Vestíveis ainda não diagnosticam sintomas de COVID-19, mas resultados mostram potencial

Até o momento, as pesquisas indicam que os vestíveis podem ser capazes de detectar doenças infecciosas bem no início. Mas isso não significa que qualquer dispositivo possa realmente prever quem terá COVID-19.
Oura Ring
Oura Ring, anel que pode ser capaz de detectar sintomas antes de aparecerem. Imagem: RNI

Nenhum dispositivo vestível, seja um smartwatch, uma pulseira fitness ou um anel inteligente, consegue diagnosticar COVID-19 por enquanto. Diversas notícias descrevem como as empresas de dispositivos vestíveis estão se unindo a pesquisadores de medicina para entender se seus dispositivos seriam capaz de detectar os sintomas logo no início.

Até o momento, as pesquisas indicam que os vestíveis podem ser capazes de detectar doenças infecciosas bem no início. Mas isso não significa que qualquer dispositivo possa realmente prever quem terá COVID-19.

Os fabricantes do Oura Ring – um anel de monitoramento do sono e de atividades físicas – anunciaram em abril que iriam se juntar a pesquisadores do Rockefeller Neuroscience Institute (RNI) da Universidade de West Virginia, nos EUA, para realizar um estudo nacional “projetado para acelerar a detecção precoce dos sintomas do vírus da COVID-19”. A companhia também se juntou com a Universidade da Califórnia de San Francisco para ver o quão útil o anel poderia ser na detecção precoce da doença.

O RNI disse que criou uma plataforma digital que consegue detectar sintomas relacionados ao COVID-19 até três dias antes que eles realmente apareçam, com uma taxa de precisão de 90%.

A plataforma é uma combinação de um aplicativo desenvolvido pelo RNI, o Oura Ring e modelos de inteligência artificial. Ele rastreia uma variedade de pontos de dados, incluindo “temperatura corporal, variabilidade da frequência cardíaca, frequência cardíaca em repouso, frequência respiratória, sono e padrões de atividade, e ‘prontidão’ – uma métrica de saúde que combina tendências de sono de longo prazo e atividade com comportamentos de curto prazo”, segundo a RNI.

O instituto exigiu que os participantes do estudo fizessem relatórios sobre estresse, ansiedade, memória e “outras funções de resiliência e recuperação humana.”

O fato de os primeiros estudos indicarem que os vestíveis são capazes de detectar sintomas antes que as pessoas os percebam nos dá algumas esperanças, mas os pesquisadores e jornalistas que declaram que definitivamente que os dispositivos são capazes de “prever” ou “diagnosticar” COVID-19 não deveriam fazer isso.

Os relatórios indicam simplesmente que os donos do Oura Ring podem ter mais chances de descobrir se estão com COVID-19, mesmo quando assintomáticos. Ou seja, usar um dispositivo como o Oura Ring pode simplesmente ajudá-lo a descobrir que algo está errado em relação a sua saúde em geral, o que poderia indicar algo mais série que precisa de cuidado.

No geral, não estamos nem perto de terminar de estudar se os vestíveis são mesmo eficazes na detecção precoce. É preciso repetir: nenhum dispositivo no mercado é capaz de prever ou diagnosticar COVID-19. Nenhum dispositivo foi liberado pela FDA (equivalente à Anvisa nos EUA) para este fim.

Para começar, de acordo com o comunicado de imprensa da RNI, esses resultados preliminares vieram de 600 profissionais de saúde e socorristas. Não é uma amostra muito grande. Além disso, o COVID-19 não existe há muito tempo e não sabemos muitas coisas sobre ele.

Uma taxa de precisão de 90% para 600 pessoas é um bom começo, mas não é, de forma alguma, definitiva. No entanto, o RNI indicou que está trabalhando com parceiros para ampliar o estudo para mais de 10.000 participantes na segunda fase.

É também crucial notar que o RNI diz que pode detectar “sintomas relacionados ao COVID-19”. Isso não significa que pode dizer se alguém está com a doença. Significa que os pesquisadores acreditam poder identificar sintomas que estão associados ao COVID-19 alguns dias antes de eles aparecerem.

Mas esses sintomas também podem estar relacionados a outros tipos de doenças. Ainda não sabemos se os vestíveis conseguem diferenciar entre as infecções respiratórias como a gripe ou pneumonia, que compartilham alguns sintomas com o COVID-19.

Outra nota: o RNI não divulgou publicamente a metodologia do estudo para esses resultados iniciais e o instituto não declarou explicitamente em seus comunicados se pretende submeter o estudo final a uma revisão por pares quando os resultados forem finalizados.

O Gizmodo perguntou ao RNI se eles poderiam fornecer os resultados do estudo, se planejam submeter seus resultados e se há planos de consultar o FDA sobre características de detecção precoce no futuro. Não recebemos uma resposta até o momento desta publicação.

O envio dos resultados para revisão por pares é importante, pois um app que possa detectar infecção seria considerado um software médico por natureza. Qualquer produto de consumo que divulgue habilidades diagnósticas requer o selo de aprovação do FDA antes de ser colocado à venda.

É de vital importância que as empresas de tecnologia acertem quando se trata de alertar as pessoas de que elas têm sintomas consistentes de COVID-19 – e o que elas devem fazer em seguida.

Ao comunicar esses estudos incrivelmente promissores ao público, é importante deixar claras essas distinções.

Estes resultados preliminares mostram potencial – e é interessante que a Oura e muitas outras fabricantes de vestíveis estejam participando desta pesquisa.

A Fitbit está compartilhando seus dados com pesquisadores e conduzindo seu próprio estudo sobre detecção precoce de COVID-19. Tanto a Fitbit como a Oura também participam do estudo da Universidade de Stanford, que está procurando fazer a mesma coisa. Esses são apenas alguns dos estudos em andamento no momento.

Talvez, no futuro, receberemos notificações em nossos pulsos alertando sobre uma possível infecção por COVID-19. Isso ainda não está disponível e é provável que demore um pouco.

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