Como o Windows poderia ser gratuito, assim como o OS X

Há pelo menos dez anos, só duas empresas cobram dos consumidores por seu sistema operacional: Microsoft e Apple. As alternativas baseadas em Linux – incluindo o Chrome OS, do Google – sempre foram gratuitas, assim como o FreeBSD. No entanto, Microsoft e Apple vêm, pouco a pouco, oferecendo seus sistemas por menos. O preço do […]

Há pelo menos dez anos, só duas empresas cobram dos consumidores por seu sistema operacional: Microsoft e Apple. As alternativas baseadas em Linux – incluindo o Chrome OS, do Google – sempre foram gratuitas, assim como o FreeBSD.

No entanto, Microsoft e Apple vêm, pouco a pouco, oferecendo seus sistemas por menos. O preço do OS X caiu de US$ 30 para US$ 20 na versão Mountain Lion. O Windows 8 foi oferecido como atualização a um preço excepcionalmente baixo: R$ 69 (até R$ 29, dependendo do caso).

Este ano, os preços caíram ainda mais, e chegaram a zero. Esta semana, o OS X Mavericks se tornou um download gratuito. O Windows 8.1 também é, mas só para quem já tinha a versão 8.0; senão você precisa pagar R$ 410. Ou seja, a Microsoft agora é a única empresa que cobra pelo sistema operacional – mas isso poderia mudar.

(Obviamente, estamos falando aqui apenas sobre OS para consumidores. Para clientes corporativos, as opções pagas ainda são muitas: IBM z/OS, RedHat Enterprise, QNX Neutrino RTOS e outros dos quais talvez você nunca tenha ouvido falar.)

Grátis é fácil… para a Apple

osxmavericksfree

Em se tratando de consumidores, a Apple sinalizou que não deve mais cobrar pelo sistema operacional. “Grátis é bom”, diz Craig Federighi, vice-presidente da Apple. Na keynote de lançamento, ele anunciou que esta é “uma nova era para os Macs”. A atualização é gratuita para todos os que rodam Snow Leopard (lançado em 2009), e o Mavericks funciona em qualquer Mac lançado a partir de 2007.

Como nota Austin Carr, da Fast Company, a Apple “colocou o preço do sistema operacional para desktop em linha com seu OS móvel”. Se você não paga para atualizar o iPhone, por que pagar para atualizar o Mac? E para a Apple, o benefício de manter seus produtos atualizados – seja um celular ou laptop – é semelhante. Além de aumentar a segurança, isso garante a compatibilidade de apps: desenvolvê-los apenas para o OS X/iOS mais recente não será problema.

Isso, no entanto, é um problema para a Microsoft. 77% dos usuários ainda estão no Windows 7 ou XP. O Windows 8 chegou a apenas 8% dos usuários. Os apps Metro só funcionam na versão mais recente do sistema. Para aumentar esse market share, a Microsoft poderia oferecer o Windows 8.x de graça? Não é tão fácil assim.

Oferecer o OS X de graça não é traumático para a Apple porque ela não é uma empresa que depende de vender software. Ela ganha alguns milhões com isso, claro, porém há muito mais dinheiro em jogo na venda de hardware – iPhones, iPads e Macs.

Na Microsoft, por sua vez, o Windows ainda rende muito dinheiro. Sim, outros produtos se tornam ainda mais importantes: nos tempos do Vista, 47% da receita vinham do sistema operacional; no ano passado, só 25%, segundo a Wired. Mas como a Microsoft deixaria de cobrar por um produto que lhe rendeu US$ 19 bilhões só no ano passado?

É por esse e outros motivos que a Microsoft quer se reposicionar como uma empresa de dispositivos e serviços. A Apple, por sua vez, já é uma empresa de dispositivos e serviços: o OS X é gratuito, mas não o MacBook; e há todo um ecossistema de serviços – iCloud, iTunes, e a própria App Store – para prender o usuário, e para ganhar dinheiro.

A Microsoft, se for esperta, pode fazer algo semelhante. Há algumas alternativas que ela pode explorar, mas a transição não seria fácil.

Windows de graça para alguns

Hands-on: Windows 8.1 Preview.

Além dos empecilhos para a Microsoft que mencionamos antes, é preciso ter em mente que ela não atua sozinha no mercado: ela depende das parceiras de hardware. São as fabricantes que pagam por boa parte das licenças do Windows, e são elas que levam o OS ao mercado.

Por um lado, elas oferecem o Windows “de graça” aos usuários: o valor da licença está embutido no preço. O mesmo vale para o OS X nos Macs. Mas não é disso que estamos falando: não só o OS X é de graça, como todas as atualizações futuras também devem ser.

Por outro lado, os computadores da Apple são muito mais caros que PCs correspondentes. Mas pense: se você comprar um PC high-end e caro, talvez você precise pagar se quiser atualizá-lo para uma futura versão (Windows 9?).

Então por que não garantir aos PCs high-end uma atualização gratuita? Eles teriam direito a receber a próxima grande versão do Windows. A Microsoft poderia oferecer à fabricante uma licença especial do Windows, mais cara, que desse essa garantia de update – e ela seria inclusa em computadores mais caros. Claro, quem comprar um PC mais barato não iria gostar disso.

Windows de graça para todos

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Ou talvez a Microsoft pudesse oferecer o Windows de graça, mas só para o usuário final. Ou seja, você poderia fazer o download de graça, ou comprá-lo na caixinha a preço de custo. No entanto, as fabricantes ainda teriam que pagar se quisessem colocá-lo em PCs novos. O que elas vão fazer, se rebelar e mudar para o Linux? (O Ubuntu ainda tem participação pequena; o Chrome OS seria uma ameaça apenas no low-end.)

Isso iria contra o que a Microsoft faz há anos: acredita-se que ela cobra caro pelo Windows na caixinha para não desestimular a venda de PCs novos. (“Para que trocar de PC, quando eu posso só atualizar e deixar o meu como novo?”) Mas seria essa uma atitude correta na era pós-PC? As vendas de computador já estão baixas. Elas realmente cairiam mais se os usuários pudessem atualizar o Windows sem pagar por isso?

Os clientes corporativos também pagariam por uma licença do Windows, já que ele continua valioso em empresas. Além do mais, a divisão de Servidores e produtos voltados para clientes empresariais – como o Azure – estão se tornando mais importantes para a Microsoft. Dessa forma, ela poderia oferecer o Windows aos consumidores comuns de graça, enquanto lucra das fabricantes e também das empresas. (Nota: o OS X Mavericks Server ainda custa US$ 20.)

E ao fazer isso, a Microsoft expandiria a base de usuários e poderia lucrar com os apps, o que ela já faz na Windows Store: 30% da receita vão para ela (ou 20%, dependendo do caso). Isso também vale para os serviços integrados ao sistema, como Xbox Music e Skype. Obviamente, não é tão fácil assim: por exemplo, usuários do OS X estão acostumados a pagar por apps; no Windows, é bom que haja uma versão gratuita.

Mesmo assim, o potencial é grande, e os números oficiais dão uma boa perspectiva. A Microsoft disse em maio que vendeu 100 milhões de licenças do Windows 8. Até meados do ano passado, a base de usuários do OS X era de 66 milhões. Mais usuários = mais compras de apps = mais $$$. Talvez.

É assim que a Microsoft pode se tornar uma empresa de serviços. E quanto aos dispositivos? É uma aposta mais complicada. Ela tem o Surface; caso ela se dedique pesadamente a ele, talvez provoque as parceiras de hardware. Só que a Microsoft precisa do apoio delas para fazer o Windows vingar. Por isso não dá para liberar o Windows de graça e contar com a venda de Surfaces – alguém tem que pagar para o OS ser feito.

Windows pago (por enquanto)

As sugestões acima podem soar plausíveis ou malucas, dependendo de quem vê. Mas para a Microsoft, elas podem ser desnecessárias – pelo menos por enquanto. Afinal, cobrando pelo Windows ela vendeu 100 milhões de licenças. Claro, isso deve incluir as atualizações a preço baixo, mas por que oferecer de graça se os clientes estão pagando?

O Windows ainda sofre na batalha pela era pós-PC, mas para vencê-la, talvez ser gratuito não resolva a situação. Sim, a Microsoft aparentemente deu desconto no pacote Windows + Office para fabricantes de tablets pequenos (8 polegadas), mas ela ainda recebe dinheiro com isso.

“Em time que está ganhando não se mexe”, diz o ditado. O Windows não está ganhando, mas ainda não perdeu.

E o Office?

Office em tablets.

Ontem, a Apple também anunciou que vai oferecer o pacote iWork de graça para quem comprou um Mac a partir de 1º de outubro. Pages, Numbers e Keynote antes custavam US$ 10 cada. (O Microsoft Office custa a partir de R$ 239, e também está disponível por assinatura.)

Isto não representa, por si só, uma ameaça para o Office: afinal, esses apps já eram baratos e a suíte da Microsoft ainda domina boa parte do mercado. Mas eles reforçam a estratégia da Apple de oferecer um ecossistema completo aos usuários.

O Windows Phone já vem com Office; tablets com Windows RT também. Por que não embuti-lo em PCs novos a um preço mais camarada para as fabricantes? (Ela já faz isso para tablets de 8″.) Oferecê-lo de graça para todos os consumidores seria loucura – nem a Apple fez isso com o iWork – mas seria uma boa forma de estimular a venda de computadores novos se o Windows fosse gratuito.

Cada vez faz menos sentido pagar por um sistema operacional. (Os piratas que o digam!) A Apple acabou de tirar mais uma justificativa para isso. Resta ver o que a Microsoft fará.

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