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Por que o Chromecast pode ser uma enorme revolução popular para a sala de estar

Depois de anos de dificuldade no mundo do entretenimento e multimídia, o Google finalmente saiu de sua casca e criou o que pode ser a revolução popular da sala de estar. E a criação tem nome e preço: Chromecast, US$35. Antes, podemos pintar o cenário e o contexto histórico em que essa o Chromecast chega […]

Depois de anos de dificuldade no mundo do entretenimento e multimídia, o Google finalmente saiu de sua casca e criou o que pode ser a revolução popular da sala de estar. E a criação tem nome e preço: Chromecast, US$35.

Antes, podemos pintar o cenário e o contexto histórico em que essa o Chromecast chega ao mundo: bem-vindo à Era das Telas.

Você já está nela faz um bom tempo, mas elas vivem separadas, como pequenos mundos: seu celular é sua pequena janela para o mundo; o tablet é uma passagem ainda maior e com mais interação; o notebook é a tela de produção, mas também de consumo; e a TV, a mais antiga das telas atuais, é a maior mas oferece pouca interação. O problema atual é que, apesar de consumirmos tanto conteúdo, o contato entre essas telas ainda não é afinado: cada uma delas lhe mostra um mundo, mas não é fácil uni-las para trabalharem em conjunto. Assim começou a Guerra da Sala de Estar: das fabricantes de consoles, passando por fabricantes de celulares e empresas provedoras de conteúdo, todos querem criar o ecossistema ideal, a forma perfeita para que você utilize os mesmos produtos para acessar todas as janelas. E sem fios.

Na última CES, cansamos de ver isso. Toda e qualquer empresa de tecnologia tinha uma solução mirabolante para conectar seus aparelhos à tela grande – o Miracast, protocolo criado em 2012, é o favorito das fabricantes de notebooks com Windows. E o mesmo aconteceu na última E3, onde Sony e Microsoft deixaram bem claras suas intenções de dominar a sala de estar com várias telas – seja no controle do console, seja com uso de apps, como o SmartGlass. No fim, essas empresas corriam atrás de um objetivo que, sem muita pretensão, escancarou o interesse pela sala de estar: a Apple costuma chamar a Apple TV de “hobby”, um aparelho que não recebe tanto investimento e desenvolvimento, mas com o surgimento do AirPlay, muita coisa mudou.

O AirPlay é a solução que a Apple criou para enviar conteúdo de seus gadgets com iOS para a grande tela, sem a necessidade de um cabo. Basta dar play em um vídeo ou em uma música, e a opção de envio surge se sua Apple TV estiver ligada. Quer mostrar fotos para a família? AirPlay. Aquele vídeo engraçado? Também. Com o tempo, o AirPlay foi além, e chegou aos computadores da Apple por meio do Mountain Lion. Espelhar o conteúdo do notebook ou computador de mesa requer dois cliques.

Mas o AirPlay não é perfeito. Longe disso, inclusive: sua versão para OS X, por exemplo, é errática. Vídeos enviados pelo ar podem sofrer com engasgos, e o delay de diversas ações costuma atrapalhar. Mas o que mais atrapalha o AirPlay é a síndrome de Estocolmo digital que a Apple tenta empurrar: para criar esse sistema sem fricção, você precisa de uma Apple TV, um iPhone, um iPad, um Mac. Maçãs por todos os cantos da casa.

E é aqui que, finalmente, o Google parece ter pescado o caminho do futuro.

A nova chance do Google

Quem subiu ao palco para apresentar o Chromecast foi o brasileiro Mario Queiroz. Queiroz está no Google há alguns anos e sua equipe desenvolveu o fiasco chamado Google TV. Imagino que a equipe do Google tenha aprendido um bocado com o insucesso dele, somado à outro aparelho que sequer chegou a existir: o Nexus Q.

O Google TV provou que a empresa precisa pensar mais em pessoas comuns – o fato de todo mundo em Mountain View conseguir usar um aparelho não significa que ele é simples, ou fácil de usar. Ninguém quer dificuldade na TV. Ela sempre foi a tela passiva, onde a família senta para assistir algo, então por que diabos alguém vai começar a usar um controle com 200 botões ou ter que mexer num sistema operacional nada prático? O Google aprendeu que era preciso facilitar.

E surgiu, no ano passado, com o Google Q. Uma caixa para concorrer com a Apple TV, finalmente. Mas um concorrente que, além de ter todos os problemas de seu nêmesis, custava o triplo do preço. O Nexus Q queria criar a síndrome de Estocolmo que a Apple criou: aparelhos com Android conseguiriam se comunicar com facilidade por uma caixinha que custaria nada menos do que US$ 299. As reclamações foram tantas que o Google encerrou a pré-venda do aparelho, disse que ele seria “atualizado”, mas ele nunca mais voltou. E nunca mais precisará voltar, por que nesta história, o Google aprendeu que, para conquistar a sala, é preciso abrir portas, e não fechá-las.

Com dois aprendizados doloridos nas costas, surge agora o Chromecast, a promessa de eliminar todas essas questões. E com passos simples.

O Chrome e a caixinha de ferramentas

Se a Apple TV é uma caixa minúscula e negra que quer ficar escondida na sua sala, como um item que está lá simplesmente porque precisa estar, o Chromecast vai além: ele é do tamanho de um pendrive, e requer uma porta HDMI para se conectar a qualquer TV. Ele exige um cabo de força, conectado via USB (da própria TV!), mas seu formato é de um simples chaveiro com um pequeno LED – nada pode ser mais sutil do que isso. Por isso o Google não terá dificuldades em enfrentar a Apple (e outros concorrentes, como a Roku e a Boxee, recentemente adquirida pela Samsung): o aparelho custa US$ 35, um valor ínfimo e que facilita demais a já famosa compra por impulso.

Sua utilidade também foi reduzida em comparação à concorrência: enquanto o Chromecast quer apenas espelhar o conteúdo do Chrome em sua tela gigante, outras caixinhas tentam empurrar seriados, filmes e outros conteúdos pagos porque, afinal, é isso que realmente paga as contas.

E se o AirPlay requer que você crie um ecossistema da Apple, e dependa dele para ter uma relação saudável com a tecnologia da sua casa, o Chromecast tem uma proposta muito mais ampla – e, naturalmente, mais popular: o caminho para levar o conteúdo é o navegador do Google. E ele está presente em diversas plataformas: tablets de todos os tamanhos e fabricantes, smartphones com Android e iOS, e todos os notebooks e computadores que você puder imaginar. Isso é, enfim, algo muito grande.

E, para completar, o Google convida os desenvolvedores para ampliarem a capacidade do brinquedinho. Há anos, especialistas e desenvolvedores especulam sobre um SDK da Apple TV que permita criar apps para o aparelho, mas isso é mais um clamor de quem vê potencial, não algo real. A Apple não tem sua fama de empresa fechada à toa, e permitir que infindáveis apps sejam criados e saiam de seu controle não faz seu tipo. (Depois de hoje, talvez faça – mas muito mais como reação do que ação.)

Já o Google, que parece aquele tiozão que dá um tapa nas costas do sobrinho e espera que ele o ajude a arrumar a porta que quebrou, tem sua fama aberta, convidativa. Trazer os desenvolvedores para o Chromecast com o SDK do aparelho pode criar resultados incríveis (e fomentar, ainda mais, o HTML5). É possível vislumbrar um futuro com jogos em HTML5 (pense no que o pessoal já faz nos Chrome Experiments) e outros produtos interativos que, sinceramente, tenho certeza que as mentes dos desenvolvedores já estão matutando neste momento.

Ainda precisamos testar o aparelho e colher relatos principalmente para saber se a transmissão é tão suave como precisa ser. Isso é imprescindível. Mas com essa combinação de fatores – aprendizado, preço e abertura – o Chromecast pode dominar a sala de estar de muita gente. Esperamos que o Google tenha planos maiores (leia-se globais, e não só nos EUA) para essa pequena peça. Aliás, você imaginava que um pedaço tão pequeno de hardware poderia mudar tudo?

Atualização (19h07): uma versão anterior do texto dizia que o Chromecast dispensava um cabo de força, o que não é o caso; o texto foi corrigido.

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