Um novo relatório liga radiação de celular a câncer em ratos

O Programa de Toxicologia Nacional (NTP, na sigla em inglês), uma divisão do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, jogou, na última sexta-feira (2), luz sobre o quente debate sobre se os celulares são ou não prejudiciais à nossa saúde. O programa liberou dois relatórios preliminares sobre seus extensos e caros esforços […]

O Programa de Toxicologia Nacional (NTP, na sigla em inglês), uma divisão do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, jogou, na última sexta-feira (2), luz sobre o quente debate sobre se os celulares são ou não prejudiciais à nossa saúde. O programa liberou dois relatórios preliminares sobre seus extensos e caros esforços para estudar os efeitos da radiação de celular em ratos. O veredito foi, decididamente, misturado.

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Os cientistas do NTP descobriram que alguns grupos de ratos machos — mas não as fêmeas ou camundongos machos ou fêmeas — pareciam ter um risco maior de desenvolver tumores próximos de seu corações depois de ser constantemente expostos a variados níveis de radiação de radiofrequência (RF). O corpo inteiro dos animais foi exposto a RF por até dois anos (quase sua vida inteira), nove horas por dia, em níveis muito maiores do que as pessoas normalmente recebem de seus celulares.

Também houve evidências de dano aumentado nos tecidos em torno do coração tanto de ratos fêmeas quanto machos, enquanto fêmeas grávidas e seus bebês nascidos sob constante exposição no útero pareciam ter um peso menor do que o normal. Mas, no geral, houve pouca diferença na saúde de fato dos camundongos e ratos em comparação com suas contrapartes não afetadas ao fim do experimento — alguns grupos de controle até morreram antes do que aqueles expostos à radiação.

Os pesquisadores concluíram que houve “evidência de atividade cancerígena” causada pela radiação emitida por celulares que usam tecnologia 2G e 3G (responsável por chamadas e mensagens nos celulares de hoje em dia) nos ratos machos. Algumas pesquisas mostram que o uso de celular poderia ser associado ao tipo específico de tumor destacado nos estudos do NTP, chamado de “schwannoma” (embora no cérebro, em vez de no coração). Mas ainda não está claro se as descobertas do NTP são verdadeiras ou sequer relevantes para humanos.

“Nesse momento, não sentimos que compreendemos os resultados o bastante para colocar um grande grau de confiança nas descobertas”, John Bucher, cientistas sênior do NTP, disse a repórteres em um comunicado discutindo os relatórios na sexta-feira (2), de acordo com o Washington Post.

Outros, no entanto, chamaram as descobertas de problemáticas.

“Esse é o estudo mais competente publicado que conecta o câncer com a radiação de celular — deve aumentar os alertas para legisladores e aumentar a consciência para todos os americanos”, disse Olga Naidenko, assessora científica sênior da organização de defesa Environmental Working Group (EWG), em um comunicado. “Esses estudos deveriam ter sido feitos antes que mais de 90% dos americanos, incluindo crianças, começassem a usar essa tecnologia todos os dias.” O EWG foi criticado, no entanto, por suas posições não-científicas sobre os potenciais perigos de produtos para o consumidor, como protetores solares.

Os estudos do NTP começaram dez anos atrás e custaram US$ 25 milhões para serem finalizados. Durante esse período, não houve falta de estudos investigando celulares e câncer, com evidências tanto dando suporte a quanto contradizendo uma conexão entre os dois, e mais pesquisas estão sendo feitas atualmente.

Críticos apontaram que não se acredita, e também não foi provado, que a radiação de radiofrequência cause o tipo de dano ao DNA que pode levar a mutações e ao câncer. Outros argumentaram que algum outro mecanismo pode ainda ser responsável por efeitos cancerígenos. Apesar dessa afirmação, mais de um estudo já descobriu que a taxa geral de câncer cerebral se manteve estável ao longo dos anos, mesmo com os celulares se estabelecendo na sociedade.

Algumas agências de saúde pública, incluindo a Organização Mundial da Saúde (OMS), no entanto, preferiram levar para o lado da precaução, classificando energia de radiofrequência como um agente ambiental de tipo 2B, o que significa que ela pode ser “possivelmente cancerígena para humanos”. Desde 2015, a cidade de Berkeley, na Califórnia, mandou as lojas de celulares colocarem avisos dizendo aos clientes que manter o celular perto demais de seu corpo pode levar a uma exposição de radiofrequência acima dos níveis recomendados, uma ordenança que enfrentou desafios legais por parte da indústria. E em dezembro passado, o Departamento de Saúde Pública da Califórnia divulgou suas controversas e amplamente debatidas diretrizes de como diminuir sua exposição à radiação de celular, em meio a críticas de que elas eram exageradas e só causariam confusão no público.

A FDA (órgão que regulamenta, entre outras coisas, alimentos e medicamentos nos EUA) tem sido tremendamente desdenhosa em relação a qualquer ligação entre as duas coisas, dizendo em termos não muito claros que o “peso das provas científicas não mostra uma associação entre exposição a radiofrequência de celulares e resultados adversos para a saúde”.

Em resposta aos estudos do NTP lançados na sexta-feira, a FDA reafirmou sua posição, declarando que estava ansiosa para participar de um projeto de revisão por pares dos relatórios, que deve começar no fim de março. Em 2016, o NTP divulgou dados parciais do relatório, citando sua importância para a “discussão sobre a questão de segurança de celulares”. Na época, outros especialistas argumentaram que as descobertas de um risco elevado de tumor em ratos machos não fazia sentido, dados os resultados gerais, e que poderia até simplesmente representar um ruído estatístico, em vez de qualquer efeito real.

Talvez de forma reveladora, em resposta a uma pergunta feita tanto em 2016 quanto no último fim de semana, o cientista John Bucher, do NTP, disse que os dados disponíveis não o levaram a mudar qualquer coisa na maneira como ele atualmente usa celulares.

[NTP via The Washington Post]

Imagem do topo: Getty

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