O streaming pode ser o futuro dos consoles, mas neste momento seria um tiro no pé

Notícias sobre a próxima geração de consoles começaram a surgir durante as últimas semanas. Nenhuma delas nos deu uma visão clara sobre os consoles da Sony ou Microsoft – em vez disso, tivemos pequenas amostras de cada um. E cada amostra possui focos totalmente diferentes. De um lado, temos rumores sobre o hardware que a […]

Notícias sobre a próxima geração de consoles começaram a surgir durante as últimas semanas. Nenhuma delas nos deu uma visão clara sobre os consoles da Sony ou Microsoft – em vez disso, tivemos pequenas amostras de cada um. E cada amostra possui focos totalmente diferentes. De um lado, temos rumores sobre o hardware que a Sony vai usar. Do outro, rumores sobre as táticas de distribuição da Microsoft.

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Dito isso, elas nos dão uma imagem de um futuro que é um passo natural em relação a geração atual, sem grandes avanços na tecnologia, especialmente se você já tiver visto um jogo rodando num computador de última geração. Na verdade, a imagem mais interessante tem a ver com a maneira que iremos jogar muitos desses games.

Especificamente, parece que os jogos via streaming rodando a partir de um servidor central pode ser o grande componente da próxima geração – e se esse for o caso, estamos ferrados.

Primeiro, vamos analisar os rumores, só para assegurar que vamos todos falar a mesma língua. No lado do Xbox, Brian Crecente relatou à Variety que a Microsoft, e a desenvolvedora e distribuidora de jogos Ubisoft, pareciam enxergar o futuro dos jogos no streaming.

O CEO da Ubisoft, Yves Guillemot, foi bem direto, dizendo à Variety que “Com o tempo, acho que o streaming se tornará mais acessível para mais jogadores e assim não será mais necessário ter um hardware incrível em casa”. Ele seguiu dizendo que “teremos mais uma geração de consoles e depois disso, estaremos todos fazendo streaming”.

Phil Spencer, presidente executivo de jogos da Microsoft, foi muito mais tímido – e não falou que os dias de console estão contados. Em vez disso, ele foi numa linha de pensamento da companhia que diz que os jogos devem ser mais “agnósticos” em relação ao hardware. “Eu não ligo que as pessoas joguem Minecraft em um Xbox One, mas ligo para a possibilidade de que as pessoas possam jogar Minecraft em qualquer console ou dispositivo que tenham em sua frente”, disse à Variety.

Jogar, segundo ele, é “menos sobre ter um dispositivo específico para jogar um determinado game, e mais sobre ter seus jogos favoritos acessíveis em qualquer dispositivo”.

Certamente existem diversas maneiras com que a Microsoft pode tornar os jogos menos dependentes do hardware, mas o caminho mais óbvio é pela transmissão de jogos a partir de um servidor central – algo que Spencer admitiu que a Microsoft está de olho. Durante a conferência da companhia na E3, ele disse que a empresa estava desenvolvendo um serviço de streaming para entregar “a qualidade de jogos de console em qualquer dispositivo”.

Isso não significa necessariamente que essa será a única rota pela qual a Microsoft vai entregar jogos para os seus consumidores, mas definitivamente indica que a companhia enxerga o streaming como parte do seu futuro.

Não é claro como a Sony enxerga o streaming, no entanto. Mas ao contrário da Microsoft, a empresa já tem uma infraestrutura poderosa para este fim. O serviço PS Now transmite jogos diretamente para os consoles dos jogadores e o PS Vue permite transmitir para as TVs.

Então, o PS5 poderia levar as coisas adiante e ser um dispositivo focado em streaming? Isso não está nada claro. O rumor mais forte que ouvimos sobre o PS5 é que ele terá hardware da AMD. Isso por si só não é uma surpresa. O PS4 e o Xbox One são ambos baseados em CPUs e GPUs da AMD.

De acordo com a Forbes, o hardware que a AMD desenvolveu especificamente para o PS5 quase desestabilizou o ciclo de desenvolvimento da companhia para GPUs de computadores. A nova arquitetura de GPU focada para o PS5, conhecida como Navi, será baseada no processo de fabricação de 7nm. A Forbes indicia que ela irá trabalhar em conjunto com uma CPU baseada na atual microarquitetura Zen.

Não se sabe ainda se esses dois componentes serão um SoC semi-personalizado ou se serão estruturados como um PC tradicional. Essa última opção parece mais provável, simplesmente porque é a forma com que a AMD tem trabalhado com os consoles há anos, e ela manda bem nisso.

O pessoal do PCGamesN noticiou que a GPU seria menos poderosa e não teria a capacidade de escala do Zen. Veja, as CPUs Zen usam uma tecnologia AMD conhecida como Infinity Fabric, que permite que a AMD reúna um grande número de CPUs e que o software executado nesses processadores enxergue o sistema como um processador único e extremamente poderoso.

Muitos assumiram que o projeto Navi faria a mesma coisa com as GPUs. Mas David Wang, vice-presidente de engenharia da Radeon Technologies Group da AMD, disse ao PCGamesN que não é esse o caso. A conversa é cheia de termos técnicos, mas Wang basicamente colocou a culpa nos desenvolvedores dos jogos, que teriam que codificar seus jogos para enxergar a série de GPUs como uma GPU única.

Isso significa que o PS5 lançado em 2020 não seria tão poderoso quanto um PC de ponta montado em 2018. Isso é um problema, porque os jogos da próxima geração já estão, de acordo com Arthur Gies na Variety, engasgando em PCs de alto nível – ou seja, é preciso CPUs e GPUs mais parrudas para rodarem liso.

Os consoles conseguem obter muito mais performance do seu hardware graças ao fato de que não precisam lidar com multitarefa e porque os desenvolvedores conseguem codificar tudo para componentes específicos, em vez de projetar os jogos para funcionar em uma gama ampla de hardware. Porém, ainda é uma tarefa difícil pedir que desenvolvam jogos para um dispositivo que não é tão poderoso quanto um PC atual.

Mas se o streaming for parte do próximo console da Sony, o hardware não será tão importante. O dispositivo poderia rodar alguns jogos diretamente, enquanto que os mais pesados seriam transmitidos.

E aqui é onde está o grande problema. Se o streaming for grande parte da próxima geração de consoles, muitos gamers ficarão putos. A Nvidia já transmite jogos pesados em seu console Shield, mas a experiência é… apenas adequada. Isso porque transmitir um jogo – especialmente um com resolução 4K, ou HDR, ou a 60 quadros por segundo o mais – exige muita banda, e muita gente não tem acesso à internet capaz de lidar com isso.

O serviço da Nvidia exige pelo menos 15 Mbps para transmissões em 720p a 60 quadros por segundo, e 25 Mbps para 1080p a 60 quadros por segundo. Se o console conseguisse lidar com resoluções maiores, a banda exigida seria maior também. O que significa que para você ter um jogo tão belo quanto se tem em um PS4 Pro ou Xbox One X, precisaríamos de uma conexão de 30 a 40 Mbps, facilmente.

De acordo com a Akamai, a velocidade média de internet nos Estados Unidos é de 18,7 Mbps, que poderia entregar apenas 720p a 60 quadros por segundo. No Brasil, a média é pior ainda: 6,4 Mbps – nem dá para aproveitar o streaming. Além disso, muitas das casas não possuem velocidades maiores disponíveis – não há infraestrutura das operadoras.

As coisas ficam piores quando você considera o preço de uma boa internet. Se você acha que pagar pela Xbox Live Gold ou pela PS Plus é algo ruim, considere que seria necessário pagar ainda mais grana para ter uma internet boa. Dados de 2016 da Anatel mostram que o preço médio por cada Mbps é R$ 5,98. Um plano de 40 Mbps da TIM custa R$ 105 mensais, em São Paulo; já a Vivo cobra R$ 100 por 50 Mbps – dentro do Combo.

Se as velocidades e os preços melhorarem, o streaming pode se tornar viável. Mas não é provável que isso aconteça no curto prazo. O ponto para a próxima geração de consoles é ter gráficos e experiências melhores. Se dependermos da internet para isso, não vai dar muito certo.

Imagem do topo: Alex Cranz (Gizmodo)

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