“Parece coisa de criança.” Essa foi a primeira reação que eu ouvi sobre o iOS 7. Eu não vou mentir, quando eu vi pela primeira vez, eu me espantei um pouco também. Como todo bom designer amante da simplicidade, eu estava esperando ansiosamente pela abordagem nova e clean de Jonathan Ive para o iOS. Mas […]
“Parece coisa de criança.” Essa foi a primeira reação que eu ouvi sobre o iOS 7. Eu não vou mentir, quando eu vi pela primeira vez, eu me espantei um pouco também. Como todo bom designer amante da simplicidade, eu estava esperando ansiosamente pela abordagem nova e clean de Jonathan Ive para o iOS.
Mas os ícones que foram revelados pareciam feitos às pressas. Muitos deles pareciam ser o primeiro esboço, mas foram jogados direto na keynote.
Meus amigos desenvolvedores tiveram reações semelhantes, mas não conseguiam indicar com exatidão por que se sentiam assim. Isso porque há inúmeros detalhes minúsculos que entram no design de ícones para apps que as pessoas, em geral, nunca nem consideram. Você pode não reconhecer os detalhes, mas você vai sentir seus efeitos.
Até mesmo fazer o design de um ícone simples e com boa aparência não é tarefa fácil. Multiplique isso por 25, e havia muito trabalho a se fazer nos oito meses desde que Forstall foi demitido, o que fez certas coisas serem negligenciadas…
[Este post foi publicado originalmente no blog do seu autor, Ian Storm Taylor.]
Péssimas escolhas de cores
Para ser honesto, o software da Apple tem esse problema há um bom tempo. Para o design de hardware isso não é um problema, porque seu clássico alumínio cinza assume diferentes matizes e sombras, dependendo do seu ambiente. Mas em software, um cinza fosco será sempre um cinza fosco.
A Calculadora é um grande exemplo de como uma escolha ruim de cor pode arruinar um ícone. Na verdade, para ser completamente honesto, parece que as cores foram tiradas direto da interface Metro do Windows. (E isso não é uma coisa boa!)
No Dribbble, Jackie Anh criou um ícone muito mais esteticamente atraente. Basta um pouco de ajuste na cor laranja, um gradiente sutil, e se livrar do cinza opaco, e o ícone fica visivelmente melhor. E ele ainda se torna mais harmonioso com o tom geral do iOS 7.
No extremo oposto do espectro, você tem apps como o Telefone, FaceTime e Mensagens, que usam cores extremamente saturadas e de baixo contraste. São cores que minha professora de arte no colégio diria que “saíram direto do tubo”: ou seja, foram tiradas diretamente do tubo de tinta sem pensar.
O ícone Contatos também está pedindo por ajuda criativa. Primeiro, as cores são bem pouco inspiradas. Há aquele cinza fosco novamente.
Mas o maior problema com este ícone é que ele ainda possui a metáfora da agenda de endereços! Esta nova iteração do iOS deveria nos salvar do esqueumorfismo – quando a interface tenta imitar desnecessariamente objetos da vida real. E pelo que eu vi, o app Contatos fez isso em grande parte… exceto na tela inicial!
Você usou uma agenda de endereços física nos últimos dez anos?
Eu tentei pensar em algumas ideias interessantes para contatos, mas não consegui. E então percebi: eu nem sequer uso o app Contatos. Eu o joguei na minha pasta “Outros” anos atrás.
Quando eu preciso ligar para alguém, eu abro o Telefone. Quando eu quero ver um amigo, eu abro o Facebook. Se eu realmente quisesse manter, na minha tela inicial, uma lista de amigos para os quais eu telefono muito, eu usaria um app como o Brewster. A Apple poderia remover o app Contatos e eu nunca notaria. (Voltarei a isso mais tarde…)
Sobre o tema do esqueumorfismo, algo que Jobs e Forstall amavam, será que um bloco de papel é o melhor que podemos fazer para o Notas? Nós trocamos o ícone antigo e bem-renderizado por um novo que parece um esboço da OmniGraffle, sem qualquer abordagem nova para a metáfora.
Eu não acho necessariamente que o bloco não possa ser feito bem. O Squarespace Note é o meu exemplo favorito de um bom ícone de notas: pouco esqueumórfico, mas ainda incrivelmente simples ao mesmo tempo.
O ícone do app Vídeos ainda mantém seu esqueumorfismo inútil. Eu nunca associaria aquelas listras pretas e brancas a vídeos. Eu percebi isso alguns minutos depois, porque essas faixas são para filmes, não vídeos.
Se quisessem ser contemporâneos, eles incluiriam o ícone “play”, como o Graph Concepts fez no Dribbble. É um ícone ao qual todos estão familiarizados – do YouTube, Vimeo, Vevo, ou qualquer outro vídeo que você tenha visto na internet nos últimos dez anos. Esse é o ícone que vai gritar “vídeos” mais rápido.
Linguagem inconsistente
O novo ícone da Câmera é provavelmente o que menos gosto de todos. Ele é incoerente com o resto da linguagem de design em todo o iOS 7. Em uma estética que reduz tudo até deixar o absolutamente necessário, porque o ícone precisa de linhas extras, um flash amarelo e um botão extra?
Tudo isso é excessivo. E pior ainda, o ícone da Câmera na tela de bloqueio não é o mesmo. Por quê?
Eu gostava muito do ícone original da Câmera. Ele era lindamente geométrico e abstrato. Não era de todo esqueumórfico: era uma representação literal do equipamento do outro lado do telefone. (Especialmente quando você lembra que o iPhone da primeira geração tinha traseira cinza de alumínio.) Era como se você estivesse invocando a câmera, que está do outro lado do celular.
Isso foi substituído por um ícone de câmera feio. É como mostrar um disquete para “Salvar”. Em vez de ver uma representação do hardware real que estaria fazendo sua vontade, agora ficamos com uma câmera antiga.
O Lembretes é outro enorme desapontamento. Para ser honesto, o app sempre foi desapontador. A menos que você use a Siri, é incrivelmente difícil criar um novo lembrete, que é 90% da utilidade do app.
Parece que o Lembretes foi um sacrifício, que a Apple sabia que não poderia refazer seu design de novo. Trata-se, até onde eu sei, da única interface no iOS 7 que ainda apresenta uma pseudotextura de papel, pouco inspirada. Os lembretes são itens rápidos e extraordinários… eles definitivamente não deveriam ser uma impressão tipográfica no meu celular.
O ícone também parece pouco inspirado: é uma vítima do sistema de grade. Neste caso, parece que não houve uma direção clara para seu design, então alguns elementos aleatórios foram alinhados à grade e pronto. Ele não faz jus à qualidade que esperamos da Apple.
Falando de inconsistências, eu honestamente não tenho ideia do que está acontecendo no ícone do Game Center. A Apple abandonou a estética reflexiva em todos os lugares, exceto nessas bolhas de vidro. Se as esferas expressassem perfeitamente a metáfora do “jogo”, eu até poderia perdoá-los, mas eles não são realmente especiais de alguma forma.
Apps que não deveriam existir
Assim como o Contatos, alguns dos outros apps padrão deveriam ser removidos. Pronto, está dito. Parece ser um problema totalmente separado, mas eu realmente acho que ele fica aparente no design dos ícones, porque esses apps são mais negligenciados do que os outros.
O Ações é um desses apps. Como imaginado, ele não atende às necessidades de quem realmente precisa checar as ações, mas nunca foi cortado depois de todos esses anos. Para ser justo, o ícone do Ações nunca foi realmente bom. Ele só costumava se esconder por trás de todo aquele gradiente e brilho, então ninguém notava.
Mas agora que a Apple adotou o “flat design”, é muito mais difícil de escondê-lo. As linhas do novo ícone escuro parecem muito frágeis, assim como as linhas no Lembretes e Notas, e em vez do verde ou vermelho presentes no próprio app, a cor de destaque é um estranho azul claro.
O iTunes é outro app que, em uma experiência perfeita, não existiria. Sabe como é possível notar? Se você remover o círculo do ícone, o que sobra? O ícone de Música, mas com uma cor diferente. Por quê? Porque tudo o que o iTunes faz em música deveria estar no app Música! E tudo relacionado a vídeo deveria estar no Vídeos… Continuando isso, o app iTunes não teria mais conteúdo.
Alguns sucessos
Claro que há também alguns ícones que, para mim, são bem-feitos. Ícones que acertaram o equilíbrio entre aderir à nova estética e expressar a alma do app que eles representam. Eu não odeio tudo!
Um dos melhores ícones do grupo é o Música. Você pode estar pensando: “Que coisa, Ian, isso é outra cor neon!”, e você estaria certo.
Mas o Música acertou na cor. Não “saiu direto do tubo”, foi cuidadosamente escolhida. Essa rosa laranja evoca, com sucesso, a MTV ou VH1 ou VEVO ou Taylor Swift. Ele realmente dá a sensação de “música”.
O Calendário tem outro ótimo ícone. O ícone antigo era, provavelmente, o mais feio de todos no iOS 6. E isso, em grande parte, era devido à má escolha da cor: usar branco puro para destacar, e o preto puro para fazer sombra.
O novo ícone do calendário, por outro lado, é simples, mas faz o seu trabalho perfeitamente nos mostrando a data atual.
Falando nisso, o ícone do relógio agora mostra a hora atual, o que é uma boa novidade! O ícone em si recebeu apenas pequenos ajustes em relação ao iOS 6, mas cada mudança foi uma melhoria cuidadosa: o anel preto desnecessário foi retirado, o brilho foi removido, os ponteiros ficaram mais finos, e os números agora usam a fonte Helvetica para coincidir com o resto do interface. Perfeito.
Há também alguns ícones que você não verá na tela inicial, mas que são muito bem concebidos. Eu só consegui encontrar estes três no conteúdo promocional da Apple.com. Eles são todos muito simples, feitos inteiramente com formas geométricas e linhas limpas. Se a Apple aplicar este tipo de qualidade no resto de seus ícones, entre agora e quando o iOS 7 for lançado, será ótimo.
E algumas oportunidades perdidas
Eu realmente gosto da ideia de ícones que se adaptam para serem úteis ao usuário. O Relógio e Calendário são exemplos óbvios, mas a ideia poderia ser levada muito mais longe.
O Ações é outro ícone que poderia fazer isso. Por que não mostrar a flutuação de toda a minha carteira de ações no gráfico do ícone? Melhor ainda: se ela está valorizando, deixe o ícone verde. Caiu? Vermelho. Dessa forma eu posso avaliar rapidamente o meu desempenho sem a necessidade de abrir o app o tempo todo. Cor com um propósito! E se não tiver um portfólio montado, mostre um índice da bolsa de valores.
A Banca é outra oportunidade perdida. Apesar de ter sido universalmente odiada por se recusar a ficar em pastas no iOS 6, ela ainda era a única que mudava com base no conteúdo reunido pelo usuário. Isso é interessante!
O novo ícone tem um design bacana com capas de revista num estilo antigo, mas não transmite o futuro da notícia como deveria.
Em uma nota similar, outros ícones poderiam se tornar personalizados, como Música, Vídeos ou Fotos, mostrando a última capa do álbum, vídeo ou foto que você viu. Certamente cada um desses tem imagens bonitas o suficiente para usar. Isso faz a minha tela inicial se sentir um pouco mais pessoal. (Calma, pessoas irritadas da internet: estou ciente de que o Windows Phone faz coisas semelhantes, mas isso não significa que a Apple não deveria fazê-las também.)
Ou outra ideia aleatória: e se a Câmera ainda fosse uma lente como costumava ser, e na lente ficasse o reflexo da última foto que você tirou! Útil? Absolutamente não! Mas pelo menos seria bacana.
Eu me assustei no início, porque eu achava que os ícones ruins representavam a Apple estragando toda a nova direção de design para o iOS. Mas agora que eu vi o resto do iOS, não estou tão preocupado.
Sim, os ícones estão abaixo do padrão, mas o resto do iOS 7 parece muito bem-feito, com forte design de interação. Se eu tivesse que escolher entre design de ícones e design de interação, eu obviamente escolher o segundo.
Uma coisa que eu percebi: a função de um ícone é transmitir a alma do próprio app, e muitos dos apps ainda estão passando por grandes reformulações. Redesigns que provavelmente não serão aperfeiçoados até o iOS 8, pelo menos. Assim, não devemos esperar que os seus ícones sejam perfeitos ainda.
O que será realmente interessante é ver como as empresas adaptarem seus ícones e interfaces para o novo visual do iOS. Sinceramente, os apps do Rdio e Brewster já se parecem com o iOS 7: eles são minimalistas e clean.
Afinal, em se tratando de ícones, outras empresas têm muito mais a perder do que a própria Apple. Seu sucesso é diretamente proporcional à quantidade de vezes que seus ícones são tocados – por isso eles passam muito mais tempo tornando-os perfeitos.
[Este post foi publicado originalmente no blog do seu autor, Ian Storm Taylor.]
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