítimas estão sendo criadas, e uma economia inteira pode ter um recurso adicional a explorar.

Isso pode mudar as relações internacionais: é que os navios perdidos de Franklin podem ser a chave para afirmar a soberania canadense sobre a Passagem do Noroeste. Outros países dizem que se trata de águas internacionais, que não pertencem a uma só nação.

Os longos tentáculos da mudança climática até voltam no passado, jogando luz em um navio perdido do século XIX considerado relevante para o nosso mundo mais quente. [BBC e Slate]

Imagem: gravura do HMS Terror, um dos navios de Franklin, quando ficou ilhado no gelo durante uma expedição anterior ao Ártico. Creative Commons

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