Obrigado, Nokia, por não complicar mais a guerra de hardware

Li várias mensagens de desapontamento com o lançamento dos primeiros Microkias hoje. “Só isso, Nokia? A tela só tem 3,7”?” “Mais de 1 cm de espessura, onde já se viu?” “E essa câmera, com 8 MP que nem todo mundo?” “512 RAM, Sem dual-core?” “16 GB sem microSD? Não dá pra nada.” Querida Nokia, não […]

Li várias mensagens de desapontamento com o lançamento dos primeiros Microkias hoje. “Só isso, Nokia? A tela só tem 3,7”?” “Mais de 1 cm de espessura, onde já se viu?” “E essa câmera, com 8 MP que nem todo mundo?” “512 RAM, Sem dual-core?” “16 GB sem microSD? Não dá pra nada.” Querida Nokia, não ouça esses chatos, você está certíssima em focar na experiência e, mais que tudo, no preço. O que temos agora de mais avançado em hardware de smartphones serve para uns dois anos de sistema operacional mobile. É hora de tunar o software e colocar novas funções sem novos chips.

Veja o exemplo do Windows Phone 7.5, que acrescentou várias pequenas coisas nos aparelhos de um ano atrás sem sobrecarregá-los. Quem comprou um HD7 está rodando o Mango feliz da vida, bem como todos os apps. Há jogos cada vez mais bonitos no Marketplace da Live, porque o potencial das GPUs ainda não havia sido totalmente explorado (você percebe o mesmo nos videogames, com jogos de Xbox 360 mais bonitos hoje que há 6 anos). Todos eles podem aguentar pelo menos um ano e ficarem cada vez melhores, se a Microsoft aumentar o suporte aos comandos de voz e integração com os serviços do Bing, por exemplo. E os 16 GB de espaço em disco podem ser mais que suficientes se a Microsoft aprimorar ainda mais a integração com a sua nuvem, que tem generosos 25 GB e permite sincronização por Wi-Fi. Novos aparelhos podem ser legais, mas ainda há várias coisinhas a se aprimorar, como mais opções de customização, um Marketplace melhor regulado e mais atrativo aos desenvolvedores. Mas nada que exija mais gigahertz.

Do lado da maçã, quem comprou um 3GS há mais de dois anos está desfrutando do iOS 5, com suas notificações, lembretes e iMessage, entre um monte de pequenas coisas. Os engenheiros de software da Apple conseguiram aumentar consideravelmente a velocidade do Safari mobile apenas com um update de software. O iPhone 4S é um sucesso-fracasso emblemático: ele não foi visto como um upgrade significativo por muitos porque as grandes melhorias estavam no iOS5, disponível pra quem tem por exemplo o iPhone 4. Microsoft e Apple lutam para deixar aparelhos velhos (um conceito bizarro para o ápice da tecnologia há um ou dois anos) cada vez mais atuais. Perdem uma venda de iPhone 4 para o iPhone 4S aqui mas ganham um cliente por mais tempo (compare o índice de lealdade das plataformas), que pode depositar suas economias em um iPad acolá.

E antes que alguém me lembre nos comentários, a Nokia está fazendo coisa semelhante com a última versão do Symbian. O N8, por exemplo, vem ganhando melhorias importantes na interface e estabilidade com seus updates-mulheres.

O que me leva ao vilão dessa corrida maluca. Sim, o grande responsável por fazer os consumidores se preocuparem demais com especificações de hardware, como se comprassem um computador, foi o Android. Parece fazer sentido, vendem um bocado, criam barulho na mídia, mas é uma estratégia maluca: Samsung, Motorola, LG, Sony Ericsson e companhia muitas vezes trocam lealdade do consumidor pela primazia de lançar o “primeiro de 1 GHz”, “o primeiro dual-core”, “o primeiro com 1 GB de RAM” e o que mais couber no folheto promocional. Elas lançam 80 aparelhos diferentes por ano, com diferenças minúsculas de clock ou câmera e deixam todos os anteriores para trás, desatualizados, na esperança de que você compre o próximo, porque agora sim será “o smartphone mais rápido de todos”. Quando eu fiz a resenha do S II, eu me perguntava se ele era consideravelmente mais rápido que o Atrix por causa da solução de GPU, do Android 2.3 ou simplesmente por não ter o peso do Motoblur. Nas entrelinhas, meu recado era simples: a Motorola tinha potencial parecido com hardware, mas preferiu não ir até o limite. E o que a Motorola fez? Lançou o Milestone 3, meses depois de lançar o 2 (agora com o Gingerbread) e lançou o Atrix 2 nos EUA. Para completar, atrasou o update do Android 2.2 para o Atrix original, esperando que alguém se interessasse, sei lá, pelo vindouro Razr. Que tipo de consumidor está feliz com este modelo? Veja quantos estão insatisfeitos nos comentários.

Os poucos (sim, amigos geeks, vocês são poucos) que instalam suas ROMs customizadas, launchers e outras coisas para melhorar a performance vêem o quanto que o hardware pode aguentar mais se Google (é bobagem achar que ele não tem culpa), as fabricantes e operadoras se dessem ao trabalho de focar nos consumidores atuais. Diabos, a simples troca de fonte do Android original para a Roboto já vai criar um impacto bastante positivo na legibilidade dos Androids. Assim como a unificação visual dos apps do Google, que virá apenas com o Ice Cream Sandwich mas poderia sair separadamente para qualquer aparelho com o robô. É necessário um aparelho novo só para isso? É o que eles querem que você acredite.

Essa ideia maluca de que temos de trocar de aparelho todo ano, que a empresa X precisa lançar um dual-core ou “já vai sair da fábrica obsoleto” (como eu li um bocado nos comentários) é recente, idiota e danosa para os próprios consumidores, que alimentam um ciclo vicioso que só beneficia as fabricantes – e ainda assim por um curto período. Um smartphone a cada 2 anos está bom demais. É só ele aprender novos truques. Todas as funções que você precisa já estão aqui. Jogue apps novas, um Dropbox aqui, um Skype ali, um WhatsApp para economizar, e você tem uma experiência nova. Precisamos exigir mais dessas inovações e menos silício – premiando os desenvolvedores que entregam uma boa experiência e os fabricantes que se comprometem com updates.

O recado da Nokia, contrariando algumas expectativas, é que mais importante que toda essa ficha técnica é talvez seja melhor produzir apenas dois tipos de aparelho, com escala e otimização de software para fazê-los baratos e rápidos por um bom período de tempo, com atualizações no tempo certo, reconquistando seus consumidores. Eu particularmente prefiro esse caminho. Eu sou a favor de opções, diversidade, preços e telas diferentes mas até que ponto elas estão mudando o foco da inovação tecnológica para o caminho errado? É algo a se pensar e questionar os fabricantes. O que vocês pensam?

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