[Review] iPhone 5, da Apple, e o dilema do iOS 6

E o iPhone 5 chegou ao Brasil. Depois de dois meses usando o aparelho, está na hora de contar todos os segredos, momentos brilhantes e falhas do aparelho da Apple. Entenda por que ele pode ser o melhor smartphone da sua vida e o quanto isso pode custar para você. E descubra também por que […]

E o iPhone 5 chegou ao Brasil. Depois de dois meses usando o aparelho, está na hora de contar todos os segredos, momentos brilhantes e falhas do aparelho da Apple. Entenda por que ele pode ser o melhor smartphone da sua vida e o quanto isso pode custar para você. E descubra também por que ele é um sinal de fumaça perigoso para a Apple.

Desenhado pela Apple, montado por elfos

Já comentei um bocado sobre o design do iPhone na matéria sobre primeiras impressões do aparelho – afinal, o primeiro contato com um aparelho tem muito mais a ver com sua pegada, sua construção e peso do que qualquer outra coisa. Mas, após algumas semanas de uso, é possível traçar mais alguns importantes comentários sobre o que a Apple conseguiu fazer no iPhone 5.

Basicamente, ele é o aparelho mais atraente e bem construído do mercado. É, simples assim. Claro, há razões para isso, e é possível listá-las sem muitas dificuldades. Primeiro, não é só a leveza — 112g! — que impressiona no iPhone 5. A combinação entre peso, materiais externos e tecnologia embarcada na parte interna do aparelho é algo incomum — e falamos do impacto visual que ele causa também em nossas primeiras impressões. Ela se mantém com o passar do tempo, e outros aparelhos parecem mais feios, muito menos trabalhados. É preciso ter isso bem claro em mente: o iPhone 5 é, antes de tudo, um minucioso e incrível trabalho de engenharia.

Tudo é diminuto. Inclusive o novo conector. E aqui, vale uma ressalva sobre o conector de 9 pinos: apesar de claramente ser muito mais próximo ao design ideal que a Apple pensa (olhe bem para o cabo de 30 pinos, ele é um trambolho), o primeiro ano de adaptação será complicado em vários sentidos. Primeiro, encontrar um cabo branco para recarregar um gadget da Apple era fácil: muita gente tem um iPod, um iPhone ou um iPad. Você poderia confiar que, ao viajar, alguma boa alma levaria o cabo caso você o esquecesse. Agora será preciso tomar bastante cuidado e não perdê-lo ou esquecê-lo: você pode ser o único com ele por um bom tempo.

Parece claro que a Apple fez bem ao mudar o conector – ele é mais elegante, se conecta dos dois lados e sem dúvida diminuirá os comuns problemas de botão na Home, causados em grande parte pelo conector antigo – mas, sinceramente, a mudança poderia ter ocorrido antes. Antes de a Apple vender milhões de iPhones e iPads a cada trimestre. Antes de tantos fabricantes investirem em periféricos. Antes do cabo branquinho ficar tão popular assim. Não deu, acontece, ok, mas prepare-se para uma adaptação. Mesmo assim, Jason Perlow, da CNET, tem vários bons argumentos em prol do novo cabo.

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Se alguém me contasse que o processo de fabricação do iPhone 5 envolve gnomos, elfos, poções mágicas e materiais só vistos em livros de fantasia e sci-fi, a possibilidade não seria eliminada tão rapidamente da minha cabeça. Isso pode parecer um exagero, mas é uma das formas mais próximas de descrever o que o aparelho é em termos de engenharia: uma obra-prima. (Mas, sim, quando me lembram que ele é feito por chineses que trabalham dezenas de horas ininterruptas e em condições questionáveis, eu me questiono se é possível construir um aparelho assim com o sistema de produção atual da Apple. Mas essa é outra, e uma longa, discussão.)

Um grande amigo o apelidou, por causa de sua nova traseira de alumínio fosco (na versão preta), de “smartphone do Batman”. A analogia faz sentido, principalmente porque, apesar de uma obra-prima, o iPhone 5 ganha marcas de guerra com facilidade. Se nas primeiras impressões comentei sobre os pequenos descascados que o aparelho ganhou em poucos dias, hoje algumas marcas viraram pequenas lascadas, e a proteção lateral já é quase dividida entre linhas brancas e pretas.

A construção do iPhone 5, agora com alumínio, passa muito mais confiança do que o iPhone 4/4S no quesito “puta merda, ele escapou do meu bolso e deu de cara no chão”. Derrubei-o algumas vezes e nada aconteceu. Mas ao remover o aço inoxidável da lateral e substituí-lo por alumínio pintado, a Apple facilitou o processo de destruição de uma peça tão bonita. As marcas da guerra entre o iPhone uma chave em seu bolso são gritantes. Não duvido que especialistas em pinturas nas laterais do aparelho não surjam para vender o serviço. É só dar uma olhada na foto abaixo para entender o que acontece:

A relação que tive com as lesões causadas pela minha humanidade no iPhone 5 me fez lembrar do sofrimento do escritor Deyan Sudjic, que em 2009 escreveu o seguinte trecho no livro “A Linguagem das Coisas”, falando sobre seu recém-adquirido MacBook:

A primeiríssima vez que ele saísse da embalagem plástica protegida com espuma, minhas impressões digitais começariam a gravar marcas indeléveis em seus acabamentos mais que vulneráveis. O trackpad começaria a acumular uma película de gordura que, com o passar do tempo, adquiriria o aspecto de um laguinho de patos. A concentração de eletrostática cobriria a tela de cabelo e caspa. Os designers, tão engenhosos e talentosos em tantos aspectos, evidentemente ainda relutavam em reconhecer as imperfeições do corpo humano quando em contato com o mundo digital. Mas para os consumidores mais fiéis há uma forma de proteger um MacBook. Pode-se comprar uma película para embrulhar a máquina como se fosse uma camisinha para o corpo inteiro a fim de isolá-la de todo contato humano.

Os laptops não são, de modo algum, os únicos objetos de consumo a serem traídos pelos donos. Pelo simples uso, podemos destruir quase tudo o que nos persuadimos a adorar. Quando novo, o corpo de plástico coberto de metal do meu telefone celular da Nokia sugeria ser a última palavra em tecnologia. Em poucos meses, sob a pressão constante de meus dedos agitados, virou um horrível pedaço de policarbonato mudo, aparentemente marcado pela mais áspera das doenças de pele, pois o acabamento metálico descascou, revelando um plástico cinza embaixo da superfície polida.

(Você pode ler o primeiro capítulo do livro clicando aqui.)

Saturação sim, desequilíbrio não

A bela construção do iPhone faz com que você demore a perceber, pelo menos com a tela desligada, que você ganhou meia polegada a mais para curtir a vida.

Ao ligá-la, antes mesmo de começar a ver se faz sentido ter 20 ícones em uma página, é possível perceber que há algo de novo. A resolução não aumentou (na verdade, os pixels por polegada caíram insensíveis 3 pontos na corrida do ppi), mas há algo diferente.

Comparando fotos e vídeos, fica fácil perceber que a Apple mexeu bem na saturação das cores da tela do iPhone 5. E eles têm encontrado um bom equilíbrio entre imagem real e imagem estourada: os pretos estão mais pretos, as cores mais vivas estão extremamente chamativas, mas não há o comum desequilíbrio de matiz que você encontra no AMOLED, uma tecnologia que preza muito pela saturação. Aqui, há um interessante e útil equilíbrio para vídeos e fotos, principalmente.

Ainda na construção, a tela do iPhone 5 está mais próxima do vidro do que em seu antecessor. Se possível, pegue um iPhone 5 e um iPhone 4/4S e olhe para ambos lateralmente, como se fosse analisar o ângulo de visão da tela. Ela está mais próxima da superfície final do aparelho. Pode parecer um detalhe simplório, mas junto com a resolução da tela, aumenta ainda mais a sensação de que você está olhando para uma página de revista impressa em ótimo papel.

Vídeos e fotos. A tela de 4 polegadas funciona bem para essas duas ações. Mas, veja bem, há muito mais possibilidades em um smartphone ancorado em um sistema operacional com tantos aplicativos, certo? E aí entra o grande entrave do iPhone 5: é hora de desenferrujar e mexer nas engrenagens básicas do iOS.

iOS 6: um sistema acomodado

Historicamente, o iOS é um sistema bem parecido com o primeiro software lançado pela Apple, em 2007. A mesma tela com a fileira de ícones, o mesmo formato. Esse é sem dúvida o menor dos problemas do iOS 6. Apoiado em tantos apps, a tela do aparelho é só uma janela pra diversos outros mundos. E, aqui, começam alguns dos problemas, as juntas cansadas e os joelhos doloridos do iOS. Não é sobre como ele é exibido, e sim como ele funciona.

Para entender os problemas, é possível destacar um app como exemplo: o Sparrow é hoje, para mim, o melhor cliente de email do iOS. Rápido, extremamente bem pensado, criado para o uso de movimentos com os dedos, e não “cliques”, ele é hoje o que o Mail deveria ser. Seria ótimo usar o Sparrow sempre. Mas eu não posso.

Se vejo um link interessante pelo Twitter, usando o Tweetbot como app, eu tenho a opção de enviá-lo por email. Onde eu vou parar? No empoeirado e esquecido Mail, que junto com outros apps da Apple, compõem a pasta mais mofada do meu iPhone. Por lá, tudo parece mais difícil e menos bem pensado. Eu não quero mais abri-lo. Mas eu não posso colocar o Sparrow como meu cliente de email principal. Caramba, eu não posso nem apagar o Mail do meu iPhone. Ele é como um Bob Marley de durepóxi que você herda de uma tia hippie, mas não pode dar fim para não ofender a família. Só escondê-lo numa gaveta é pouco para mim.

O Sparrow é outro exemplo de como os apps devem ser feitos a partir de agora, mas há poucos bons exemplos. E nem a Apple sabe dá-los. Entenda: o ganho de meia polegada na tela pode ser bom para vídeos, alguns jogos e fotos, mas ele dificultou o uso do iPhone com um só dedão. Se antes eu acessava as notificações sem a menor dificuldade, hoje ela requer um esforço que não condiz com a praticidade dos antecessores.

Não é tão difícil assim eliminar este problema: basta diminuir a importância do topo da tela. Coloque mais ações por gestos. Dois dedos para um lado, um dedo para o outro, imagine que um app é hoje o que os direcionais do Super Nintendo eram para o Street Fighter II. Bons apps fazem isso. Sparrow, Snapseed (ambos, agora, do Google, ironicamente), Tumblr. A questão é que a Apple não se importou tanto com isso nem mesmo com seus apps, que deveriam ser os benchmarks para desenvolvedores. A App Store ainda oferece um ícone lá no topo. O Lembretes não funciona sem toques no zênite da tela. O mesmo acontece em apps como Podcasts, Contatos, e outros. O Game Center não é só brega: ele é chato de se usar.

Os exemplos de mudança das áreas quentes (que poderiam muito bem ir para a parte inferior de grande parte dos apps) e da incapacidade de mudar apps padrões (e ainda a limitação de compartilhamento) são problemas do iOS 6 que provam que a questão não é meramente estética. Esqueça o discurso de que Scott Forstall saiu da Apple por usar muito esqueumorfismo e couro falso em apps. Pense mais além: o próximo iOS precisa ousar mais. Dois dedos para cima e uma nova central de notificações poderia surgir com as principais e mais importantes configurações – Wi-Fi, GPS, Bluetooth, 3G/4G.

Antes de resolver problemas estéticos e envelhecidos, como ícones que não podem interagir (algo mais próximo de um widget), a Apple precisa focar em melhorias de experiência. Detalhes de design incomodam só após anos de uso (e com uma dose de “não tenho mais do que reclamar”). Já a ausência de facilitadores é mais gritante. A Apple tem como carma o termo “it just works”, mas ele não funciona tão bem assim em tantos pontos do iOS. Basta compartilhar um arquivo no Android 4.2 e no iOS 6 para ver como a praticidade e a facilidade de uso do sistema da Apple estão deixando de dar funções vitais para os usuários. É triste pensar que uma das novidades aclamadas no iOS 6 é a adição de Twitter e Facebook na hora de compartilhar uma foto ou na central de notificações. Isso é muito pouco. Deixem os apps conversarem. Eles sem dúvida se entenderão com facilidade.

Há ainda o problema dos Mapas… Ah, o Mapas. Como você apanhou, hein? Merecidamente, nos primeiros tempos, menos com o passar do tempo. Isso porque os absurdos iniciais aconteceram nas fotos de satélite da Apple, e a maioria das pessoas usa mesmo a versão vetorial. E ela é bem rápida e bonita. Mas o problema da Apple foi remover um app tão parrudo como o Google Maps para usar o Mapas novo. Aqui em São Paulo, não consigo mais confiar nos pontos de interesse do Mapas: há diversos restaurantes em lugares errados, estabelecimentos que não existem mais, e parques que não existem (onde está o parque Villa-Lobos?). A falta de dados sobre trânsito também é triste, e inteligência do Mapas também é questionável: se com a busca por “Alfonso Bovero, São Paulo, SP” eu sou jogado para a rua Alfonso Bovero na Praia Grande, há algo de errado. E se ele só entende se eu escrever “Avenida Professor Alfonso Bovero”, ele não está facilitando minha vida — e está mostrando que tem um cérebro bem limitado.

É preciso acompanhar como será o processo de atualização da Apple para ter uma ideia de quando ele será um app confiável de verdade mas, por enquanto, voltei a procurar os endereços no navegador antes de sair de casa. Em termos de mercado, parece bem claro que a Apple precisava criar seu próprio sistema de mapas para não depender de um concorrente tão direto ou ficar defasado contra Android e Windows Phone. Mas lançar um aplicativo tão… tão “não-Apple” foi um enorme tiro no pé. A prova disso foi a comemoração eufórica com o lançamento do Google Maps ontem — dizem que os fogos eram relacionados ao jogo do São Paulo, mas tenho minhas dúvidas.

Síndrome de Estocolmo

Mas, independente dos problemas que crescem cada vez mais (para uma fatia do público exigente, é preciso salientar), é difícil negar que, hoje, o iOS é o ecossistema mais completo do mercado. Na realidade, já que o mundo adotou a analogia com a biologia, é mais fácil chamar o conglomerado criado pela Apple de biosfera. Há pelo menos três ecossistemas bem definidos debaixo do guarda-chuva da Apple.

O primeiro, mais direto e mais utilizado é a App Store. Apple e concorrentes adoram de falar de números enormes, centenas de milhares, em breve milhões de apps, mas nós sabemos que o que importa mesmo é a qualidade. E, neste sentido, a App Store ainda está à frente dos concorrentes.

Brian Lam, ex-editor do Gizmodo americano e hoje editor do Wirecutter, resumiu bem o que é a loja da Apple hoje: pense em um hobby que você tem (cervejas artesanais, vinhos, algum esporte). Procure por ele na App Store. Bingo. Há diversos pequenos mundos dentro da App Store, seja você um médico, um artista plástico, um arquiteto, um jornalista. Apps úteis, que podem mudar sua forma de relacionar com seu trabalho ou com seus passatempos favoritos. A Apple deveria focar mais e mais em mostrar esses micromundos do que se importar com números.

E há ainda o fator jogos. Se você curte os tais games casuais, que estão cada vez mais sensacionais, o iOS ainda é a melhor escolha. Nomes de grandes players, como Gameloft e EA, já costumam sair no iOS e no Android ao mesmo tempo, mas pequenas startups e desenvolvedores sensacionais ainda investem muito mais tempo e dinheiro no iOS. Veja, por exemplo, o fenômeno Letterpress, o divertido punchquest ou o sensacional (e brasileiro!) Knights of Pen and Paper. Os jogos mais inovadores, ousados e comentados invariavelmente chegam para iOS primeiro. Hora ou outra eles aparecem no Android, mas não há certeza, nem prazo para tal. Joguinhos, dos mais básicos aos extremamente complexos, estão lá.

O segundo ecossistema não tem a ver com software. É o universo de hardware de terceiros e da própria Apple que foi criado. Não estamos falando só de capinhas coloridas. Há aqui uma imensidão de possibilidades.

Pegue, por exemplo, os novos tênis da Nike da linha Nike+. Os tênis vêm “chipados” com um sensor embaixo da palmilha. Basta abrir um app no iPhone, pisar no chão e ver o desenho dos pontos de pressão do seu pé na tela. É como um Wii Fit portátil. É sensacional. Há uma bateria de exercícios a se fazer, e o app vai dizendo se você está fazendo do jeito certo ou não, baseado na conexão entre o hardware de um tênis e um smartphone. Novamente, isso é sensacional.

Outro casamento incrível de hardware e software é a troca de alianças entre Apple TV, iPhone e conteúdo da iTunes Store. Eu compro conteúdo. Assino Netflix, pago por algumas séries, alugo filmes na loja da Apple. Pela Apple TV, eu acesso o que preciso sem dificuldade (mas usando uma conta brasileira e uma americana), uso o iPhone como controle remoto e assisto o que quiser. Mas além disso, o AirPlay é hoje o modo mais fácil de mostrar fotos para parentes ou passar um vídeo bem idiota para seus amigos: basta dar play no iPhone, escolher “Apple TV” e, sem nenhum cabo, o aparelho faz a ponte da telinha para a telona. É a praticidade máxima, sem enrolações, sem “deixa só ver se eu conectei esse cabo direito”, sem ajoelhar atrás da TV pra saber o que está acontecendo. Fricção zero.

E há ainda um terceiro ecossistema extremamente útil: a mistura de iOS e OS X. Já está muito claro o intuito da Apple em aproximar cada vez mais os dois sistemas – quem sabe, um dia, transformando-os em um só (iOS X?). Mas sem pensar no futuro, já é possível ver hoje utilidades incríveis entre os dois sistemas. Para mim, por exemplo, três apps que uso no OS X e no iOS facilitaram muito minha vida: DayOne, um app-diário belíssimo para anotações esporádicas, com um ótimo calendário e funções multimídia; iA Writer, um impecável e limpíssimo editor de textos ideal para quem escreve muito; Clear, o app de to-do lists mais bonito e prático do iOS e que chegou recentemente à Mac App Store. Tudo o que faço em uma das pontas é modificado na outra. Sincronização perfeita, uso simples na rua e no trabalho… melhoria de vida.

Juntando todas as possibilidades, as opções bem específicas e o fator “facilitador de vida”, a biosfera da Apple ainda é imbatível. Mas tudo isso tem um preço, e ele pode ser visto por ângulos não muito interessantes, principalmente na parte econômica da discussão.

O iPhone 5 já custa caro. R$2.399 pelo modelo desbloqueado de 16GB, isso já nas operadoras. Para tornar sua experiência ainda mais incrível, você provavelmente gastará um bocado em apps. Se você já entrou nessas de comprar música e conteúdo, essas compras só poderão ser usadas em aparelhos da Apple. A Apple TV é sensacional para conectar tudo, mas custa R$399 aqui (US$99 lá fora). Aquele par de tênis da Nike? U$239. Os apps citados para OS X não são exatamente baratos – e você precisa comprar a versão desktop e para iOS para a funcionalidade ser ideal.

Ou seja, é possível criar uma experiência realmente sensacional com todos os ecossistemas da Apple. Dentro da biosfera, tudo que é possível de se fazer, é feito de forma bem feita. Mas isso pode sair bem, bem caro. Se isso mudará sua vida, pode gastar sem sofrimento. Mas se você se sentir muito preso e dependente do universo Apple e/ou achar que as limitações do sistemas são um problema (eu prefiro enxergar como foco – faça o que é possível fazer, e faça bem), aí podemos ter um problema. Tudo depende do tamanho de sua síndrome de Estocolmo.

Cérebro e músculos

No ano passado, quando fiz o review do Xoom, o primeiro tablet com Android 3.0, já era mais do que claro a importância do software para o sucesso de qualquer aparelho. A corrida por hardware em tablets com Androids é um ótimo exemplo para isso. Vender experiências é o principal. E a Apple foi a primeira empresa a fazer isso com tanta clareza no mundo móvel, tanto no iPhone quanto no iPad.

Mas a Apple não pode se acomodar com este posto. O iPhone 5 é o exemplo mais claro de um desequilíbrio na empresa: um aparelho construído de forma fenomenal, mas com um sistema que precisa voltar a ditar tendências, apostar em formas diferentes, ousar. Foi assim que a Apple chegou lá. Se alguém me perguntar se vale a pena comprar um iPhone 5 hoje, eu não titubearia em responder que sim. Mas, acompanhando a evolução dos concorrentes, principalmente nos últimos passos no Android, fica claro que a Apple precisa parear as vitórias de hardware com novos saltos de software.

Isso não impede que o iPhone 5 seja um dos smartphones mais empolgantes do mercado — e não há exagero nenhum em dizer que ele tem tudo para ser o mais. E você não precisa amá-lo nem odiá-lo para entender isso.


Notas de teste e links de referência

☞ Se no dia do lançamento tivemos a sensação de não havia nada de novo na câmera do iPhone 5, nós erramos. A principais mudanças acontecem em ambientes noturnos, onde o salto de qualidade foi sensível. Sim, encontramos a tal mancha roxa em várias situações, mas basta mover o aparelho em um milímetro que seja, e ela some. Não acredito que isso atrapalhe muito a experiência – em dois meses, creio que o roxo “estragou” duas fotos realmente boas. No fim, é mais curioso quando aparece e você diz “olha ele aí!”. Além de qualidade, a câmera ganhou em velocidade de clique, e a panorâmica é bem sensacional. Finalmente, a câmera frontal melhorou muito — ela não cria mais um grande borrão de pixels gigantes. Se você quiser se aprofundar nos detalhes da câmera do novo iPhone, recomendamos que você leia o review do DPReview e do Take Better Photos. Pelas conclusões, o iPhone ainda continuará sendo o smartphone favorito dos fotógrafos profissionais. Abaixo, algumas das fotos que tirei que mostram alguns detalhes importantes da capacidade da câmera (sugiro abrir algumas delas em resolução completa).

☞ A bateria do novo iPhone também é uma novidade muito bem-vinda. Com o 3G ligado e a tela em brilho médio e uso moderado, é possível aguentar até dois dias com o aparelho. Certa vez, sem carregador e com 18% de bateria, bastou desligar a conexão celular para que o aparelho aguentasse mais de 12 horas até encontrar uma tomada e energia. A conclusão do AnandTech é que, como você consegue fazer tudo mais rápido no novo iPhone, a bateria dura mais porque ele fica com a tela dormindo mais tempo. Faz sentido.

☞ O novo processador A6 é sensacional. Ele é extremamente veloz e faz com que apps gigantescos e minúsculos tenham o mesmo peso na hora de abrir, fechar ou passear entre eles. Com o A6 e o A6X, a Apple mostrou que, sim, é possível pensar em um futuro com Macs sem processadores da Intel. Para quem já usava o 4S, a mudança pode parecer sutil, mas mostra o poder dos processadores desenvolvidos pela Apple. Quem ficou impressionado com os números, marcas e benchmarks do chip foi Anand Shimpi, criador do AnandTech e um dos maiores entendidos sobre o assunto.

☞ O iPhone 5 brasileiro não terá 4G via LTE, como a versão americana, mas pense no cenário atual da instalação da quarta geração de conexão móvel no Brasil: um punhado de cidades deve ter a conexão até a Copa das Confederações, e mais uma dezena delas até a Copa. A promessa da Anatel é que até maio de 2014 todas as capitais e cidades com mais de 500 mil habitantes tenham a conexão. Até lá, pelo menos mais um iPhone e uma infinidade de Androids e Windows Phones animais serão lançados. Você estará pensando em outro aparelho já, dado o frenesi do mercado de smartphones. Hoje, a presença ou não de 4G em um aparelho não deve ganhar mais atenção do que este parágrafo.

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