O garoto que construiu um reator de fusão nuclear de 500 milhões de graus

Como alguém tão jovem pode alcançar tanto, e o que a história de Wilson pode ensinar aos pais e professores sobre como apoiar as crianças?

O trecho a seguir faz parte do livro The Boy Who Played with Fusion, de Tom Clynes. O livro conta a história do prodígio da ciência Taylor Wilson, que aos 14 anos construiu um reator de fusão nuclear de 500 milhões de graus.


Taylor liga outro interruptor, dando energia às bombas de vácuo.

Ele e Brinsmead e Phaneuf observam a escala conforme o ar é sugado para fora da câmara de reação, e a pressão é reduzida ao equivalente a 30.000 metros acima do nível do mar… depois ao equivalente à órbita de uma estação espacial … e então ao equivalente à superfície da Lua.

Em pé, bem atrás de Taylor, Phaneuf espia pelo ombro esquerdo do garoto, Brinsmead à sua direita.

“Parece que desligar aquela válvula realmente fez a diferença”, diz Phaneuf. “Você está obtendo mais vácuo do que já vi antes”.

Taylor gira um controle para aumentar a tensão elétrica. A temperatura passa dos 100°C; a este ponto, qualquer condensação dentro da câmara seria vaporizada e sugada para fora.

Taylor aumenta ainda mais a energia das bombas de vácuo. “E agora”, ele diz, “estamos entrando no espaço interestelar…”

Brinsmead diz, “Quando você estava na garagem da sua avó e teve a ideia de tentar construir esse negócio, você imaginou que chegaria até aqui, fazendo o que está prestes a fazer?”

“Para ser honesto, Bill”, diz Taylor, “Eu imaginei, sim. Eu só não imaginei que levaria todo este tempo”.

Taylor observa os indicadores. “Eu vou abrir caminho e trazer um pouco de deutério”, ele diz, “e dar à rede um pouco de tensão negativa”.

Taylor sabia que alcançar a fusão dependia do equilíbrio perfeito entre vácuo, abastecimento de gás e tensão. Enquanto Phaneuf estava fora, ele e Brinsmead fizeram diversos testes, experimentando diferentes combinações. “Acho que agora ele realmente otimizou os parâmetros”, Brinsmead diz a Phaneuf.

“Dez mil volts”, pede Taylor, observando o medidor. Ele gira o controle da tensão um pouco mais e checa os instrumentos. “Eu vou colocar mais combustível para contrabalançar a bomba.”

“20 mil volts agora, e…” — ele observa o monitor — “temos plasma!”

Surge uma nuvem de plasma azul esbranquiçado, subindo e pairando sobre o ar, como um fantasma, no centro da grade. Taylor olha para Phaneuf, depois para Brinsmead e acena com a cabeça. “Vamos lá”, diz Brinsmead.

Taylor gira o controle, elevando a tensão. “Eu aumentei para 25 mil volts agora”, diz Taylor. “Vou liberar um pouco do gás para elevar a tensão um pouco mais”. Estalos ecoam da fonte de energia.

Vendo por trás, Taylor se parece com uma pequena figura de Oz, suas mãos indo para frente e para trás, checando as escalas, levantando alavancas, controlando indicadores. Ele ajusta a pressão e a tensão mais uma vez, enquanto Brinsmead e Phaneuf mantêm os olhos sobre os monitores. Eles veem os cabos de tungstênio começarem a brilhar, cada vez mais até obter uma coloração bastante alaranjada. “Quando os cabos desaparecerem”, diz Phaneuf, “então saberemos que temos um campo de radiação letal”.

Os dois homens observam o monitor, enquanto Taylor se concentra nos controles e escalas – especialmente no Snoopy, o detector portátil de nêutrons que eles colocaram ao lado da parede bloqueadora feita de chumbo, a alguns metros dali.

“Devemos estar próximos ao território das estrelas”, diz Brinsmead.

Phaneuf aperta os olhos enquanto olha para o monitor. Raios de plasma saem por dentro de frestas da grade, agora invisível, conforme átomos de deutério – acelerados pela alta tensão – começam a colidir entre si. O plasma de cor azul esbranquiçado começa a atirar faíscas roxas.

Brinsmead, que observava o detector de nêutrons, grita de repente: “Temos nêutrons!”

Dentro da câmara de reação, separados do mundo externo por 5 cm de aço inoxidável, átomos de deutério são arrancados dos seus elétrons e aceleram-se em caminho ao denso e superaquecido núcleo plasmático no centro. A cada segundo, dezenas de milhares destes íons colidem violentamente entre si, o suficiente para se fundirem e liberarem pequenas quantidades de massa-energia como nêutrons altamente energizados.

Em outras palavras, reações de fusão nuclear estão ocorrendo ali. Taylor esboça um sorriso no canto do rosto e mantém as mãos sobre os controles. “Vamos ver o que podemos fazer agora”, ele diz, elevando a tensão. “Nossa, olha o Snoopy!”, diz Phaneuf, sorrindo. O detector registra 200 mil nêutrons por segundo, e então 300 mil — “e subindo”.

“Está funcionando!”, grita Brinsmead, observando o Snoopy, enquanto Taylor eleva a tensão para além dos 30 mil volts.

“Você está conseguindo 800 mil nêutrons por segundo”, diz Phaneuf. “Agora 900 mil… um milhão!”

Brinsmead solta um grito enquanto a escala de nêutrons aumenta.

“O Snoopy chegou ao limite máximo!”, ele grita enquanto faz uma dancinha. “Alguém precisa aumentar o intervalo.”

Taylor se prepara para fazer isso, mas Phaneuf gentilmente o segura pela manga da camiseta e o para. “Taylor, não faça isso.” Os elétrons que se chocam na câmara estão se tornam raios-X. Phaneuf os observa com o detector de raio-X, faz uma leitura e decide que vale o risco. Ele abandona o detector de nêutrons e rapidamente eleva o alcance.

“Saia daí, Ron”, diz Brinsmead, rindo enquanto Phaneuf pula para trás da parede de chumbo, buscando proteção.

Taylor olha para o monitor, onde a estrela no centro da máquina brilha com tanta intensidade que a grade que a cercava some por completo.

“Só mais um pouquinho”, diz Taylor segurando a respiração, enquanto eleva a tensão, levando a temperatura do núcleo do reator a quase incompreensíveis 580 milhões de graus — cerca de 40 vezes mais quente que o núcleo do Sol.

No monitor, faíscas roxas voam da nuvem de plasma, iluminando a admiração nos rostos de Phaneuf e Brinsmead, ambos de pé ao redor de Taylor. No brilho da criação do garoto, os homens parecem repentinamente mais novos.

Taylor mantém seus dedos finos sobre os indicadores. Conforme os átomos dentro do fusor colidem entre si e se fundem, esparramando energia — 1,1 milhão de nêutrons por segundo, e então 1,2 milhão — os dois mentores de Taylor dão um passo atrás, balançando a cabeça e expondo sorrisos de orelha a orelha.

“Ai está”, diz Taylor, seus olhos fixados na máquina. “O nascimento de uma estrela”.


Aos 11 anos, Taylor Wilson tinha dominado a ciência de propulsão de foguetes. Aos 13 anos, o diagnóstico de câncer em sua avó o levou a investigar usos médicos para isótopos radioativos. E aos 14, Wilson se tornou a pessoa mais jovem da história a alcançar a fusão nuclear. Como alguém tão jovem pode alcançar tanto, e o que a história de Wilson pode ensinar aos pais e professores sobre como apoiar as crianças com bom desempenho?

Em The Boy Who Played with Fusion, o jornalista científico Tom Clynes acompanha a jornada extraordinária de Taylor Wilson: de sua casa no Arkansas, onde seus pais o incentivaram em suas paixões intelectuais, até o presente – Wilson agora com 17 anos, está ganhando competições científicas internacionais com dispositivos concebidos para impedir os terroristas de transportar material radioativo para os EUA.

Uma versão do livro está em pré-venda na Amazon Brasil por R$ 29,94, e será disponibilizada em 30 de junho. A versão disponível agora mesmo é mais cara, e está disponível na Amazon Brasil, Livraria Cultura e Google Play.

Assista à apresentação de Taylor Wilson no TED, com legendas em português, abaixo:

Foto de capa: Foro Nuclear/Flickr

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