No Festival Path, Mariana Castro discute intraempreendedorismo em grandes empresas

O Festival Path, evento inspirado no SXSW e que mistura de palestras, shows, filmes, feira gastronômica e festa, divididos em uma programação variada, recebeu uma representante da F451, agência que publica o Gizmodo Brasil, neste domingo: Mariana Castro, nossa diretora e autora do livro “Empreendedorismo Criativo”, foi uma das palestrantes da convenção. Ela colocou em […]

O Festival Path, evento inspirado no SXSW e que mistura de palestras, shows, filmes, feira gastronômica e festa, divididos em uma programação variada, recebeu uma representante da F451, agência que publica o Gizmodo Brasil, neste domingo: Mariana Castro, nossa diretora e autora do livro “Empreendedorismo Criativo”, foi uma das palestrantes da convenção. Ela colocou em pauta a questão Intraempreendedorismo: É possível empreender e inovar dentro de grandes empresas? e teve a seu lado duas profissionais atuantes neste mercado.

Carolina Romano, comunicadora social; trabalha com psicologia positiva; fundadora da empresa “As boas novas”, que promove conteúdo aliado à sustentabilidade. Está envolvida com o empreendedorismo e criou a empresa “Maker Brands,” que tenta levar startups para dentro das grandes organizações. As duas empresas têm a preocupação e o compromisso com o impacto positivo. Tem seu trabalho com empreendedorismo voltado ao desejo das empresas de levar a inovação para dentro do ambiente profissional.

Carolina

E Luciana Shirakawa, que faz parte da Liga do Empreendedores do Brasil, braço da Liga dos Empreendedores Global; consultora estratégica e consultora de inovação da “feira global”, empresa que trabalha com projetos de valor compartilhado. Ela atua no mapeamento do perfil de empreendedores e em como dar o suporte para essas pessoas, de fato, fazerem as coisas acontecer.

Luciana

Confira a discussão promovida pela palestra, de acordo com as perguntas levantadas por Mariana e respondidas por Carolina e Luciana.

  1. É possível, com a experiência que vocês estão tendo, empreender e inovar dentro das grandes empresas?

Carolina Romano: Obrigada pela presença de todos aqui, às dez da manhã. Acho que isso já é uma postura empreendedora: essa vontade de virem aqui aprender.

Gosto sempre de começar pelo princípio. A palavra empreendedora é de origem francesa e significa “comprar brigas”. Então, empreender se liga a uma cultura de guerras, onde as empresas acabam tendo essa postura. Mas é legal a gente pensar como aquele que enxerga alguma coisa e que luta em cima disso. Portanto, empreender é acreditar naquilo que, de fato, temos que agir para que aconteça.

E aí, respondendo a sua pergunta, eu acho que isso não só está acontecendo nas empresas, como é uma urgência em a gente empreender. E acredito que exista uma grande conexão entre a inovação e o empreendedorismo, por que inovar significa que você enxerga que tem algo novo a ser feito e que você precisa mudar alguma coisa, assim, brigar por aquilo que você acredita, e precisa de atitude para que isso aconteça.

Desta forma, trabalhamos com a inovação com as empresas, só que a gente entende que a inovação é um empreendedorismo ali dentro, pois as coisas funcionam de uma forma e, de repente, a gente fala “opa, pera aí, não é deste jeito”. Não só não queremos chegar aonde a gente queria agindo desta forma, ou seja, almejamos outro resultado, como falamos que, se continuarmos agindo desta forma, com estes mesmos processos, não dará certo. Então queremos outro resultado, e o queremos de um jeito novo.

Portanto, quando a empresa fala que quer inovar, no fundo, ela quer se alinhar ao espírito que ela tem. Quando conversamos sobre isso, chegamos ao ponto de que fazer um projeto de inovação nada mais é do que se ligar ao que você era lá atrás, onde quando começou a atuar nesse mercado e fazer o que acreditava, o mundo estava de uma forma, e o mundo e as coisas mudam. Então hoje, quais são as necessidades, o que está acontecendo?

Estando à frente das empresas, principalmente da “As boas novas”, que preza o conteúdo e a sustentabilidade, onde cheguei a conclusão que a segunda é inovação, que é fazer alguma coisa nova com um propósito, então será sempre uma inovação, e que isso, nada mais é do que alinhar a empresa com o espírito que ela tem. E isso se torna urgente, pois uma empresa só sobrevive se ela for sustentável, se ela fizer sentido para as pessoas que elas atendem. Portanto, ao fim, essas três coisas estão juntas: sustentabilidade, inovação e empreendedorismo.

Luciana Shirakawa: Eu acho que isso é possível, mas não é fácil, porque quem está dentro das grandes empresas sabem bem disso. E uma coisa que ouvimos muito dos microempreendedores é que o empreendedor é cool, ele sai na capa das revistas, ele é super legal, já o micro, ele não é visto, e isso é um agravante. Mas o que você falou Carol, eu concordo muito do espírito do tempo. As pessoas estão sentido essa necessidade. Cada vez mais uma crise, por que você já está há dez, oito, sete anos trabalhando na mesma empresa, e começa a pensar qual o motivo de estar ali, o que estou fazendo com a minha vida. As pessoas estão num questionamento maior hoje em dia, pois tudo mudou, os tempos mudaram, as cabeças mudaram, estamos cada vez pensamos mais nas coisas, e isso faz com que a mudança aconteça de dentro para fora. E esses hackers, que entraremos mais para frente nesse assunto, eles estão hackeando o sistema para fazer essa mudança. Portanto, acho que tenha a empresa que está percebendo tudo isso de precisar reter talentos e continuar andando, mas, em contra partida, há as pessoas que pensam em mudar as suas vidas, em fazer coisas que tenham sentido, e isso dá um custo para isso acontecer.

Mariana Castro: O que você quer que as pessoas façam com aquilo que você faz? E é disso que se trata, disso que a gente está falando aqui: eu passo a maior parte da minha vida trabalhando, e isso tem que ter um sentido.

  1. Vamos falar sobre o passo a passo e trazer como vocês estão conseguindo levar uma iniciativa dos startups para dentro das grandes organizações. Qual que é o processo de trabalho de vocês?

Carolina Romano: Entrando um pouco no que eu estava falando antes, entendemos que a questão da sustentabilidade é uma visão e o empreendedorismo é a lógica dos startups, – e por ser ágil, é a melhor ferramenta que encontramos para conseguir fazer isso acontecer, até porque tem uma urgência de conseguirmos transformar um pouco o impacto que as empresas causam na sociedade, pois hoje, as empresas, de alguma forma, causam algum impacto, e ele tende a ser mais negativo que positivo. Mas, ao mesmo tempo, elas são um órgão muito eficiente, então, como usar essa eficiência para reverter o impacto à positivo? Para isso, tem um caminho a ser percorrido e usamos essa lógica do empreendedorismo para fazer isso muito rápido. Essa reversão, temos que ir sempre pelo pilar da cultura, pois tudo é feito por pessoas. Esse pilar pode ser definido como “vamos entender o que é inovação, empreendedorismo”, pois têm pessoas que estão nessas corporações há vinte anos, que é esse perfil de empreendedor.

Olhando isso, tudo começa pela informação, e temos muita informação, agora estamos na inquietude de o que faremos com isso. Então absorvemos muito mais fácil a informação do jeito experiencial. Quando se encontra com o problema, enxerga o que está acontecendo e as startups vão e mostram para as empresas, em Power Point, essas experiências. A gente tenta aproximar esses dois universos, precisamos quebrar esse muro entre as startups e as empresas e trabalhamos muito com essa parte de vivências e experimentação.

Além do pilar de cultura, há o pilar da necessidade da empresa de atuar olhando cara vez mais para fora, e mexemos muito no processo das empresas. Fazemos um trabalho de como funciona o processo dessas empresas. E provocamos muito as empresas sobre a diferença de termos os fluxos produtivos e de ter processos, pois tudo precisa ter uma sequência lógica para acontecer, mas enxergamos que há outra maneira de fazer isso, que é menos processual e mais fluido. E a conclusão que as pessoas das empresas têm chegado é que, realmente, é mais produtivo.

Para esse fluxo acontecer, há a necessidade de ter mais departamentos envolvidos nisso, pois, se isso fica fadado a um só departamento, a chance das pessoas aprenderem muito e saírem da empresa, é muito grande, pois eles descobririam outras coisas e agora não me encaixo mais aqui. E, com a divisão em vários departamentos, há a divisão e a colaboração entre eles.

Temos a função de mostrar e estimular as pessoas a mostrar as coisas, mas são eles que vão fazer esses processos colaborativos em que formamos uma inteligência coletiva e o resultado sai. Inclusive isso para o processo de duas pessoas envolta de uma mesa debatendo. E, com essa divisão do trabalho, o resultado sai mais rápido e sem a necessidade de ter o discussões.

E a última frente de trabalho é a de fazer projetos e aplica-los fora da empresa, como se fôssemos uma startup, e forçar isso dentro e fora da empresa. Quando passamos pelo início, que é complicado, tudo se torna mais fácil.

Luciana Shirakawa: antes de comentar, vou contar sobre a história da Liga para vocês entenderem. Estávamos trabalhando com esses projetos compartilhados e percebemos que, na verdade, são as pessoas que decidem se querem ou não levar as coisas à diante. E muita gente chegava a nós e falava que estava há muito tempo nessa empresa, e estava tentando levar o projeto para frente mas não andava. Então, em 2013, resolvemos fazer um piloto de microempreendedores, que são agentes de mudança, que estão dentro das grandes empresas que fazem projetos de forma proativa, de impacto positivo, que transforma as empresas com seus próprios recursos. E o perfil desses microempreendedores é o propósito de fazer algo diferente, de ser influente dentro dessas empresas, que, independente do poder hierárquico, tenham a influência. E são pessoas que tem a visão sistêmica, que vem além da empresa, vendo o impacto que podem gerar no mundo com aquilo. Pessoas que têm um autoconhecimento, que vão em busca do que precisam. E esse processo piloto evoluiu e se transformou numa liga nacional.

Outro aspecto bom é ter um projeto em mãos, mesmo que esteja ainda na ideia. Sobre o aspecto de projetos, há as diferentes perfis, como aquela pessoa que já leva o projeto na mão e vai fazer; há aquela que é mais de relações, que sabe o momento de falar; há aquele que sabe como construir a história e fundar os números, então, geralmente, é um time microempreendedor, pois não é apenas uma pessoa que fará isso acontecer dentro de uma empresa.

  1. Quais são as principais dificuldades que vocês encontram e como vocês estão lidando para solucioná-las? Como levar para dentro da empresa esse espírito de startup de quem não tem nada a perder?

Carolina Romano: A conclusão que chegamos é que, de fato, precisamos mexer na estrutura de governança das empresas, e achamos jeitos de arrumar isso como processos de inovação tradicional, de pegar problemas e minimizar todos eles.

Se, ao invés de ser um departamento de inovação, essa empresa criar um fundo de investimento, um monte dessas questões se resolvem, pois esse fundo opera como uma peça principal, onde há uma quantidade de dinheiro já fixa para gastar durante o ano, e que haja o retorno de outra quantidade ao final. O investidor, no caso, ele está interessado que este resultado aconteça, e como esse resultado acontece, não o importa, então, há uma liberdade para que você erre ou acerte, podendo começar várias startups dentro deste fundo. Caso acabem morrendo, os aprendizados que cada uma obteve foi significativo, e a liberdade de erros e acertos gera aprendizado e experiência, e o dinheiro numa startup se torna learning money.

Estava conversando com um senhor que tem uma empresa no vale do silício, e ele me disse que quando ele ia contratar alguém, ele perguntava quantas vezes ele falhou, e quantas vezes ele havia falhado, pois essas falhas se tornavam o aprendizado. E, com as startups, se erra pequeno e rápido.

Luciana Shirakawa: vimos na Liga que devemos investir nas pessoas, pois, mesmo que elas saiam da empresa e migrem para outras, elas vão de fato, fazer a mudança. Mas como fazer isso dentro das empresas, é o grande fato. Quais são as barreiras do microempreendedor.

Uma grande barreira é contar a história certa, na hora certa. Você conseguir transmitir a mensagem que faça sentido para a pessoa, então tem que levar números, estar ligados à estratégia da empresa, e saber contar a história que pegue a pessoa na hora certa.

Conseguir recursos é outra grande questão. Na liga, levamos um escritório de advogados para falar de leis de incentivo, de outras formas de conseguir os recursos, pois, ao consegui-los, eu já convenço as pessoas para levar meu projeto à diante. E informar a comunidade é muito importante, falar quem é meu parceiro, além de descobrir quem são as barreiras. É uma estratégia, que, mesmo ano sendo politicamente correto, tem a ver com a “estratégia de guerra”.

Descobrir os parceiros e quem não de ajuda é a maneira de dar continuidade ao processo.

  1. Para finalizarmos, vamos contar sobre os exemplos que vocês tiveram.

Luciana Shirakawa: Temos dois microempreendedores, a Lívia Prado, gerente de inovação, e o Luiz Cielli, gerente de contabilidade. Os quais precisam unir a estratégia da empresa, fazendo um programa que una esse líderes globais para termos esse novo jeito de pensar, e já trabalhar criando impactos positivos.

Fomos lá fazer esse projeto junto com eles, com o objetivo de, dentro de uma região específica, numa planta deles em Minas Gerais, como conseguir incluir os fornecedores locais dentro da cadeia de fornecimento de cimento deles. Um desafio relativamente pequeno, mas que faria a diferença localmente. Eram vinte lideres de nove países diferentes para criar um desafio específico, e já saíram com seis novas possibilidades diferentes.

Acredito que seja melhor começar com um projeto concreto, mas pequeno, e você mostrar para as pessoas isso. Essa atitude é o microempreendedorismo. Além disso, envolver e mostrar na ponta do lápis para as pessoas, isso é muito importante.

Carolina Romano: estávamos com a Nestlé há quase um ano, e eles já tinham tentado duas vezes estabelecer um departamento de inovação aqui no Brasil, já tendo um na Suíça e globalmente, mas queriam ter departamentos locais dentro de cada BRICS.

Com seis meses de projeto, conseguimos levantar muita coisa, fizemos um processo colaborativo, e juntamos as ideias para criar startups. O legal de dizer que, às vezes, têm esses processos que começam do zero, que temos que montar o departamento, prototipar as imitações e ver como projetamos isso.

Temos trabalhado com o pessoal de outra empresa que precisavam de uma ajuda com processos ágeis. Sentamos com eles para entender como que chegariam no resultado final. Mas, para chegar no resultado final, era necessário ter paridade nos microempreendedores internos. E foi isso o que colocamos em prática com eles.

fique por dentro
das novidades giz Inscreva-se agora para receber em primeira mão todas as notícias sobre tecnologia, ciência e cultura, reviews e comparativos exclusivos de produtos, além de descontos imperdíveis em ofertas exclusivas