Controversa vacina contra o ebola pode ter seu primeiro teste real no Congo

Vacina criada em dezembro chegou a ser tachada como "100% efetiva", foi contestada e agora tem chance importante de se provar

Em dezembro, os noticiários estavam eufóricos: depois de uma mortal epidemia de ebola na África Ocidental dois anos atrás, os cientistas não tinham apenas desenvolvido uma vacina, mas ela parecia ser 100% efetiva. Essa eficácia foi logo confrontada, mas, agora, conforme uma nova epidemia de ebola está aparecendo na República Democrática do Congo, ela pode finalmente receber um teste de verdade.

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Em abril, vários meses depois de a vacina contra o ebola ter sido anunciada com tanto alarde, um grupo de cientistas da Academia Nacional de Medicina dos Estados Unidos desafiou a metodologia do teste com os 4.160 pacientes em Guiné. Em um relatório de 287 páginas, eles por fim concluíram que, embora a vacina “provavelmente providencie alguma proteção aos usuários”, essa proteção “pode ser realmente baixa”.

Agora, uma epidemia de ebola na República Democrática do Congo pode ser o teste final da vacina. Até agora, houve dois casos confirmados e 17 outros suspeitos, com três mortos entre eles, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. Na semana passada, a organização disse que está fazendo preparações para usar a controversa vacina, apesar de ainda não ter tomado uma decisão firme sobre onde testá-la.

O número de casos suspeitos até agora é bem pequeno, especialmente dado que a epidemia não foi identificada fora de uma área remota e isolada. Mas levou três semanas para especialistas identificarem a doença, o que pode significar que ela tenha se espalhado muito mais do que se sabe. E o sistema de saúde do Congo é um dos piores do mundo.

Existem 300 mil doses de emergência da nova vacina à disposição, se a OMS e outros decidirem ser necessário. Ela foi desenvolvida pela companhia farmacêutica Merck e NewLink Genetics. Em dezembro, médicos da OMS, Médicos sem Fronteiras e outros anunciaram ao jornal The Lancet que a vacina tinha 100% de eficácia em prevenir as pessoas de contraírem a mortal febre hemorrágica do ebola, quando entrava em efeito, testada durante a epidemia na África Ocidental. Aquela epidemia foi responsável por mais de 28 mil casos de ebola e por mais de 11 mil mortes.

O estudo seguinte da Academia Nacional de Medicina dos EUA atacou a metodologia do estudo. Pesquisadores conduziram um teste aleatório no meio da epidemia, uma decisão que levantou preocupações éticas sobre dar placebo para pessoas com risco de morte. Mas em vez de randomizar as pessoas, randomizaram grupos de pessoas que tiveram contato com uma pessoa com ebola. Alguns grupos receberam uma vacina imediatamente, e outros, dentro de 21 dias, a maior janela de tempo até alguém mostrar os sinais de ebola.

No primeiro grupo, não relataram nenhum caso. No segundo, havia 16. Mas, pelo fato de os pesquisadores estimarem que levaria dez anos para a vacina fazer efeito, eles descontaram os casos que apareceram dez dias depois da vacina — porém, as pessoas ficaram, sim, doentes antes do período de dez dias. Se incluirmos os casos contraídos dentro da janela de dez dias, 20 entre 3.232 participantes contraíram ebola nos grupos de vacinação imediata, contra 21 entre 3.096 que receberam a vacinação atrasada.

Ler os dados de maneira diferente, em outras palavras, sugere menos eficácia. Sem mencionar que, nos grupos de vacinação imediata, um terço das pessoas que assinaram para receber a vacina foi recusado, jogando outro problema sobre a análise.

Fica claro que a vacina teve alguns efeitos positivos. Mas não é claro o quão eficaz ela realmente é, o que quer dizer que pode não haver essa grande muralha contra uma possível epidemia de ebola.

Agora, existem 12 vacinas contra o ebola em desenvolvimento, e a vacina da Merck é a mais desenvolvida. Em abril, o grupo de conselho em imunização da OMS recomendou que a vacina fosse enviada imediatamente caso outra epidemia de Ebola aparecesse. A vacina parece funcionar apenas contra uma das duas estirpes mais comuns de ebola, mas parece que é essa estirpe presente agora no Congo.

A epidemia no Congo muito provavelmente não vai chegar perto dos níveis da crise na África Ocidental, a pior epidemia de Ebola da história. No Congo, a última epidemia matou 49 pessoas em três meses. Muito do Congo é de difícil acesso, com estradas ruins, densas florestas e vilas isoladas. Isso quer dizer que é difícil do vírus ir tão longe.

Se a vacina for enviada, no entanto, a mesma estratégia de grupos usada no teste em Guiné seria usada lá, oferecendo vacinas para todas as pessoas que podem ter entrado em contato com um paciente recentemente diagnosticado com ebola. Se as coisas aumentarem até esse ponto, pode ser um teste importante.

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