Como os cubículos foram criados para dar liberdade aos funcionários de empresas

É bem possível que neste exato momento você esteja sentado em uma cadeira de frente para um computador em um cubículo dentro de um escritório, com diversas outras pessoas próximas a você e na mesma situação. É assim que muita gente trabalha hoje em dia. Dentro da cultura corporativa, o cubículo se tornou um ícone, […]

É bem possível que neste exato momento você esteja sentado em uma cadeira de frente para um computador em um cubículo dentro de um escritório, com diversas outras pessoas próximas a você e na mesma situação. É assim que muita gente trabalha hoje em dia. Dentro da cultura corporativa, o cubículo se tornou um ícone, o pequeno espaço reservado para cada funcionário de uma empresa no qual eles contam com uma relativa privacidade para realizar o trabalho (ou qualquer coisa que não seja relacionada ao trabalho).

Mas como surgiu o conceito de cubículo? Quando as empresas descobriram que a melhor forma de organizar seus funcionários dentro do ambiente de trabalho era com essas pequenas divisões? Pode parecer um questionamento meio besta, mas a verdade é que a origem do cubículo é bastante curiosa, e é ponto central do livro Cubed: A Secret History of the Workplace (Encubado: uma história secreta do ambiente de trabalho, em tradução livre), escrito por Nikil Saval. Ele foi entrevistado pela Vox e falou um pouco sobre essa surpreendente história de origem dos cubículos, originalmente criados para dar liberdade aos funcionários das empresas.

Em meados dos anos 60, Robert Propst, um designer da Herman Miller, idealizou um “espaço individual e autônomo para trabalhadores que era flexível, e que poderia ser alterado caso as circunstâncias do escritório mudassem”, escreveu Saval. “A ideia era que você poderia modificar para qualquer configuração que quisesse – nunca foi feito para ficar preso em um lugar.” O conceito foi lançado em uma coleção chamada Action Office, que, para a época, era revolucionária. Esses novos móveis para escritórios mudavam completamente a dinâmica empresarial – até então, os funcionários “comuns” dividiam o mesmo espaço, enquanto os executivos mais importantes usavam suas próprias salas. Com as Action Office, eles poderiam ter seu espaço próprio.

Mas a Action Office era consideravelmente diferente do que temos hoje. Nela, as divisórias de cada área dos funcionários eram mais abertas, dando uma sensação maior de liberdade. Com o sucesso da linha de Propst, outras fabricantes de móveis para escritórios passaram a copiar o conceito, desenvolvendo versões mais fechadas, até que chegamos ao cubículo atual. Aquela linha de móveis criada para dar mais liberdade para funcionários acabou fazendo com que eles se amontoassem em pequenos espaços.

O ódio pela ideia de cubículo foi crescendo nas décadas seguintes, especialmente após a recessão econômica nos EUA entre a década de 80 e começo dos anos 90. Na época, muitos daqueles que eram altos executivos e tinham uma sala própria perderam o emprego, e acabaram indo trabalhar em posições mais baixas em empresas. Aqueles que sempre tiveram liberdade e privacidade total passaram então a viver nos cubículos. É bem fácil imaginar como alguém que durante anos trabalhava de portas fechadas se incomodou quando passou a ter apenas três divisórias separando de outros funcionários. Como explica Saval:

“Os cubículos se tornaram símbolo da transformação do local de trabalho – da impermanência, e de descartabilidade dos trabalhadores. Então, não é necessariamente que eles sejam ruins – embora, em termos de design, eles não são ótimos – mas que parecem ser sintomas de um ambiente de trabalho arbitrário e insensível.”

Mas esses pequenos espaços tão odiados e ridicularizados pelo mundo – olá, Dilbert! – estão perdendo força, e ambientes de trabalho abertos começam a ganhar espaço dentro das empresas dos EUA. Segundo Saval, o conceito não é nem um pouco novo – ele é, aliás, da mesma época dos cubículos:

“Uma coisa interessante a ser notada é que essa não é uma ideia nova – ela foi inventada na Alemanha no fim dos anos 50 e começo dos anos 60, e eles chamavam de paisagem de escritório. A ideia era eliminar as hierarquias, e barreiras de comunicação, e criar ambientes de trabalho que permitiam fluxo de comunicação e de papelada. Você teria esses locais de trabalho que eram, em teoria, baseados puramente em trabalho. Eles foram bem sucedidos no Reino Unido e nos EUA, mas não se deram bem em outras partes da Europa – muitos trabalhadores eram protegidos, seja por sindicatos ou conselhos trabalhistas, que aprovaram leis que garantiam que trabalhadores poderiam determinar como o ambiente de trabalho é projetado, junto com a gerência.”

Segundo Saval, os ambientes abertos são piores psicologicamente do que os cubículos – é mais fácil para o funcionário se distrair assim, e também é mais estressante.

Então qual é o melhor ambiente de trabalho? Talvez a forma como empresas de tecnologia se organizam – ambientes cheios de facilidades para seus funcionários. Como o Google e suas mesas de xadrez, estúdios de som, opções variadas de comida e mais? Por mais que pareça divertido trabalhar em um lugar assim, Saval ressalta que por trás de todas essas facilidades há uma mensagem bem clara dada pelas empresas: elas querem que você passe o maior tempo possível lá dentro. Está cansado? Não vá para casa – tire um cochilo em uma rede. Fome? Vá até a lanchonete e pegue algo para comer. Nas empresas de tecnologia, a ideia é que os funcionários passem a maior parte do dia lá dentro, e quase nada em outro lugar.

Então é difícil imaginar como deve ser o escritório ideal. Qualquer que seja a sua configuração, a mensagem deve ser sempre a mesma: lá é um ambiente de trabalho, e o que você tem que fazer lá dentro é trabalhar. Você pode conferir a matéria e entrevista completa com Saval, em inglês na Vox. [Vox]

Foto via Flickr

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