O iPad é o futuro

Pessoas normais não gostam dos computadores de hoje. A maioria odeia-os  porque não pode entender a complexidade absurda e as convenções antigas demais usadas (Pastas? .Exe?). Este é o motivo pelo qual o iPad vai matar os computadores de hoje, assim como o atual matou os computadores que funcionavam por cartões perfurados e linhas de comando.

Pessoas normais não gostam dos computadores de hoje. A maioria odeia-os  porque não pode entender a complexidade absurda e as convenções antigas demais usadas (Pastas? .Exe?). Este é o motivo pelo qual o iPad vai matar os computadores de hoje, assim como o atual matou os computadores que funcionavam por cartões perfurados e linhas de comando.

É claro que este iPad – o produto em si que milhões vão comprar nos próximos meses – não vai substituir todos os computadores. O mundo inteiro não vai funcionar só rodando em tablets, assim como o mundo não funciona apenas via computadores pessoais e smartphones hoje. Mas a próxima grande coisa invenção de Steve Jobs é o primeiro computador que não precisa de qualquer tipo de treinamento, e que é verdadeiramente acessível e útil para todo mundo. Assim como o iPhone mudou a ideia do que um celular pode ser sem que ninguém percebesse de fato, o novo computador da Apple vai completamente e permanentemente mudar a nossa ideia do que um computador é e como ele deve se comportar.

A mudança de percepção é tão profunda que vai matar o Mac OS X, Windows e Linux da maneira que o conhecemos hoje. Em algum ponto durante esta década, você não terá mais bilhões de pastas e arquivos flutuando pela sua área de trabalho virtual (a chamada "metáfora do desktop"). Não vai haver mais telas de configurações amedrontadoras. Não precisará de atalhos para tentar dar a volta em limitações e velhas convenções. Essas barreiras frustrantes – construídas durante décadas de evolução – é o que faz pessoas normais odiarem os computadores. Essas barreiras acabaram de ser explodidas, primeiro pelo iPhone e agora pelo iPad. Todo mundo vai usar computadores similares ao iPad. Não em termos de hardware, design ou as especificações. Mas com a mesma filosofia. Até os céticos já terão abandonado a metáfora do desktop em algum momento (na verdade, alguns céticos como o querido Adam Frucci, que achou a coisa sem sentido no início, já compraram os seus iPads).

E isso é o que é imporante em relação ao novo computador portátil da Apple. Essa mudança de paradigmas mostra que computadores devem – precisam, na verdade – ser uma plataforma invisível, uma que muda sua aparência para dar às pessoas as ferramentas que elas precisam para completarem a tarefa que quiserem, quaisquer que sejam elas. Para usufruir e criar conteúdo. Para jogar. Comunicar-se com as outras pessoas. Trabalhar.

Por ser invisível e deixar os aplicativos trabalharem da maneira mais simples possível, o poder da computação vai estar, finalmente, disponível para todo mundo. Nenhum conhecimento anterior necessário. De um bebê de 3 anos à sua vó de 90, pessoas serão capazes de basicamente fazer coisas.

 

Evolução natural

Alguns dirão que isso não é possível. Eles focam em pequenas historinhas e não no quadro geral. Eles não dão muita bola para mudança de modelo computacional trazida pelo iPad – e o novo computador em si – ancorados na percepção de o que elas gostam e acham que os computadores deveriam ser. Eles estão esquecendo que a história mostra que a mudança não só é possível, como inevitável. Aconteceu antes. Muitas vezes. E está acontecendo de novo.

Ao fim da Segunda Guerra Mundial, o poder dos computadores era controlado por cientistas que o construíam com dezenas de milhares de tubos de vácuo, diodos, válvulas e transistores. Eles eram extremamente caros e difíceis de serem mantidos, então só havia um punhado deles, guardados egoísticamente por governos e militares.

 

Então o transistor e os cartões perfurados apareceram. Os computadores ficaram um pouco menores, mais poderosos, menos caros.

O novo clero da tecnologia se apropriou do novo poder dos computadores para vendê-los às grandes corporações. 
 

 

Alguns anos depois, a linha de comando foi inventada. Até computadores pequenos – que ainda precisavam de muito dinheiro para serem comprados e mantidos – começaram a aparecer em empresas médias.

Uma nova elite começou a desenvolver coisas, a velha guarda chorou, e as máquinas de cartões desapareceram.

 

Depois disso, os primeiros computadores pessoais chegaram, e a elite expandiu-se mais ainda, agora incluindo hobbystas, empreendedores, estudantes de tecnologia e donos de pequenos negócios.

Como todos os outros passos nesta cadeia evolutiva, as castas antigas torceram o nariz para o computador pessoal, já que eles passaram muito tempo aprendendo os mistérios das artes antigas. Os sabichões da época diziam que o computador pessoal era inadequado e sem muito poder de processamento. Ele não era capaz de rodar duas coisas ao mesmo tempo (a velha multitarefa), ao contrário dos computadores gigantescos, gloriosos, que enchiam uma sala, deles. "Essa coisa de computador pessoal nunca vai pegar", eles diziam. E estavam errados.

Em 1984, a Apple introduziu o Macintosh, um computador pessoal que trocou a linha de comando por algo chamado de "Interface gráfica do usuário" (GUI) e a "metáfora do desktop", uma representação da realidade com ícones no lugar do que seria a sua mesa de trabalho de verdade. Sua memória e capacidade de armazenamento eram bastante limitadas, mas permitiu às pessoas acessarem os computadores e serem produtivas com eles de maneira bem mais fácil que linhas de comando ou cartões perfurados. A Microsoft seguiu o modelo depois.

De novo, as elites anteriores deram risada porque sabiam que a GUI, aqueles ícones bobos, não eram tão poderosos quanto a linha de comando.

Apesar disso, as pessoas que entraram na onda desse novo conceito de computadores mostrou que eles eram mais produtivos neles que "nos outros". Pouco depois, a metáfora do desktop avançou pelo mundo, democratizando ainda mais o acesso ao poder dos computadores.

É onde estamos hoje.

 

Hora de matar o computador

O problema da metáfora do desktop, de imitar a sua mesa do trabalho, é que ela não é boa o suficiente. Apesar da relativa facilidade de uso, a maior parte das pessoas ainda acha que os computadores são difíceis de serem usados. Hoje, se você de fato gostar de computadores, provavelmente não sente muita dificuldade quando estiver mexendo no Windows, Mac ou Linux. Mas observar alguns de seus familiares e amigos traz a realidade à tona: a maioria das pessoas ainda não sabe o que fazer com convenções que muitos de nós dá como natural, algo certo.

O que é pior, a crescente capacidade de armazenamento e funcionalidades tornou a metáfora do desktop em um fardo mais do que uma vantagem: como nós vamos conseguir gerencias os milhares de arquivos que populam as nossas vidas digitais usando pastas? Olhando para minha própria organização de diretórios, digo que mal conseguimos, se é que organizamos alguma coisa. Apple e Microsoft tentaram solucionar este problema com software orientado por banco de dados como o iTunes e o Windows Media Center. Ao invés de gerenciar um monte de arquivos na unha, esse tipo de programa transforma o computador em uma espécie de eletrodoméstico de informação, dando uma interface especializada para organizar suas fotos ou música ou vídeo.

O iPad abraça totalmente esse tipo de solução. Ele coloca a ideia – fotos, música, filmes, documentos de todos os tipos armazenados em bancos de dados orientados para a tarefa – junto da interface orientada para tarefas do iPhone, já cheio de apps maravilhosos que vão permití-lo fazer tudo que imaginar, por prazer ou trabalho. É a realização do eletrodoméstico de informação universal proposto por gênios como Alan Kay e Jef Raskin nos anos 70. É o graal da computação.

Usuários de iPhone e Android que perguntam a si mesmos por que é tão fácil de fazer coisas com esses aparelhos, mas se perguntam por que seus PCs e Macs continuam tão trabalhosos e complicados, vão entrar na onda do iPad totalmente. Sua avó vai. Sua tia também. Seus primos, seus filhos. Todo mundo que não tiver a menor ideia de como funcionam os computadores e não querem aprender e não se importam. Todo mundo vai entrar nessa nova era da computação, mesmo que precise dos velhos computadores atuais para fazer uma meia dúzia de coisas bastante especializadas.
 

Mesmo eu – uma pessoa orientada para tecnologia, um techie que depende de teclados e software especializado como o Photoshop – farei. Eu o farei porque vejo que faço mais e mais coisas no meu iPhone, e menos com o meu computador, mesmo quando estou próximo de notebooks e desktops. Eu uso meu celular para updates no Twitter ou Facebook, para checar preços no eBay, consultar contas de banco, afinar meu instrumento musical, jogar coisas rápidas com meus amigos, ouvir música, ver a previsão do tempo, escolher um filme e comprar ingressos, planejar minha viagem pela cidade via transporte público, escolher um bar ou restaurante depois de um filme, e quando chegar ao bar, descobrir o nome da música que está tocando. Eu posso manter minha agenda de compromissos, rapidamente entrar em contato com qualquer um, tirar uma foto e olhar as antigas, guardar planos de viagem, ver informações das marés e ondas para surfar, rapidamente pegar uma receita e fazer uma lista de compras ou gravar uma nota mental.

A lista de tarefas é infinita. Mesmo que os smartphones sejam limitados por telas pequenas, eles se tornaram o centro absoluto das vidas digitais de muitas pessoas normais. Sem saber, a invasão do iPhone começou a transição para essa nova era da computação.

O iPad está aqui para estender isso para uma tela maior que fará novas coisas possíveis. E depois do iPad, outros virão. Alguns deles serão tão grandes como o meu Wacom Cintiq 21ux. Outros parecerão fisicamente com o meu desktop. Mas todos eles farão parte da mesma revolução computacional.

E essa revolução começa este sábado. Segurem-se, porque o mundo está mudando de novo. E é uma mudança das grandes.

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