NSA espionou 29 telefones de alvos prioritários no Brasil; governo perdoa

Telefones de alvos prioritários no governo brasileiro foram grampeados pelos EUA; isso inclui a Dilma, ministros, assessores e até o avião presidencial.

O Wikileaks divulgou hoje uma lista considerada “ultrassecreta” pela NSA (Agência Nacional de Segurança): nela, constam telefones de alvos prioritários no governo brasileiro que foram grampeados, incluindo a presidente Dilma Rousseff, ministros, assessores e até o avião presidencial.

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Em vez de criar uma crise diplomática, a revelação foi recebida sem muito alarde pelo governo, que já perdoou os EUA.

“O governo americano reconheceu os erros e assumiu compromissos de mudar de prática. Para nós, o episódio está superado”, diz Edinho Silva, ministro da Secretaria de Comunicação Social e porta-voz da Presidência.

No total, foram 29 números grampeados de dezesseis alvos diferentes. Um deles é a própria Dilma, que foi espionada através do telefone de uma secretária, de um assistente e até mesmo do telefone via satélite instalado no avião presidencial, usado pela presidente quando está a bordo.

O Wikileaks também nota que “os EUA visaram não só as pessoas mais próximas à presidente, como travaram uma campanha de espionagem econômica contra o Brasil, monitorando os responsáveis pela gestão da economia brasileira, incluindo o chefe do seu Banco Central”.

Estes são todos os alvos, segundo G1 e Folha:

– Dilma Rousseff
– Antonio Palocci, ex-chefe da Casa Civil
– Nelson Barbosa, ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda
– Luiz Alberto Figueiredo Machado, ex-ministro das Relações Exteriores e atual embaixador do Brasil em Washington
– André Amado, diplomata da Subsecretaria de Ambiente e Tecnologia
– Everton Vargas, ex-embaixador do Brasil em Berlim
– Fernando Meirelles de Azevedo Pimentel, subsecretário de assuntos internacionais do Ministério da Fazenda
– general José Elito Carvalho Siqueira, chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência
– José Maurício Bustani, embaixador do Brasil na França
– Luiz Awazu Pereira da Silva, ex-diretor da área internacional do Banco Central
– Luiz Balduíno, atual secretário de assuntos internacionais do Ministério da Fazenda
– Luiz Filipe de Macêdo Soares, ex-representante permanente do Brasil junto à conferência de desarmamento, em Genebra
– Marcos Raposo, ex-embaixador do Brasil no México
– Paulo Cordeiro, da Secretaria de Assuntos Políticos
– Roberto Doring, assessor do ministro das Relações Exteriores
– Valdemar Leão, assessor financeiro do Itamaraty

Aparentemente, os telefones foram grampeados em 2011, no início da gestão Dilma.

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Em comunicado à imprensa, Julian Assange – editor-chefe do WikiLeaks – diz que “os EUA têm um longo caminho a percorrer para provar que a sua ampla vigilância sobre os governos ‘amigáveis’ acabou”. Ele continua:

Se a presidente Dilma Rousseff quer ver mais investimento dos EUA no Brasil após sua recente viagem ao país… como ela pode assegurar às empresas brasileiras que seus concorrentes americanos não têm uma vantagem proporcionada por esta vigilância, até que ela possa realmente garantir que a espionagem parou?

Em vez de lidar com tais questões espinhosas, o governo brasileiro simplesmente deixou isso para lá. A presidente Dilma não fez nenhum pedido para que as novas revelações sejam investigadas, e o ministro Edinho diz: “o importante é que o governo americano reconheceu que erros foram cometidos e que ele propôs uma nova prática”.

Em 2013, a reação foi bem diferente: na época, vazaram documentos obtidos por Edward Snowden mostrando que o Brasil era alvo prioritário da espionagem americana – isso incluía e-mails do governo, a Petrobras e a Dilma. A presidente cancelou uma visita de Estado agendada para os EUA, e condenou a NSA na assembleia geral da ONU.

O que mudou? Bem, o Brasil está metido no meio de uma crise econômica e política, e não pode se dar ao luxo de criar inimizade com os EUA. Na verdade, um dos objetivos da visita recente de Dilma era reaproximar as relações entre os dois países – que andavam estremecidas desde 2013, com as revelações de Snowden.

Quanto à parte econômica, Dilma se reuniu com empresários americanos em Washington, Nova York e no Vale do Silício para apresentar oportunidades de investimento no Brasil. Dado que a crise por aqui vem se aprofundando, vamos precisar de toda a ajuda que pudermos arranjar – e assim, a questão da espionagem ficou para depois.

[WikileaksG1FolhaEstadão]

Imagens via Roberto Stuckert Filho/PR/Flickr e The Intercept

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