Este pássaro australiano sabe que tem perigo por perto só de ouvir seus amigos

Se você ouvisse um rugido de urso pela primeira vez, mas não visse a fera rosnando, o que você pensaria? Você ficaria com medo? Talvez, mas talvez não — a floresta está cheia de ruídos estranhos. Mas e se, ao mesmo tempo, um de seus amigos dissesse: “Droga, eu sei tudo sobre aquele monstro com […]

Se você ouvisse um rugido de urso pela primeira vez, mas não visse a fera rosnando, o que você pensaria? Você ficaria com medo? Talvez, mas talvez não — a floresta está cheia de ruídos estranhos. Mas e se, ao mesmo tempo, um de seus amigos dissesse: “Droga, eu sei tudo sobre aquele monstro com garras e precisamos entrar no carro”?

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É mais ou menos assim que uma espécie australiana de pássaro, o Malurus cyaneus, parece descobrir sobre ameaças, segundo uma nova pesquisa publicada nesta quinta-feira (2) no Current Biology. Essa descoberta seria inédita em nossa compreensão sobre a inteligência aviária.

“Essa é a primeira vez que estamos vendo evidências de que os pássaros podem aprender indiretamente — o que chamamos de aprendizagem social — a associar sons com um significado”, disse Dominique Potvin, ecologista de animais da Universidade de Sunshine Coast, na Austrália, em entrevista ao Gizmodo. “Isso significa que um pássaro pode aprender que um novo som significa que tem um predador por perto, simplesmente por escutá-lo associado com outros sons que eles já sabem que significam “predador”. É um mecanismo de aprendizagem mais sofisticado que é bastante impressionante para um animal tão pequeno!”

Os pássaros são geralmente mais inteligentes do que os humanos pensam, e cientistas já descobriram que esses Malurus cyaneus reconhecem chamados ameaçadores de outros animais. Mas como eles aprendem esses chamados? E se eles ouvem o chamado de um pássaro predatório pela primeira vez sem ver o predador?

Os cientistas tocaram chamados de alerta em alto-falantes para 16 pássaros na natureza. Primeiro, eles reproduziram dois sons que os pássaros nunca teriam ouvido antes: um gerado por computador e outro de uma espécie com a qual os Malurus cyaneus nunca interagiriam.

Inicialmente, os pássaros não responderam aos chamados. Então, durante três dias, eles tocaram um dos chamados junto com chamados de alerta da própria espécie que haviam sido gravados (além de outros chamados de pássaros familiares). No fim do período de treinamento, os pássaros fugiam em resposta ao som que havia sido combinado com os chamados de alerta dos Malurus cyaneus, segundo o artigo publicado nesta quinta.

Um Malurus cyaneus fêmea em um fio. Foto: Jessica McLachlan

“Isso sugere que o treinamento não apenas os tornou mais cautelosos, mas também que eles aprenderam o significado do chamado de alarme que combinamos com um chamado conhecido”, disse Andy Radford, professor de Ecologia Comportamental na Universidade de Bristol, no Reino Unido, em entrevista ao Gizmodo.

E a diferença é impressionante. Segundo o estudo, depois do treinamento, os pássaros fugiram em resposta a 81% dos sons recém-treinados no primeiro dia e a 78% daqueles do segundo dia. O grupo de controle de pássaros, que ouviu um som gravado não combinado com nenhum chamado de alerta, fugiu em resposta a 38% dos sons que ouviu no primeiro dia e a 19% dos que ouviu no segundo dia.

Ouça abaixo um dos refrões de sons de alerta misturados com os do Malurus cyaneus e de outros pássaros:

As aves em si não emitem sons de alarme quando fogem, de acordo com o estudo, então ainda há trabalho a ser feito para entender como esse aprendizado acontece fora do ambiente experimental.

Esse experimento se destaca em um lugar em que outras pesquisas com animais são muitas vezes imperfeitas — ele estudou animais selvagens em seus habitats naturais, em vez de em um laboratório, onde seu comportamento pode ser significativamente alterado pelo ambiente não natural. Mas ainda há limitações a serem apontadas. Potvin observou que os pesquisadores não conseguiram controlar a ação de outras aves vizinhas que não fazem parte do estudo, que, por sua vez, poderiam ter influenciado os resultados. “Nós tentamos e nos certificamos de que sabíamos quais os outros indivíduos que estavam por perto e suas reações ao processo experimental”, ela disse.

A seguir, os cientistas esperam estudar como essa aprendizagem social pode mudar baseada no ambiente e se existem certos barulhos mais propensos a alertar os pássaros. E as aves que imitam outras? Poderiam pássaros que imitam outras espécies predatórias (como gaios-azuis) ensinar os outros sobre em quais sons ficar de olho?

E os Malurus cyaneus não são os únicos aprendizes sociais por aí. “Os Malurus cyaneus são espertos, mas eles definitivamente não são a espécie de pássaro mais inteligente que existe”, disse Potvin. “Portanto, acho que poderíamos generalizar com segurança esses resultados para outros pássaros, especialmente outros pássaros canoros”.

[Current Biology]

Imagem do topo: Jessica McLachlan

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