As muitas polêmicas do Uber, serviço que quer acabar com os táxis

O Uber é um serviço de carona remunerada que compete com táxis. Ele deixa polêmicas por onde passa, irritando taxistas e usuários.

O Uber é um serviço de carona remunerada que compete com táxis através de motoristas com carro próprio. Ele está disponível em 45 países e mais de 200 cidades, incluindo São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília.

Lançado em 2010 nos EUA, o Uber foi o precursor dos inúmeros apps de táxi que você conhece – 99Taxis, Easy Taxi, WayTaxi, entre outros. No entanto, ele deixa polêmicas por onde passa, irritando taxistas e usuários.

Depois de ver tantas críticas na mídia, o vice-presidente sênior Emil Michael sugeriu gastar “um milhão de dólares” para abafar essas controvérsias, investigando a vida pessoal e família dos jornalistas para “dar à mídia um gosto do próprio remédio”.

Ben Smith, do BuzzFeed, ouviu Michael dizer isso em um evento fechado do Uber. O executivo estava reagindo a um texto da jornalista Sarah Lacy, que criticou a empresa por fazer uma promoção com acompanhantes para servirem de “motoristas gostosas” na França.

Pode parecer um motivo bobo, mas foi a gota d’água para uma empresa que parece não se preocupar muito com mulheres. Por exemplo:

  • um motorista do UberX em San Francisco (EUA) foi acusado de puxar uma passageira do carro e quebrar o celular dela enquanto ela tentava gravar o que acontecia;
  • um motorista do UberX em Los Angeles teria levado a passageira para um terreno baldio, e só a conduziu para casa depois que ela fez um escândalo – a empresa reembolsou a mulher pela viagem de 30 km;
  • um motorista do Uber em Chicago é acusado de levar a passageira para a direção oposta ao destino, passando a mão nos seios e pernas dela, e só a conduzir para casa depois que a mulher ameaçou ligar para a polícia;
  • depois de comemorar o aniversário em um bar, uma mulher em Washington, DC pegou um Uber, deitou no banco de trás e teria acordado com o motorista tirando a calcinha dela;
  • uma passageira do Uber em Washington, DC diz ter sido estuprada pelo motorista pouco depois de sair do carro.

Isso se une a uma cultura sexista dentro do próprio Uber. No entanto, Michael disse que a jornalista deveria ser “responsabilizada pessoalmente” por cada mulher que, por causa dela, decidisse deletar o Uber de seu celular. Depois que a bomba explodiu, Michael pediu desculpas:

As declarações atribuídas a mim em um jantar privado – baseados na frustração durante um debate informal sobre o que eu sinto ser uma cobertura sensacionalista da mídia sobre a empresa na qual trabalho com orgulho – não refletem minhas opiniões reais e não têm relação com os pontos de vista ou atuação da empresa.

Travis Kalanick, CEO do Uber, se desculpou pelo Twitter. E a empresa está até pedindo perdão para alguns usuários. Para cancelar sua conta no serviço, é preciso informar o motivo pelo qual você está saindo. Se você questiona as práticas da empresa, recebe esta resposta:

Nós não investigamos nem vamos investigar jornalistas. Essas observações não refletem as opiniões da empresa e não têm nenhuma base na realidade. Nosso executivo pediu desculpas por seus comentários.

Uber no iPhone (2)

Mais polêmicas

E essa é apenas uma pequena amostra das polêmicas nas quais o Uber se meteu. Temos, por exemplo:

– falhas no processo de admissão para ser motorista: nos EUA, basta preencher um formulário com seu nome, endereço, carteira de motorista e número de seguridade social. Isso deveria ser o bastante para um verificação de antecedentes, mas não é: em uma reportagem, uma ex-presidiária – que cumpriu pena por roubo, tráfico de drogas e agressão – foi facilmente aprovada para ser motorista.

– falta de privacidade: o Uber foi pego duas vezes bisbilhotando o trajeto de corridas feitas no serviço. Altos executivos teriam uma ferramenta chamada “God View”, que mostra o local de todos os veículos e o nome de cada pessoa que o pediu. (Motoristas não têm acesso a isso.) A empresa atualizou sua política de privacidade, dizendo que só usa esses dados “para fins legítimos de negócios”.

– táticas para aumentar artificialmente o valor da corrida: o preço por km é determinado de antemão e exibido no app antes de você chamar o carro. Mas em épocas de alta demanda – como em feriados – a corrida pode ficar até oito vezes mais cara. O Uber diz que isso serve para equilibrar oferta e demanda mas, em fevereiro, a empresa confessou restringir a quantidade de motoristas em um feriado para poder cobrar mais.

– planos para sabotar a concorrência: há provas de que o Uber tem um programa interno para sabotar o Lyft, seu principal concorrente nos EUA, usando táticas escusas para prejudicar o serviço. Por exemplo, funcionários do Uber pediram, durante um ano, mais de 5.000 corridas no Lyft e depois cancelaram todas antes de o motorista chegar.

– protestos contra o Uber: o Uber controla o valor pago a cada motorista, que vem sendo reduzido após cortes agressivos de preço para fazer frente aos táxis. É por isso que taxistas são contra o serviço, e fizeram protestos em cidades como Berlim, Londres e até na sede do Uber em San Francisco. Em Paris, taxistas quebraram janelas e furaram pneus dos carros do Uber durante uma paralisação.

No Brasil, a prefeitura municipal de São Paulo estuda suspender o Uber na cidade, dizendo que se trata de carona remunerada, algo que a empresa nega: “a Uber é uma plataforma tecnológica que conecta passageiros a motoristas profissionais ao toque de um botão”. Na capital paulista, todo motorista de táxi deve ter autorização da prefeitura.

Sucesso apesar de tudo

Apesar de todas essas controvérsias, o Uber faz muito sucesso. Por exemplo, em San Francisco – onde ele começou – o número de corridas despencou em 64% nos táxis tradicionais ao longo de dois anos.

Como nota o jornalista Kevin Roose, o Uber lembra a trajetória da Amazon: a empresa tem uma lista enorme de controvérsias, envolvendo práticas anticompetitivas, disputas sujas com editoras, mau tratamento de seus funcionários, entre outros. Mas nada disso impediu que a empresa se tornasse grande, porque ela oferece produtos a preço baixo e tem bom atendimento.

O Uber segue nessa mesma linha, e ainda tem grandes parceiros: o Google integrou o serviço ao Maps para Android e iOS; e a Amazon está testando entregas via táxi com a empresa. A lista de investidores é enorme, incluindo Shawn Fanning (ex-Napster), Jeff Bezos (da Amazon) e Google Ventures. O Uber é avaliado entre US$ 17 bilhões e US$ 25 bilhões. Para continuar crescendo, a empresa não deve se afastar tão cedo das polêmicas.

Atualização (20/11): o Uber explica que, “no Brasil, só faz parcerias com motoristas profissionais que sejam donos do próprio veículo ou trabalhem para empresas de serviço de motorista”. Ela acrescenta que “todos os nossos parceiros precisam ter um seguro que inclua os passageiros, além de autorização para usar o veículo para fins comerciais. Além disso, todos os nossos parceiros no Brasil passam por um rigoroso processo de checagem de antecedentes criminais”.

Fotos por Mike/Flickr e Uber

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