[Review] Asus Zenfone AR: lembra de quando o Google Tango parecia uma ideia legal?

Sempre que uma nova plataforma aparece, o mundo dos aparelhos eletrônicos mergulha em um paradoxo: como você faz com que as pessoas adotem a nova tecnologia quando não existe nenhum conteúdo, e se não tem ninguém a utilizando, como convencer os desenvolvedores a trabalhar em conteúdo para essa plataforma? Recentemente, vimos essa situação se desdobrar […]

Sempre que uma nova plataforma aparece, o mundo dos aparelhos eletrônicos mergulha em um paradoxo: como você faz com que as pessoas adotem a nova tecnologia quando não existe nenhum conteúdo, e se não tem ninguém a utilizando, como convencer os desenvolvedores a trabalhar em conteúdo para essa plataforma? Recentemente, vimos essa situação se desdobrar para os dispositivos de realidade virtual como o HTC Vive e o Oculus Rift. Apesar da capacidade dos dois sistemas de provocar reações profundas em quem os experimentou, a a realidade virtual ainda é muito cara e há pouco conteúdo para as pessoas que realmente se importam.

E assim como aconteceu com a realidade virtual, a realidade aumentada passa por esse processo. O Google tem demonstrado sua plataforma Tango AR há anos, mas pelo fato do Tango exigir uma combinação específica de câmeras tradicionais, sensores de registro de movimentos e câmeras infravermelho, a maioria das companhias não se preocuparam em incorporam o Tango em seus dispositivos. Na verdade, o total de dispositivos que foram lançados ao público com a plataforma é de dois.

O primeiro foi o Phab 2 Pro da Lenovo, que foi o primeiro celular habilitado para o Tango que ficou disponível para os consumidores. Mas especificações fracas, design pouco inspirado e uma decisão inexplicável de vendê-lo nos Estados Unidos na varejista Lowe, em vez de empresas especializada no mercado de smartphones, levaram o dispositivo ao esquecimento, mesmo entre as pessoas mais obcecadas por tecnologia.

O segundo dispositivo é este aqui, o Asus Zenfone AR, anunciado no começo de agosto sem grandes alardes. O ZenFone AR possui um design muito mais popular, com uma tela grandona de 5,7 polegadas, um sensor de impressão digital na parte da frente, botões de funções capacidades e até mesmo uma traseira de couro brunido. E na traseira tem o grande módulo de câmeras certificadas para o Tango, que contém uma câmera principal de 23 megapixels, um sensor de movimento logo abaixo e uma câmera infravermelho para monitorar a profundidade ao lado delas.

Preço
Começa em US$ 599 (aproximadamente R$ 1.900, na conversão direta)

O que é?
Um celular de 5,7 polegadas compatível com a plataforma Tango do Google

Curti
Roda aplicativos de realidade aumentada em um aparelho que não é uma completa confusão

Não curti
A plataforma Tango estagnou

Este é o modelo que torna a realidade aumentada possível

Eu utilizei os dois aparelhos e é imediatamente claro que o Zenfone AR é um avanço significativo em relação ao Phab 2 Pro, se pensarmos em um celular como um todo. Seu corpo parece mais refinado, sua tela é brilhante e razoavelmente colorida e você ainda tem o suporte à plataforma de realidade virtual Google Daydream – ou seja, você consegue colocar o telefone em um headset para ter alguma diversão com VR. (Fica aqui o registro de que o ZenFone AR é o primeiro dispositivo a suportar tanto o Daydream quanto o Tango). Em uso normal, a autonomia de bateria do aparelho não é tão ruim, já que durou 8 horas e 43 minutos em nosso teste de exaustão, o que é praticamente a mesma coisa que o Moto Z2 Force (8:42) e o Samsung Galaxy S8 (9:12). Mas ao mesmo tempo, não existe nada de especial sobre o ZenFone AR, fora o Tango. E é aqui que as coisas mudam de figura.

Estas miniaturas dentro do app do Tango te animam?

Os aplicativos de realidade aumenta são bem fáceis de achar, já que existe uma seção dedicada para eles na Play Store. O problema é que não existe um único aplicativo para o Tango que consegue prender a sua atenção por mais de 30 segundos – e eu testei todos os 35 ou mais que estão disponíveis lá. Me vi dizendo “Isto é bacana”, logo depois de fechá-lo e partir para o próximo. O Tango ainda está em um ponto no qual todos os aplicativos se parecem como uma demonstração da tecnologia.

Pegue, por exemplo, o aplicativo BMW iVisualizer, que utiliza o Tango para mostrar virtualmente um modelo 3D do BMW i3 ou i8 dentro da sua sala de estar. A partir disso, você pode mover o celular ao redor do ambiente para dar uma olhada no carro por todos os ângulos possíveis, abrir as portas e até mesmo mudar os materiais do painel ou dos bancos. É divertido por cerca de 15 segundos.

Eu sei que estacionei mal, mas ninguém se feriu durante o teste. Eu juro

A verdadeira animação vem quando você pensa nos “e se?”. E se você pudesse isso para configurar um carro antes de comprá-lo? E se a BMW transformasse o aplicativo é um manual high-tech para o dono, e assim a empresa poderia te dar uma maneira fácil de localizar onde está o reservatório de água do limpador parabrisa? Mas eles não farão, pelo menos por um bom tempo, porque nenhuma empresa vai ganhar milhões de dólares desenvolvendo software para realidade aumentada que só podem ser utilizados em um ou dois dispositivos.

Então tem um software como o aplicativo Measure, que utiliza o Tango para medir qualquer coisa para a qual você apontar a câmera. Mas, mais uma vez, o aplicativo não é lá tão útil porque no instante que você o inicia, há um aviso dizendo “as medidas demonstradas aqui são estimativas e talvez contenham imprecisões”. Em defesa do Measure, os números que calculei geralmente foram bem próximos da realidade. Mas do outro lado da moeda, como qualquer pessoa que já tentou montar um móvel sabe, “próximo” não é bom o suficiente. Ainda é muito cedo para jogarmos no lixo nossas fitas métricas.

No mesmo aplicativo que a loja Wayfair oferece seus produtos para todos os consumidores, foi adicionada uma seção especial que é uma das melhores formas de ver como algum móvel ficará na sua casa

Talvez a única exceção dessa coleção de coisas sem sentido seja o aplicativo da Wayfair, loja de mobiliário. O app tem uma seção especial que permite passear pelos móveis, em 3D, e tira vantagem das capacidades de realidade aumentada do Tango. Tudo o que você precisa fazer é rolar pela lista de produtos disponíveis, selecionar um que você curtiu, e então apertar o botão que diz “Visualização 3D no Cômodo”. Em apenas alguns segundos, aquele item estará na sua frente, graças ao poder da realidade aumentada.

Isso te dá uma boa ideia de como uma cadeira ou um criado-mudo ficará na decoração da sua casa. Você pode mover as coisas, rotacionar e ter uma boa ideia se aquela mesa de 1,2 metro caberá direitinho no espaço livre. E mesmo que nem todos os produtos do inventário da Wayfair esteja disponível em um modelo 3D pronto para a realidade aumenta, é um começo. Além disso, a companhia está sempre adicionando novidades no seu catálogo 3D. Mas, de novo, quando tempo você gasta comprando móveis? Sair da sua escolha normal para comprar um celular mediano só para brincar como design de interiores é absurdo.

Agora você pode se certificar de que seu feng shui combina antes dele chegar na sua casa

Só para assegurar, eu procurei os desenvolvedores do aplicativo da Wayfair para sber o que eles achavam das deficiências do Tango, e a impressão que tive é de que eles sabem muito bem dos problemas. Sobre o Tango, Shrenik Sadalgi, líder de engenharia na Wayfair disse ao Gizmodo: “Vemos um problema do ovo e da galinha aqui – o uso da nova tecnologia de realidade aumentada como o Tango é melhor demonstrada com conteúdo 3D de qualidade. Conteúdo 3D de qualidade exige boa tecnologia como o Tango para ser consumido. Existe uma interdependência entre os dois – e ambos precisam estar disponíveis ao mesmo tempo. Se for muito cedo, a tecnologia talvez não se popularize”.

Isso significa que a equipe da Wayfair não pode bancar o Tango sozinha, o que os força a considerar outras plataformas – potencialmente menos poderosas, como ARKit da Apple – que estará disponível em milhões de dispositivos quando for disponibilizado para o iOS 11 no final do ano.

Os seus pais não te disseram para não trazer dinossauros em casa?

A adoção mais ampla do ARKit é o que atrai alguns desenvolvedores, como Asher Vollmer, criador do popular jogo de puzzle Threes. “Existe uma grande vantagem óbvia [ao ARKit]: acesso instantâneo ao milhões de usuários. Tecnologia nunca terá sucesso no vazio”, contou ao Gizmodo. E é por isso que seu próprio projeto de visualização de móveis em realidade aumentada, similar ao que a Wayfair oferece com o Tango, chegará nos celulares com o ARKit.

“Por mais tentador que seja estar no limite da tecnologia, a realidade aumentada simplesmente não tem uma plataforma acessível para os usuários até a chegada dele [ARKit]”, disse ele. “Eu simplesmente não espero que ninguém compre um hardware especial ou passe por um processo de configuração difícil só para que eles possam ter acesso a um novo tipo de software”. Julgando pela oferta insignificante dos aplicativos na loja do Tango, o Vollmer não é o único desenvolvedor pensando desse jeito.

O Zenfone AR é um celular bom, mas o Tango não adiciona nada tão significativo para torná-lo mais especial

E, desse jeito, o Zenfone AR será difícil de vender. Eu não consigo, em sã consciência, recomendar esse celular com esse preço de US$ 600 para qualquer pessoa, e isso não é culpa da Asus. Os problemas estão com o Google. O Tango é um exemplo clássico de uma boa ideia e uma má execução; o Zenfone AR é apenas dano colateral. O Google não está tentando o suficiente para assegurar que as fabricantes projetem dispositivos com o Tango em mente, e não há conteúdo que estimule pessoas normais a pedir por isso. Aquele paradoxo que falamos no início está bem vivo.

E se você pensar mais um pouquinho, o futuro se parece ainda pior para a plataforma de realidade aumentada do Google. Eu aposto que o Pixel 2 que será lançado em breve não incluirá hardware para o Tango. Enquanto isso, a Apple está à beira de basicamente apertar um interruptor para levar a realidade aumentada para milhões de pessoas quando lançar o ARKit por meio do iOS 11 em algum momento deste ano. E quanto o ARKit, ele não é tão preciso ou potencialmente tão poderoso quanto o Tango, mas isso não vai importante. Muitas vezes, uma boa ideia não é o suficiente, sua implementação é.

Resumo

• Preço inicial de US$ 599 não é tão alto assim, mas seu processador já está um ano atrasado
• O celular esquenta bastante e devora a bateria quando está realizando tarefas de realidade aumentada
• É o primeiro celular a suportar tanto o Daydream VR quanto o Project Tango AR
• Os aplicativos do Tango ainda não são interessantes o suficiente para você se importar com eles

Especificações

• Android 7.0
• Tela AMOLED de 5,7 polegadas com resolução de 2560 x 1440 pixels
• Processador Qualcomm Snapdragon 821
• 6 GB ou 8 GB of RAM
• 64 GB ou 128 GB de armazenamento
• Bateria de 3.300 mAh
• Câmera principal de 23-MP
• Câmera frontal de 8-MP
• Botão de Início com leitor de impressão digital
• Botões capacitivos para Voltar e Aplicativos Recentes

Todas as imagens: Sam Rutherford/Gizmodo

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