9/9/9: Para comemorar o dia dos Beatles

[PB: Hoje será lançada a coleção inteira dos Beatles remasterizada, com um belo tratamento gráfico para quem ainda compra CDs. Além disso, o aparentemente genial Beatles: Rock Band chega às lojas. Para matar a ansiedade (a minha, pelo menos: meu jogo não chega em casa tão cedo), vale ler esse ótimo artigo do Jesus Diaz sobre por que Beatles em mono pode ser melhor que em estéreo. Preparados, audiófilos?] George Martin, produtor e arranjador dos Beatles - o famoso "quinto Beatle" - disse uma vez: "Você nunca terá realmente ouvido o Sgt Pepper até escutá-lo em mono." E, ao final de horas de testes de audição, tenho de concordar. É tudo verdade.

[PB: Hoje será lançada a coleção inteira dos Beatles remasterizada, com um belo tratamento gráfico para quem ainda compra CDs. Além disso, o aparentemente genial Beatles: Rock Band chega às lojas. Para matar a ansiedade (a minha, pelo menos: meu jogo não chega em casa tão cedo), vale ler esse ótimo artigo do Jesus Diaz sobre por que Beatles em mono pode ser melhor que em estéreo. Preparados, audiófilos?]

George Martin, produtor e arranjador dos Beatles – o famoso "quinto Beatle" – disse uma vez: "Você nunca terá realmente ouvido o Sgt Pepper até escutá-lo em mono." E, ao final de horas de testes de audição, tenho de concordar. É tudo verdade.

O primeiro artigo que eu consegui publicar na vida foi uma espécie de resenha de Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band. Eu tinha 16 anos na época e, não preciso dizer, era bem ingênuo. Eu não curtia muito "música não-Beatles" com aquela idade, principalmente porque não tinha muito acesso a isso. Só no ano seguinte que tive a chance de comprar discos regularmente, mais ou menos na época que finalmente descolei um som pra mim. Mas naquele tempo, meu mundo musical era só Beatles e lixo pop do rádio nos anos 90. Meu pai tinha o Sgt Pepper e outros discos dos Beatles, junto de compilações de rock clássico, como Chuck Berry e o maldito Kansas. E esse era meu mundo.

Eu não conseguia parar de escutar Sgt. Pepper. Mesmo. Sem parar, eu colocava pra tocar e ouvia até meus ouvidos sangrarem. E depois tocava um pouco mais. Era a versão estéreo, não a mono, e o disco mora comigo desde então. Até que, alguns meses atrás, eu li na The Word – uma revista de música britânica bem boa – que Beatles em mono era – como George Martin havia dito – melhor que os Beatles em estéreo. Aparentemente, os Beatles não davam a mínima para a mixagem em estéreo, só se importavam com mono. Na real, eles tanto não davam a mínima que nem foram às sessões de mixagem em estéreo: uma vez que a versão mono estava pronta, eles deixaram o prédio.

Então eu comecei a procurar pelas gravações. Achar a verdadeira versão mono no mercado era impossível. Isso para não mencionar o fato que eu não tenho um toca-discos mais. Por alguma razão, a empresa dos Beatles também não tinha as versões mono dos álbuns dos Beatles – parece que eles vão relançar isso agora, remasterizado – então eu me meti em servidores de torrent à caça. Não pude achar na primeira tentativa. Achei alguns MP3s, mas queria rips FLAC dos vinis originais. Depois de um tempinho eu desisti, esquecendo dos monoBeatles até a semana de áudio do Gizmodo.

Eu comecei a procurar por eles de novo e consegui MP3s de 192kbps, as quais eu comparei com as versões estéreo de mesmo bit rate. Como Sgt Pepper era o meu disco, comecei a ouvir músicas em pares, com um bom headphone.

Fiquei meio de cara. George Martin estava tão absolutamente certo: as músicas de fatosoam diferentes. Fiquei tão surpreso, que no início meu mundo caiu. "O quê? O quê? Como? WTF?" ficava na minha cabeça o tempo inteiro.

Quando Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, a faixa 1, começou a tocar, minha primeira impressão foi que o som era mais encorpado, tinha mais pancadão que a mixagem estéreo. Bastante mais encorpado, pesado, pela falta de uma palavra melhor. Era como se alguém estivesse batendo em mim com um martelo. Era meio sujo, mas preencheu minha cabeça e me sacudiu de uma maneira que a versão estéreo não tinha feito. 

Então o bom e velho Ringo – meu Beatle favorito – apareceu cantando With a Little Help from my Friends. Mesmo efeito. Pareceu esquisito, mas muito melhor. Eu continuei voltando às versões em estéreo para comparação e, antes de perceber, já estava pensando: "isso soa muito mais fraco. Soa artificial." A separação de instrumentos na direita e esquerda também foi embora. E ouvido depois, agora, a separação parece artificial. Mas ERA artificial, já que estéreo era uma novidade na época: a maioria das pessoas ainda ouvia música em mono e estéreo era a "modernidade tecnológica", a "novidade". Como resultado, os produtores abusaram do recurso, só porque tinham isso disponível, do mesmo jeito que quando o cinema 3D apareceu e tudo era desculpa para disparar flechas, pedras e monstros no público.

Eu realmente gostei de como a versão mono soava – um bocado mais, mesmo conhecendo a versão estéreo até a última batida e nota. Play em Lucy in the Sky with Diamonds: mesmo resultado. O som é mais preciso. O baixo é muito melhor. Novamente a batida mais forte, mesmo sendo uma música tão delicada. Getting Better fica melhor, assim como o resto; Fixing a Hole, She’s Leaving Home, Being for the Benefit of Mr. Kite… Não conseguia parar de ouvir.

Mas isso não foi tudo. Na versão mono você consegue ouvir coisas que não estão na versão em estéreo. E não só ruídos, mas um monte de coisa mesmo. Instrumentos, notas, até letra. Em Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (Reprise) há uma gritaria danada – Lennon despirocando no finalzinho, e os outros no início – coisas que não estão na mixagem estéreo.

Pode ser a novidade de ouvir uma roupagem nova versus algo que eu conheço de cor, mas duvido. Como experiência, gostei muito mais. Tanto que eu estou morrendo de vontade de conseguir versões FLAC de rips dos vinis – ou as versões mono remasterizadas, assim que elas saírem. E mesmo que seu gosto seja diferente, de agora em diante essa será a versão que ficará no meu iPod.

 

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