O motivo fascinante para se procurar vida em sistemas multiplanetários

Sistemas multiplanetários têm mais chance de abrigar vida do que outros, segundo teoria de cientistas.

Viver na Terra, sem nenhum outro mundo habitável por perto, pode ser algo bem solitário. Mas nosso isolamento pode ser uma exceção cósmica. É possível que, pela galáxia, mundos com vida apareçam sempre aos pares.

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Soa como loucura – não encontramos sequer um único planeta habitável e estamos falando em dois? – mas um artigo científico intrigante do astrofísico Jason Steffen da Universidade de Nevada, nos EUA, e Gongjie Li, do Centro de Astrofísica de Harvard, sugere que sistemas com dois planetas na zona habitável podem ser o melhor dos lugares para caçar por vida.

O motivo? Micro-organismos podem viajar entre os dois mundos, aumentando suas chances de sobreviver a um evento que esterilize o planeta.

Caçando planetas

Ao longo dos últimos cinco anos, a missão de caçadores de planetas Kepler da NASA descobriu milhares de mundos, muitos deles rochosos e com o tamanho da Terra. Extrapolando o pequeno censo galáctico do Kepler, astrônomos agora acreditam que podem existir centenas de bilhões de planetas na Via Láctea, cerca de um para cada estrela.

Até um bilhão desses planetas pode ter o tamanho da Terra e estar localizado em zonas habitáveis de sua estrela. Como explicou a pesquisadora de exoplanetas Lisa Kaltenegger quando discutiu a possibilidade de vida fora da Terra, “os números estão, felizmente, muito a nosso favor”.

Claro, encontrar um planeta parecido com a Terra não é a mesma coisa que encontrar um planeta com vida. Para isso, precisamos conseguir olhar melhor para esses planetas distantes, e isso é algo que a próxima geração de telescópios espaciais vai conseguir fazer. Mas para quais planetas devemos olhar primeiro?

Talvez o melhor seja apontar os telescópios em direção a planetas que estejam juntos. O programa Kepler já descobriu alguns sistemas com pares de planetas com órbitas que são diferentes em menos de 10% – muito mais próximos do que a distância entre a Terra e Marte. Como Steffen e Li demonstraram usando modelos numéricos, se tal pareamento celestial ocorrer no lugar certo, os dois mundos podem se ajudar na tarefa de sustentar vida.

Vida entre planetas

O motivo tem a ver com a litopanspermia, um processo (teórico) no qual vidas microbiais viajam através de planetas via cometas, asteroides, e partículas ejetadas. Alguns cientistas acreditam que a vida pode ter chegado à Terra por esse processo, ou que pedaços que tenham saído do nosso planeta podem ter levado germes terrestres para outros sistemas solares há muito tempo.

Mas, enquanto a vida precisaria ser incrivelmente resistente para sobreviver a uma viagem da Terra para a lua Europa – uma jornada que pode levar alguns milhões de anos – dois planetas que estão bem perto um do outro podem trocar organismos facilmente e frequentemente. A energia de impacto necessária para lançar rochas de um planeta para outro é relativamente baixa, e a duração da jornada fria e cheia de radiação através do espaço é curta.

Além disso, por causa da forma como detritos de impacto viajam, Steffen e Li mostraram que materiais ejetados de um planeta podem atingir um mundo vizinho em diversos lugares diferentes de uma vez.

Isso significa que, se um asteroide destruidor de vida atingir um planeta em um sistema multi-habitável, pedaços da rocha podem viajar sem rumo no espaço, e depois aparecer em um mundo próximo com bactérias alienígenas. Como explica Steffen, esse tipo de fertilização cruzada significa que “o ônus de sobreviver a eventos catastróficos é compartilhado entre vários planetas em um mesmo sistema”.

“Sistemas multi-habitáveis podem ter uma árvore da vida microbial com raízes e ramos simultaneamente em dois planetas diferentes,” explicou Steffen. “Sistemas como esses que investigamos, e sistemas de luas orbitando uma zona habitável de um planeta gigante, estão entre os cenários possíveis para vida – vida inteligente em particular – poder existir em dois lugares ao mesmo tempo e no mesmo sistema.”

É uma ideia bem intrigante, mas completamente especulativa nesse momento. “O Kepler não tem muitos planetas de zonas habitáveis candidatos (a zona habitável era próxima a extremidade da sua sensibilidade), e apenas uma pequena fração deles teria as configurações órbitas em particular que estamos discutindo,” disse Steffen ao Gizmodo por email. Ele continuou: “mesmo se apenas 0,1% dos sistemas tiverem múltiplos planetas em zonas habitáveis, ainda teríamos centenas de milhões de sistemas em potencial”.

Agora Steffen e seus colegas se preparam para estudar os dados coletados pelo satélite TESS da NASA, que vai analisar sistemas estelares próximos por planetas como a Terra. Em breve, podemos ter uma boa ideia do quão comuns esses sistemas multiplanetários são no nosso quintal cósmico. [arXiv]

Imagem de topo: conceito artístico de sistema multiplanetário, via Wikimedia

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